A transformação digital no setor financeiro não é mais um plano para o futuro, ela está acontecendo agora, redefinindo a maneira como os bancos operam, se relacionam com clientes e inovam para se manterem competitivos.
Fernando Lavrado, superintendente de tecnologia do BNDES, é um dos 100 Tech Informers reconhecidos pelo Itshow. Com mais de 32 anos de experiência, Fernando viu a tecnologia financeira evoluir desde os primórdios da TI até a ascensão da inteligência artificial, blockchain e computação em nuvem. Segundo ele, a grande questão não é apenas adotar novas tecnologias, mas fazer isso de forma estratégica e eficiente.
“A TI, por si só, não transforma nada. O ideal é que a área de negócio tenha maturidade e puxe essa transformação, enquanto a TI atua como copiloto”, explica Fernando. Em outras palavras, inovação não acontece dentro de uma sala isolada de TI, mas sim quando as áreas estratégicas do banco assumem o protagonismo, com a tecnologia funcionando como habilitadora.
Mudança de Cultura: TI Deixa de Ser “Tirador de Tickets”
Para Fernando, um dos maiores desafios na transformação digital é a própria cultura organizacional. Muitas empresas ainda enxergam a TI como um setor operacional, responsável apenas por resolver problemas pontuais, ao invés de um parceiro estratégico.
No BNDES, essa mentalidade se traduziu em uma mudança radical na governança. Em vez de um departamento de TI decidindo quais projetos devem ser priorizados, um colegiado de líderes define coletivamente as iniciativas estratégicas. Isso não apenas distribui melhor as responsabilidades, mas também reduz resistências e aumenta o comprometimento com os projetos.
Computação em Nuvem
Quando se fala em computação em nuvem, muitas empresas apostaram em uma migração acelerada, movendo suas infraestruturas sem planejamento adequado. O resultado? Custos altos e necessidade de retroceder. No BNDES, a estratégia foi diferente.
“Optamos por ir aos poucos, testando e entendendo a maturidade da equipe antes de adotar a nuvem em larga escala.”
Essa abordagem permite que o banco prepare seus times e garanta um controle eficiente, sem comprometer a segurança ou os custos operacionais.
O Impacto da Inteligência Artificial no Setor Bancário
A inteligência artificial já vem sendo utilizada há anos no setor bancário, especialmente em áreas como análise de risco, prevenção a fraudes e segurança cibernética. Mas com a chegada da IA generativa, o cenário mudou drasticamente.
“Pela primeira vez, não é a TI que bate na porta do negócio para falar de uma nova tecnologia. Agora, são as áreas de negócio que vêm até a TI pedindo para explorar a IA.”
Isso tem um lado positivo: acelera a adoção da IA no setor financeiro. No entanto, também traz desafios. Lavrado alerta que nem toda aplicação se beneficia da IA generativa, e os riscos de viés e alucinações do modelo podem ser problemáticos para instituições altamente reguladas, como os bancos.
Blockchain e Tokenização
Outra tecnologia que vem ganhando espaço no setor financeiro é a blockchain. No BNDES, a adoção já acontece há alguns anos, com a criação da Rede Blockchain Brasil (RBB) em parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU) e outras instituições públicas.
“A tokenização da economia será um dos principais avanços do setor financeiro nos próximos anos. Ela traz mais transparência, reduz custos e facilita transações.”
Além disso, o Banco Central do Brasil está avançando com o DREX, a moeda digital brasileira, que será implementada sobre a mesma tecnologia blockchain utilizada na RBB. Essa integração promete facilitar a adoção da tokenização de ativos financeiros no país.
Segurança Digital
A digitalização dos bancos trouxe ganhos significativos, mas também ampliou a superfície de ataque dos hackers. Segundo Lavrado, a segurança cibernética precisa ser encarada como uma cultura organizacional e não apenas como um departamento isolado.
“95% dos ataques cibernéticos começam com phishing, e até pessoas bem informadas podem cair. O problema é que agora os ataques vêm mais sofisticados, sem erros de português e com inteligência artificial imitando comunicações reais.”

No BNDES, a abordagem envolve testes contínuos, treinamentos e penalidades educativas. Funcionários que caem em ataques simulados de phishing são redirecionados para um treinamento obrigatório antes de recuperar o acesso ao sistema.
Computação Quântica
Se a IA já está transformando o setor bancário, a computação quântica promete uma disrupção ainda maior. O problema? O impacto que isso pode ter na segurança digital.
“Toda a criptografia que usamos hoje será inutilizada quando a computação quântica atingir um nível avançado. Bancos e empresas de tecnologia já estão correndo para encontrar novas soluções de segurança.”
Além da cibersegurança, Lavrado destaca que a computação quântica poderá revolucionar a modelagem financeira, permitindo análises muito mais avançadas e complexas.
Como Profissionais de Tecnologia Podem se Preparar?
Com tantas mudanças acontecendo, o que os profissionais de TI e inovação devem fazer para se destacar?
Lavrado aconselha que o segredo está no equilíbrio entre inovação e operação. “Não adianta só inovar se você não consegue manter o dia a dia funcionando. O desafio é ser ambidestro: cuidar do presente sem deixar de pensar no futuro.”
Ele também sugere que os profissionais escolham uma ou duas áreas para se aprofundar, em vez de tentar acompanhar tudo “O volume de novidades tecnológicas é tão grande que, se você tentar ver tudo, acaba paralisado. Escolha um tema, vá fundo e acompanhe o restante de forma estratégica.”
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