28.4 C
São Paulo
sexta-feira, maio 9, 2025
InícioColunistasA sabedoria das formigas: como redes mesh inteligentes podem revolucionar a internet...

A sabedoria das formigas: como redes mesh inteligentes podem revolucionar a internet das coisas?

Quem aqui nunca brincou com um formigueiro e o exército de formigas que entra e sai dele o tempo todo? Se colocarmos uma barreira no caminho delas, provavelmente elas irão se adaptar, estabelecendo uma nova rota.

Pense nisso como algo que não tem um comando central, nem ponto único de falha, apenas a sabedoria coletiva das formigas fervilhando em ação. Instinto de sobrevivência que fala, né? Este é o princípio que inspira as redes Mesh Inteligentes – uma revolução silenciosa que pode redefinir como conectamos o mundo das coisas.

Em um piscar de olhos, chegaremos a uns 30 bilhões de dispositivos conectados globalmente. Então, a pergunta está deixando de ser “como conectar?”, para “como conectar de forma resiliente, eficiente e autônoma?”. A resposta pode estar não nas formigas, mas sim nas redes mesh inteligentes, uma arquitetura que converte cada dispositivo, de outrora endpoint, em parte ativa da infraestrutura de comunicação.

Formigas e seus caminhos – Fonte: Vecteezy (photo_dang5537168)

Redes mesh inteligentes: a nova topologia da internet das coisas

Imagine uma colônia de formigas reconstruindo instantaneamente seu caminho quando você coloca um obstáculo em sua trilha. Sem comando central, sem ponto único de falha, apenas inteligência coletiva em ação. Este é o princípio que inspira as redes mesh inteligentes – uma revolução silenciosa que está redefinindo como conectamos o mundo das coisas.

Em um planeta que caminha rapidamente para 30 bilhões de dispositivos conectados, a pergunta não é mais “como conectar?”, mas “como conectar de forma resiliente, eficiente e autônoma?”. A resposta pode estar nas redes mesh inteligentes, uma abordagem que transforma cada dispositivo em parte ativa da infraestrutura de comunicação.

Copia de 85810000003 0 17430328242 8 74071824261 4 39649335308 2 2
Uma rede de roteadores mesh e sensores – Fonte: thietbigiare.net

O que são redes mesh Inteligentes?

Uma rede mesh inteligente é uma topologia onde dispositivos (nós) se comunicam diretamente entre si, criando múltiplos caminhos para os dados. Pense no desenho de uma rede mesh como se fosse uma teia de aranha, onde cada ponto tem diversos caminhos para pontos vizinhos.

Tal característica, por si só, já é diferente das redes tradicionais com pontos centrais de distribuição. Cada dispositivo em uma rede mesh pode retransmitir informações para outros, formando uma malha dinâmica de conectividade.

O que as torna “inteligentes” e sua malha de comunicação dinâmica é sua capacidade de auto-organização, autocura e adaptação. Quando um nó da rede falha, ela se reconfigura automaticamente, reorganizando os caminhos por onde os fluxos de dados passarão (Alô, rodovia das formigas e nossas brincadeiras!). Quando um novo dispositivo aparece, ele é integrado nessa topologia sem intervenção humana. Algoritmos sofisticados com IA e Machine Learning determinam constantemente os melhores caminhos para os dados, considerando eventos e características como gargalos, congestionamentos, energia disponível e qualidade do sinal.

Onde as redes mesh são protagonistas?

As redes mesh inteligentes encontram seu habitat natural em cenários com estas características:

  • Ambientes Densos de Sensores: Em fábricas modernas, edifícios inteligentes ou estufas agrícolas, centenas de sensores precisam comunicar-se em espaços relativamente pequenos. A malha mesh permite comunicação eficiente sem infraestrutura centralizada massiva.
  • Áreas de Difícil Acesso: Minas subterrâneas, florestas remotas, linhas férreas ou complexos industriais onde a instalação de infraestrutura tradicional é proibitiva. Cada dispositivo expande a rede adiante, facilitando a cobertura progressiva.
  • Aplicações Críticas Locais: Sistemas de segurança residencial, monitoramento médico domiciliar, automação industrial onde a dependência de conectividade externa ou com pontos únicos de falha representa risco. Uma rede mesh continua operando mesmo se a conexão com a internet for interrompida ou a falha de um dos nós.
  • Implementações Urbanas Distribuídas: Iluminação pública inteligente, monitoramento ambiental e gestão de estacionamentos, onde dispositivos podem formar uma rede cooperativa que reduz custos de infraestrutura. Uma rede mesh evita a implantação de diversos pontos de acesso a uma rede celular sob um custo relevante de assinatura mensal.
  • Redes Emergenciais Temporárias: Em desastres naturais ou eventos de grande porte, redes mesh podem ser implantadas rapidamente, criando comunicação onde a infraestrutura tradicional foi comprometida.

Onde as redes celulares seguem imprescindíveis?

Apesar de suas vantagens, as redes mesh não são a solução universal. Cenários que exigem redes móveis 4G/5G incluem:

  • Alta Mobilidade com Grande Abrangência: Veículos autônomos, logística de longa distância ou rastreamento de ativos em movimento rápido por grandes áreas. By design, a mobilidade e a ampla cobertura das redes celulares são insubstituíveis.
  • Aplicações de Altíssima Largura de Banda: Transmissão de vídeo em alta definição, telemedicina com imagens diagnósticas ou realidade aumentada industrial, que exigem a capacidade das redes 5G.

Inspirado pelo ponto anterior, faço uma pausa nessa lista para deixar aqui no meio do texto a chamada: entenda o caso de uso primeiro para depois buscar a solução de conectividade ideal!

  • Implementações com Poucos Dispositivos Distantes: Quando sensores não são necessários em grandes quantidades e distantes entre si (como em algumas aplicações agrícolas extensivas – máquinas agrícolas e estações meteorológicas), a rede mesh perde eficiência pela falta de nós intermediários.
  • Casos que Requerem Baixíssima Latência: Aplicações críticas como cirurgia remota ou sistemas de segurança industrial onde milissegundos fazem diferença vital. As redes 5G URLLC (Ultra-Reliable Low-Latency Communication) são projetadas especificamente para estes casos.

O futuro é híbrido

Depois de explicar quando as redes mesh podem ser uma solução melhor que as redes celulares e também o contrário, o final desse artigo só poderia ser uma junção desses mundos em uma arquitetura híbrida. Não é verdadeiro que as redes mesh vêm para substituir as tecnologias celulares e sim para complementá-las.

O futuro com arquiteturas híbridas inteligentes, onde redes mesh locais auto-organizadas interagem com redes 5G para criar um ecossistema verdadeiramente resiliente, é um cenário bastante possível.

Voltando às formigas que habitam nossos jardins e que sempre vejo nas minhas trilhas de mountain bike, vemos que elas não apostam em um único caminho, mas em múltiplas rotas adaptativas. Quando enfrentam um problema, não esperam por uma solução centralizada – cada formiga vira parte da solução.

É hora de perguntarmos: em nossos projetos de IoT, estamos pensando como ecossistemas inteligentes ou ainda estamos presos à mentalidade da torre central? A natureza, que tem bilhões de anos de experiência em redes distribuídas, tem muito a nos ensinar sobre resiliência e eficiência.

Precisamos repensar nossos sensores de IoT e, nos casos em que se aplique, alterar o desenho de conectividade dos rádios ponto a ponto, Wi-Fi, 4G, 5G, BLE para ponto-multiponto, Thread, Zigbee, LoRaMesh, WirelessHART, Bluetooth Mesh, entre outros.

Talvez o próximo grande avanço em conectividade não venha de mais antenas poderosas, com mais velocidade e menos latência, e sim da nossa capacidade de criar soluções tecnológicas que, como as formigas, sabem que a verdadeira força está na inteligência coletiva e na adaptabilidade. As redes mesh inteligentes podem trazer essa sabedoria biológica e ancestral para a era digital.

Resta a nós termos a humildade de aprender com o que consideramos simples para resolver os desafios que rotulamos cada vez mais como complexos. Faz sentido essa provocação para você?

EXTRA: De onde veio a inspiração das formigas e redes mesh inteligentes?

Algumas semanas atrás, fiz uma viagem de bicicleta sozinho por 1.165km, passando por 54 cidades em 15 dias. No penúltimo dia, tive a companhia do amigo TIBIRICA IMMESE no trecho entre Aparecida e São José dos Campos–SP. Perto de Caçapava–SP, paramos para descansar na frente de uma fábrica. Lembro que tinha um formigueiro com várias rotas de formigas que estavam tanto em uso, que já não tinha vestígios de vegetação nas rotas. Comentamos sobre a dinâmica desses caminhos, mas infelizmente não tirei uma foto. Ficou apenas a memória que se somou ao assunto de redes mesh e resultou nesse artigo.

Siga o Itshow no LinkedIn e assine a nossa News para ficar por dentro de todas as notícias do setor de TI e Telecom!

Mauro Periquito
Mauro Periquito
Engenheiro de Telecomunicações e Consultor de Tecnologia, com o objetivo de desenvolver e gerenciar projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em sua trajetória profissional, tem como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
Postagens recomendadas
Outras postagens