A crescente adoção da inteligência artificial generativa (GenAI) por operadoras regionais de internet exige um novo tipo de liderança em segurança da informação. O papel do CISO, Chief Information Security Officer, torna-se fundamental não apenas para proteger a infraestrutura crítica, mas para garantir que o uso da GenAI esteja em conformidade com normas, políticas internas e limites éticos.
Nos ISPs regionais, onde a estrutura tende a ser mais enxuta, o desafio está em equilibrar inovação com controle. A GenAI oferece ganhos tangíveis em atendimento, automação, análise de rede e comunicação com clientes. No entanto, também amplia a superfície de exposição a riscos técnicos, jurídicos e reputacionais.
A governança responsável da GenAI depende de processos claros, validação multidisciplinar e supervisão contínua. A seguir, detalhamos os principais pontos que devem orientar os CISOs nesse novo cenário.
1. Inventário dos usos de GenAI na organização
Antes de governar, é preciso enxergar. O primeiro passo para um CISO é identificar onde e como a GenAI está sendo utilizada dentro da empresa. Isso inclui não apenas soluções oficiais, mas também ferramentas que surgiram espontaneamente nas áreas de marketing, atendimento ou tecnologia, o que caracteriza o uso de shadow AI.
Sem esse mapeamento, decisões são tomadas em silos, ferramentas são adotadas sem revisão e dados sensíveis podem ser utilizados fora dos padrões exigidos por compliance. Criar um inventário claro, com responsáveis e escopo de uso, é o ponto de partida para um controle eficaz.
2. Mapeamento e classificação dos dados processados
Grande parte dos riscos da GenAI está na forma como os dados são usados para alimentar modelos ou gerar conteúdo. O CISO deve conduzir uma análise detalhada sobre os tipos de dados utilizados: logs de rede, informações de clientes, contratos, senhas, endereços IP, entre outros.
Essa etapa envolve classificar os dados segundo critérios como confidencialidade, sensibilidade e necessidade de anonimização. Qualquer dado pessoal tratado pela IA deve obedecer à LGPD, especialmente se for armazenado em nuvem ou repassado a parceiros tecnológicos.
3. Logging e rastreabilidade das interações com IA
Governança sem rastreabilidade é ilusória. Toda interação com modelos generativos, sejam internos ou por APIs de terceiros, deve ser registrada com data, hora, autor e contexto.
Esses registros servem como proteção contra usos indevidos, mas também são valiosos para auditoria, análise forense e melhoria contínua. A recomendação é que os logs da GenAI façam parte do mesmo ecossistema de segurança da informação já monitorado pelo CISO.
4. Definição de limites técnicos e funcionais
A flexibilidade da GenAI é uma de suas maiores virtudes e também um risco. Modelos mal configurados podem responder com dados confidenciais, executar comandos perigosos ou tomar decisões fora do escopo esperado.
O CISO precisa trabalhar com as áreas técnicas para implementar limites operacionais. Isso inclui travas para comandos críticos, filtros para temas sensíveis, proteção contra prompt injection e validação obrigatória para determinadas classes de interação.
Esses limites não inibem a inovação. Eles a tornam segura.
5. Estabelecimento de processos de aprovação
A adoção de GenAI não pode ser informal. Qualquer novo uso deve seguir um fluxo validado que inclua análise de riscos, revisão jurídica e homologação técnica.
Esse processo pode ser ágil e proporcional à complexidade do uso. Um chatbot para responder perguntas frequentes pode ser aprovado rapidamente. Já um modelo que acessa dados de clientes precisa de revisão completa. O importante é que exista método, e não improviso.
6. Capacitação de usuários e desenvolvedores
A governança da GenAI também é educacional. Equipes que interagem com a IA precisam saber como escrever prompts seguros, interpretar respostas com criticidade e reconhecer erros comuns da IA, como alucinações, viés ou linguagem inadequada.
Da mesma forma, desenvolvedores e integradores devem entender os riscos de integrar modelos abertos à infraestrutura de rede. A capacitação contínua evita que a IA seja mal utilizada ou usada com confiança cega.
7. Criação de um comitê de governança de IA
Mesmo em operadoras regionais, com estruturas mais enxutas, a governança da GenAI se beneficia de um comitê formalizado. Esse grupo deve incluir o CISO, representantes do jurídico, TI, atendimento e, se possível, liderança de produto ou inovação.
A missão desse comitê é revisar novos usos, avaliar incidentes, propor ajustes e garantir que a empresa mantenha uma visão sistêmica sobre o uso da GenAI.
Com reuniões periódicas e registro de decisões, o comitê cria uma camada de responsabilidade compartilhada e reduz a dependência de decisões isoladas.
Conclusão: o CISO como orquestrador da confiança
A GenAI está se tornando parte do cotidiano das operadoras de internet. Sua adoção pode gerar ganhos significativos, desde que a segurança, o compliance e a integridade da informação estejam no centro das decisões.
O CISO deve assumir um papel estratégico, coordenando a interação entre inovação e controle. Ele não é mais apenas o guardião da infraestrutura, mas o facilitador da confiança em um ambiente onde os sistemas pensam, falam e decidem.
Operadoras regionais que estruturarem essa governança desde já estarão mais preparadas para competir, escalar e sustentar sua reputação em um mercado onde tecnologia e responsabilidade precisam caminhar juntas.
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