Grupo coordenado pelo Brasil debate metas ambientais para redes móveis e destaca iniciativas em alertas de emergência e recondicionamento de equipamentos.
BRICS avançam em proposta conjunta para redes móveis sustentáveis
Sob a presidência rotativa do Brasil, os países que compõem o bloco dos BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, além de novas nações como Egito — estão intensificando os debates sobre diretrizes ambientais para o setor de telecomunicações. As discussões, centradas na regulamentação sustentável das redes 5G e no futuro 6G, buscam alinhar políticas de eficiência energética, economia circular e resposta a emergências climáticas. A proposta é considerada estratégica para o futuro digital e verde do bloco.
No centro das negociações está um documento técnico coordenado pelo Ministério das Comunicações (MCom), que vem sendo elaborado com a contribuição dos dez países membros. O Brasil é responsável pela versão inicial do texto, que será debatida e refinada até a reunião ministerial do grupo, prevista para junho deste ano.
Segundo Jefferson Nacif, chefe da Assessoria Internacional do MCom, a proposta brasileira enfatiza a redução de emissões de carbono, o consumo eficiente de energia nas infraestruturas de telecom e o descarte adequado de resíduos eletrônicos — fatores que ganham importância diante da crescente demanda por conectividade e digitalização.
Iniciativas nacionais ganham destaque no debate internacional
Durante o evento Green Digital Action, realizado em Brasília no dia 2 de abril, autoridades brasileiras apresentaram experiências concretas já em operação. Um dos cases mais elogiados foi o sistema de alertas de emergência via Cell Broadcast, implementado pela Anatel em parceria com a Defesa Civil Nacional. Desde dezembro de 2024, o serviço está ativo nas regiões Sul e Sudeste, permitindo o envio de notificações automáticas e georreferenciadas para celulares em áreas de risco — inclusive quando os dispositivos estão em modo silencioso e sem necessidade de cadastro prévio.
Outro exemplo destacado foi o programa Computadores para Inclusão, também do MCom. Em atividade desde 2012, o projeto já recondicionou e distribuiu mais de 58 mil equipamentos para 4,6 mil pontos de inclusão digital, em cerca de mil municípios brasileiros. A iniciativa conta com 26 Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs), responsáveis tanto pelo descarte sustentável de resíduos eletrônicos quanto pela capacitação profissional de mais de 51 mil jovens e adultos.
Sustentabilidade ganha espaço nos padrões internacionais de redes
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) também trouxe contribuições relevantes ao debate. A autarquia ressaltou que a sustentabilidade já começa a ser incorporada aos frameworks internacionais para redes móveis — como é o caso do modelo de referência para o 6G aprovado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) em 2023. Esse modelo prevê metas rigorosas de consumo energético por bit transmitido, visando minimizar o impacto ambiental das futuras infraestruturas de conectividade.
Além dos impactos ambientais negativos (o chamado footprint), os representantes brasileiros também chamaram atenção para os benefícios ambientais indiretos das TICs (o chamado handprint), como sua aplicação no monitoramento climático, na prevenção de desastres naturais e no suporte à tomada de decisão em políticas públicas ambientais.
Participação global e visibilidade estratégica
Outros países-membros dos BRICS também trouxeram experiências relevantes. A China compartilhou suas políticas de transição para uma economia de baixo carbono e os avanços em padrões verdes aplicados à indústria de telecom. A África do Sul apresentou estudos de caso sobre economia circular aplicada às redes móveis, enquanto o Egito destacou incentivos para operadoras que utilizam fontes renováveis como energia solar e eólica. Já a Índia contribuiu com exemplos de inovação regulatória voltada à redução do impacto ambiental das grandes infraestruturas digitais.
Além das redes móveis, o grupo também discute temas emergentes como a sustentabilidade espacial, com foco na mitigação de detritos orbitais e na coordenação internacional do uso de frequências. Essa agenda está sendo construída em articulação com organismos como a UIT e o Comitê das Nações Unidas para o Uso Pacífico do Espaço Exterior (COPUOS).
Próximos passos: da agenda do BRICS à COP30
A proposta ambiental coordenada pelo Brasil está inserida na agenda oficial da presidência brasileira no grupo de TICs dos BRICS em 2025, e deve ter papel estratégico nas negociações internacionais sobre clima e tecnologia.
A expectativa é que os resultados consolidados das discussões sejam levados à reunião ministerial do BRICS, prevista para junho, e também apresentados durante a COP30, que acontecerá em Belém do Pará. Com isso, o Brasil se posiciona como protagonista na definição de políticas sustentáveis para o futuro digital global — equilibrando inovação, inclusão e responsabilidade ambiental.
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