A sustentabilidade deixou de ser um tema periférico nas empresas e se tornou pauta estratégica para conselhos e alta liderança. Em um cenário em que mudanças climáticas, desigualdade social e pressão regulatória moldam os negócios, os CIOs (Chief Information Officers) emergem como protagonistas na transformação rumo a operações de baixo carbono. Mais do que nunca, a tecnologia corporativa não apenas habilita a eficiência e a inovação, mas também se tornou uma das maiores fontes de emissões de Escopo 2, chegando a representar até 45% desse total nas organizações.
Ao mesmo tempo, as áreas de TI concentram os recursos ideais para monitorar e reduzir impactos ambientais. Com acesso a dados, infraestrutura crítica e capacidade de digitalização, os CIOs estão em posição única para alinhar a sustentabilidade à transformação digital, promovendo crescimento, eficiência e responsabilidade social em paralelo.
Por que sustentabilidade é agora uma pauta do CIO
Segundo George Michalitsianos, vice-presidente de Segurança da Informação da Ansell, a transição para uma operação mais sustentável exige ações em múltiplos níveis, do tático ao estratégico. “Há medidas tradicionais que a TI pode adotar, como reduzir o lixo eletrônico e reciclar dispositivos. Mas, em um nível mais amplo, estamos usando inteligência artificial para calcular emissões, monitorar processos e aumentar a eficiência”, explica.
Essa mudança de mentalidade reflete uma nova era para os líderes de TI. Com o avanço de tecnologias energicamente intensivas, como a inteligência artificial generativa, os CIOs não podem mais se dar ao luxo de atuar apenas como facilitadores de processos digitais. A tecnologia é parte do problema e, simultaneamente, a chave para a solução.
Sergio Tagliapietra, VP de TI de uma marca global de moda, reforça esse desafio:
“Se definirmos sustentabilidade como uso responsável de recursos, a ascensão da IA generativa representa uma preocupação imediata. Mas acredito que, no longo prazo, essas tecnologias podem liberar níveis inéditos de eficiência.”
Do data center à estratégia corporativa: o poder da TI verde
Com a digitalização acelerada, a infraestrutura de TI se tornou uma das maiores consumidoras de energia nas corporações. Data centers, redes, soluções em nuvem e processamento de IA são intensivos em eletricidade, especialmente quando combinados a demandas de alta disponibilidade e baixa latência.
A boa notícia é que os CIOs já detêm as principais alavancas para atacar esse problema. Ao aplicar princípios de TI sustentável, é possível:
- Reduzir consumo energético com otimização de data centers e migração para nuvens mais eficientes;
- Minimizar e-lixo por meio de políticas de reaproveitamento e reciclagem de hardware;
- Aumentar a eficiência de processos via automação e análise de dados;
- Monitorar e reportar emissões em tempo real, transformando TI em aliada estratégica do ESG.
O papel do CIO não é se tornar especialista em clima, mas compreender o impacto da infraestrutura sob sua gestão e conectar dados de TI a métricas de sustentabilidade corporativa.
Lições da Fórmula 1: alta performance com menor impacto ambiental
Um exemplo prático de como tecnologia e sustentabilidade podem caminhar juntas vem da Fórmula 1. Tradicionalmente dependente de equipes técnicas viajando para 24 corridas em cinco continentes, o esporte foi forçado pela pandemia a repensar seu modelo. Com a parceria da Tata Communications, migrou para uma produção remota de alto desempenho, capaz de transmitir imagens e dados em tempo real com apenas 200 milissegundos de latência.
Essa transformação reduziu emissões de carbono, cortou custos logísticos e tornou as equipes mais diversas e inclusivas, tudo sem comprometer a experiência do público. Hoje, mesmo com o retorno às competições presenciais, grande parte da operação permanece remota, consolidando um modelo mais sustentável e resiliente.
Dino Trevisani, VP e head da Tata Communications nas Américas, resume a lição para os CIOs:
“Com a mentalidade certa, é possível reduzir emissões e melhorar a inclusão sem abrir mão do desempenho. A Fórmula 1 provou que eficiência e sustentabilidade podem andar juntas.”
Medir, inovar e transformar: o tripé da TI sustentável
Nem toda organização organiza eventos globais, mas todo CIO pode se inspirar em modelos como o da Fórmula 1 para reavaliar processos presenciais e digitais. O caminho para integrar sustentabilidade à TI passa por três pilares principais:
1. Medir tudo
Visibilidade é poder. Ferramentas de análise e monitoramento em tempo real permitem acompanhar consumo de energia, emissões e eficiência da infraestrutura. Esses dados embasam relatórios ESG e transformam metas em ações concretas.
2. Inovar com propósito
A adoção de inteligência artificial, automação e soluções em nuvem deve considerar não apenas ganhos operacionais, mas também impacto ambiental. Projetos de transformação digital que já nascem com viés sustentável geram valor econômico e social.
3. Transformar processos
Questionar o que realmente precisa ser presencial é fundamental. A digitalização de processos administrativos, a centralização de operações críticas e a produção remota são exemplos de como reduzir pegadas de carbono sem prejudicar resultados.
Sustentabilidade como vetor de competitividade
A sustentabilidade na TI não é apenas um imperativo ético ou regulatório. Empresas que alinham tecnologia e responsabilidade ambiental constroem resiliência e vantagem competitiva.
Ao reduzir custos energéticos, otimizar infraestrutura e evitar riscos reputacionais, os CIOs não apenas fortalecem suas empresas, mas também atraem talentos e investidores alinhados a critérios ESG. Em um mundo em que stakeholders valorizam cada vez mais a consciência socioambiental, a TI sustentável deixa de ser opcional e se torna estratégica.
O futuro: CIOs como protagonistas da transformação verde
Para George Michalitsianos, da Ansell, o caminho é claro:
“Não se trata de adicionar sustentabilidade à agenda do CIO. As ferramentas para essa transformação já estão em nossas mãos.”
Com dados, tecnologia e influência estratégica, os CIOs são agentes decisivos na jornada para empresas de baixo carbono. A sustentabilidade, antes restrita a cadeias de suprimentos e compensações ambientais, hoje passa por redes, data centers e políticas inteligentes de TI.

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