Confesso que nunca tive o dom para tocar instrumentos ou reger uma orquestra. Como músico, eu me considero um ótimo ciclista! Meu talento musical limita-se a ouvir com um gosto influenciado pela minha jornada pelo mundo. Das modas de viola que ecoavam em terras mineiras nos tempos de faculdade, às explosões rítmicas da salsa que me conquistaram em San Juan, Porto Rico, a música sempre me ensinou algo valioso: a beleza está na harmonia entre elementos diferentes.
Seja no contraponto entre a viola e o violão no sertanejo raiz, ou na dança coordenada entre trombones e congas na salsa, há sempre uma lição sobre como elementos distintos podem criar algo maior que a soma das partes. Foi essa percepção que me fez refletir e enxergar a transformação digital por uma nova perspectiva.
Imagine uma orquestra momentos antes de um grande concerto. O maestro já está no palco, os músicos ajustam seus instrumentos, e você sente aquela tensão no ar. Do outro lado da cortina, o público murmura em expectativa, ansioso para que o espetáculo comece.
Agora, pense na sua empresa prestes a iniciar sua transformação digital. Tudo está preparado para uma grande mudança na forma como o negócio funciona e como as pessoas trabalham. A comparação faz todo sentido: tanto a orquestra quanto a empresa precisam de boa coordenação, diferentes talentos trabalhando juntos e uma visão clara do que querem alcançar. É como se todos estivessem prontos para criar algo especial, só esperando o sinal para começar.
Se você já assistiu a uma orquestra desafinada, sabe o quão desconfortável pode ser. O mesmo acontece com iniciativas de transformação digital mal coordenadas – investimentos desperdiçados, frustração generalizada e, frequentemente, resultados abaixo do esperado.
Com toda essa analogia entre o mundo musical e digital, reflita comigo: qual papel sua organização está desempenhando nessa sinfonia digital? Está na hora de identificar quem são seus músicos, qual a partitura que estão seguindo e, mais importante, se o maestro está conseguindo extrair o melhor de cada instrumento.
Bora descobrir como transformar ruídos isolados em uma harmonia tecnológica que encante seu público e revolucione seu negócio?
O maestro (CIO/CDO/CTO)
Um maestro não toca nenhum instrumento durante a apresentação, mas se não estiver à frente, o resultado da orquestra seria um desastre. O CIO moderno, como viemos discutindo em artigos anteriores, não precisa ser o mais técnico da sala. O que ele realmente precisa fazer é garantir que todos os departamentos estejam trabalhando em harmonia, entender o que o negócio realmente precisa, usar as soluções tecnológicas que sua equipe propõe, e certificar-se de que tudo avance no ritmo certo – seja na hora de implantar novos projetos ou manter os sistemas funcionando no dia a dia.
Se quiser ler um pouco mais sobre os desafios do CIO e as áreas de tecnologia, segue alguns artigos:
- O Dilema do CIO: Entre o Conforto Técnico e o Imperativo Estratégico
- A Nova Era do CIO: De Gestor de Tecnologia a Arquiteto de Transformação Digital
- O Dilema do CIO: Make or Buy? Estratégias para Gestão de Talentos e Conhecimentos em TI.
- A encruzilhada do CIO: eficiência operacional ou disrupção tecnológica?
- Seria o CIO o maestro da Orquestra do TI com o Negócio?
- 10 Métricas que um CIO deve monitorar
Exemplo real: O caso da LEGO, que transformou sua crise financeira em sucesso digital sob a liderança visionária de Jørgen Vig Knudstorp, que foi o maestro da transição da empresa para além dos blocos físicos – produto principal da empresa, enxugando o portifólio e incorporando produtos digitais como filmes e jogos.
Os instrumentos de cordas (equipe de TI)
Eles são a espinha dorsal da orquestra, porque mantêm o ritmo e a estrutura. A equipe de TI é quem sustenta a infraestrutura digital, estabelece a arquitetura tecnológica, implanta novos projetos e mantém os sistemas em funcionamento.
Como os violinos numa orquestra, a equipe de TI desempenha dois papéis fundamentais: às vezes precisa apenas dar sustentação à melodia principal – cuidando da infraestrutura básica e mantendo tudo funcionando nos bastidores.
Em outros momentos, porém, precisa adicionar nuances e complexidade à música – propondo soluções inovadoras e participando ativamente das decisões estratégicas. Os profissionais de TI modernos precisam transitar com facilidade entre esses dois papéis: manter o básico funcionando perfeitamente enquanto contribuem com ideias que possam transformar o negócio.
Os instrumentos de sopro (marketing e experiência do cliente)
Trazem cor e textura para a performance da orquestra. Como os instrumentos de sopro, as equipes de marketing e experiência do cliente transformam tecnologias complexas em benefícios que encantam os usuários. São os tradutores que convertem o mundo técnico em valor tangível. Esta é a nova realidade do TI: não mais restrito aos bastidores, agora define produtos, molda experiências e cria conexões emocionais com os clientes.
Exemplo: O Nubank mudou o setor bancário brasileiro – que parecia ser algo muito bem consolidado, não apenas com tecnologia robusta, mas com uma obsessão pela experiência do cliente.
A percussão (dados e analytics)
Define o ritmo e adiciona dramaticidade. Os sons de percussão vêm de diversas fontes que podem alterar completamente a melodia. O mesmo acontece com os dados que podem ser capturados de diversas fontes dentro de uma organização. As equipes de dados são responsáveis por capturar insights que direcionam a transformação e medem seu impacto.
Metáfora: “Como um bom percussionista que sabe quando intensificar ou suavizar, os analistas de dados precisam entender não apenas o quê os dados mostram, mas também o seu ‘por quê’ e ‘e daí?'”
Os solistas (inovadores e early adopters)
Quando eles entram em cena numa orquestra, presenciamos momentos de grande talento que elevam a performance. São os campeões da transformação, que testam novas ideias e inspiram as equipes. Inovação é tema central em programas de transformação digital e contar com motores que guiem as organizações nesse sentido é essencial.
A partitura (estratégia digital)
Uma orquestra sem partitura é apenas ruído organizado. A estratégia digital clara é o que transforma esforços isolados em uma sinfonia coerente. Nas organizações, o planejamento estratégico e o plano diretor de TI devem ter claramente uma conexão e comunicar de maneira clara os caminhos a se seguir.
Este é o ponto de virada!
Há um segredo nessa sinfonia que muitas empresas não percebem: ao contrário de uma orquestra tradicional, na transformação digital, os músicos corporativos precisam trocar frequentemente de instrumentos e, às vezes, até mesmo ajudar a compor a música enquanto a tocam, já que a melodia não é linear. Portanto, diferente de uma orquestra, que exige um alto nível de especialização dos músicos, na sonata corporativa, a versatilidade gera valor.
Algumas lições práticas:
- Ensaios são essenciais: executar projetos-piloto antes de implementações completas.
- Afinação constante: feedback contínuo e ajustes ágeis. Insistir em um caminho ruim pode custar muito caro.
- Saiba quando o solo termina: equilíbrio entre iniciativas de curto e longo prazo e entre a inovação e o legado.
- Nem toda nota está na partitura: o inesperado pode surpreender de maneira positiva portanto precisamos ter espaço para improvisação e inovação.
- Aplausos são para todos: celebrar conquistas coletivas, não apenas feitos individuais.
Uma orquestra verdadeiramente magistral não é apenas aquela com os melhores músicos individuais, mas a que consegue criar uma experiência que transcende a soma das partes. Da mesma forma, a transformação digital bem-sucedida não é sobre ter as tecnologias mais avançadas, mas sobre como elas se harmonizam para criar valor real.
Lembre-se: numa orquestra, um único instrumento desafinado pode comprometer toda a performance, enquanto um músico extraordinário tem o poder de elevar a experiência inteira. O mesmo princípio se aplica à sua jornada de transformação digital.
Então, reflita: qual instrumento você está tocando na orquestra digital da sua organização e como pode contribuir para tornar esta sinfonia ainda mais harmoniosa? Está na hora de afinar? Vamos fazer um dueto nos comentários!
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