Em um setor hospitalar cada vez mais desafiado por restrições orçamentárias e a demanda crescente por serviços de qualidade, a governança de TI e a sustentabilidade emergem como soluções estratégicas. Ademir Henri de Souza, Gestor de Governança de TI no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), possui mais de 15 anos de experiência no setor, sendo reconhecido por sua busca por inovação e eficiência.

Com uma abordagem estratégica e prática, Henri tem apoiado iniciativas que visam melhorar a governança de TI e promover a sustentabilidade no maior complexo hospitalar de saúde pública da América Latina. O HCFMUSP tem adotado soluções tecnológicas que não só buscam otimizar recursos e reduzir custos, mas também melhorar a experiência de pacientes e colaboradores. Em entrevista ao Portal Itshow, Henri compartilhou os desafios enfrentados, as soluções adotadas e os resultados obtidos ao implementar práticas sustentáveis na gestão de TI.

Ao longo deste conteúdo, vamos destacar algumas práticas reais aplicadas em ambientes hospitalares, que servem como exemplos para executivos de TI que desejam liderar transformações sustentáveis.

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) é a maior instituição de saúde da América Latina, sendo uma referência nacional e internacional em assistência, ensino e pesquisa médica. Fundado em 1944, o HCFMUSP conta com um complexo de institutos especializados, unidades assistenciais e mais de 2.400 leitos distribuídos em diversas especialidades. A instituição atende milhões de pacientes anualmente, desempenhando um papel fundamental na saúde pública brasileira.

Com uma infraestrutura complexa e uma demanda crescente, o HCFMUSP tem investido fortemente em inovação e tecnologia para melhorar a qualidade dos serviços, reduzir custos operacionais e otimizar processos.

Sustentabilidade em TI

A transformação no setor hospitalar tem contado com a liderança de gestores de TI e superintendentes vindos do mercado corporativo, que trouxeram uma nova visão estratégica e operacional. Como Henri menciona: “Por volta de 2012, com a nomeação de um Superintendente que foi executivo em grandes empresas de mercado, novas práticas foram implementadas, ajustando o foco para eficiência e sustentabilidade”.

Transformação Digital e Sustentável

Nos últimos anos, hospitais como o HCFMUSP passaram por uma verdadeira revolução digital, a implementação de prontuários eletrônicos, o desenvolvimento de plataformas de telemedicina e a digitalização de documentos impactaram diretamente a rotina hospitalar. Henri detalha essa evolução: “O portal do paciente foi essencial. Hoje ele, o paciente, não precisa vir aqui buscar resultados de exames”.

Antes da pandemia, muitos sistemas hospitalares enfrentavam problemas como a falta de padronização, processos manuais e resistência à digitalização, a pandemia acelerou esse processo, criando uma oportunidade única para romper com sistemas tradicionais e arcaicos. A urgência do momento impulsionou soluções criativas, como a implementação de prontuários eletrônicos e telemedicina, que hoje funcionam tanto para o hospital, ao reduzir custos e otimizar recursos, quanto para o paciente, proporcionando mais agilidade e acessibilidade nos atendimentos.

As Práticas de Sustentabilidade em TI

A implantação da Certificação ISO9001 nos processos de TI tem sido uma das grandes apostas no HCFMUSP, a implementação começou com a identificação dos principais gargalos nos processos, que eram descentralizados e pouco documentados. Como Henri explicou, “Antes, o pedido vinha de qualquer lugar, em conversas informais, algumas vezes sem registro, e que por vezes uma conversa de corredor, para o usuário já tinha se tornado um projeto”

A primeira fase envolveu o mapeamento dos processos de TI, incluindo desde a abertura de demandas até a entrega final. Os principais desafios incluíram resistência inicial das equipes, que estavam acostumadas a procedimentos mais livres, e a necessidade de capacitação constante. Henri detalha: “Foi um trabalho intenso. Nós tivemos que treinar todos e criar uma cultura de registro e padronização. Agora, cada solicitação tem um padrão, um fluxo e um prazo definido”.

Hoje, com a Certificação ISO9001 implementada na TI, os processos estão mais transparentes, auditáveis e eficientes, a comunicação entre as áreas melhorou significativamente, e os retrabalhos caíram em torno de 20%. Além disso, as demandas são priorizadas conforme a relevância e urgência, garantindo um uso mais eficaz dos recursos de TI. Com ela, a governança de TI tornou-se mais estruturada, permitindo a padronização de processos e o aprimoramento das entregas.

Ao mesmo tempo, a digitalização de serviços trouxe impactos positivos e que são visíveis, com o portal do paciente, consultas e exames puderam ser acessados online, eliminando deslocamentos desnecessários. É uma mudança simples, mas que gera economias significativas para os pacientes e para a gestão hospitalar.

Outro ponto de destaque é o controle de impressão, com a introdução de outsourcing, essa medida resultou em uma redução nos custos com cartuchos e manutenção, além de uma economia de energia. Agora, com a adoção do outsourcing e o monitoramento, a utilização é mais controlada e muito mais eficiente. “No passado, cada secretária possuía uma impressora ao lado, gerando alto custo com cartuchos, energia e manutenções desnecessárias. Hoje com as impressoras em rede e compartilhadas foi possível a otimização dos recursos e o monitoramento da utilização dos equipamentos e dos insumos.”

Já a telemedicina, adotada amplamente durante a pandemia, veio para ficar, afinal a possibilidade de realizar consultas remotas reduziu drasticamente o fluxo de pacientes nas instalações físicas. Henri comenta: “A Telesaúde veio para otimizar, ajudar e melhorar o atendimento. Você evita o deslocamento do paciente e gera economia para todos”

Por fim, a implantação do PDTI é um ponto central para a sustentabilidade em TI. O Plano Diretor de TI, realizado anualmente, traz previsão orçamentária, priorização de projetos e um alinhamento com as demandas reais dos gestores. Henri menciona a organização promovida por esse plano: “Temos um comitê mensal que avalia resultados, ajusta os projetos e garante o foco no que realmente importa”.

A Maturidade do Setor e Realidades Diferentes

Apesar dos avanços, o setor hospitalar ainda enfrenta desafios estruturais, especialmente em regiões mais afastadas. Henri faz um contraponto importante: “Enquanto nós aqui estamos falando de interoperabilidade, prontuário eletrônico e portal do paciente, temos espalhados pelo Brasil unidades de saúde básica que ainda usam papel,
e sofrem pela falta de recursos”.

A Dificuldade de Investimento Financeiro para Hospitais Públicos

A realidade dos hospitais públicos no Brasil é marcada por desafios financeiros significativos. A falta de recursos limita investimentos em infraestrutura, tecnologia e qualificação profissional. Como destaca Henri: “Muitas vezes, nós temos projetos prontos, mas esbarramos na falta de verba para implementá-los. O desafio é priorizar aquilo que gera o maior impacto com o menor custo, e trazer benefícios para o usuário do sistema de saúde”.

Esse cenário exige planejamento para que soluções sustentáveis possam ser aplicadas mesmo com orçamentos reduzidos. Projetos como a digitalização de prontuários eletrônicos, controle centralizado de impressões e a telemedicina, embora eficazes, dependem de investimentos iniciais que nem sempre estão disponíveis.

Henri ressalta que pequenas melhorias já fazem diferença: “Não precisa ser tudo de uma vez. Pequenos passos, desde que bem planejados, vão trazendo resultado e abrindo espaço para novos investimentos”.

A sustentabilidade em TI no setor hospitalar exige planejamento e ações graduais, no HCFMUSP, pequenas mudanças têm gerado resultados significativos, como a redução de custos, a melhora na experiência dos pacientes e a eficiência operacional.

Como Henri conclui: “Não é preciso esperar um plano perfeito. Pequenas doses de inovação já trazem grandes resultados”. Esse pensamento reflete as principais práticas discutidas: a padronização promovida pela Certificação ISO9001, a digitalização dos prontuários, com o a implantação do portal do paciente, o controle eficiente de impressões, a expansão da telemedicina e a implementação de um PDTI.

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