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sexta-feira, agosto 8, 2025
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Cultura Cibernética e Governança: O Board na liderança da cibersegurança estratégica

Prezados leitores, em um ambiente digital cada vez mais dinâmico, a cibersegurança é um risco de negócio, não apenas uma questão de TI. Governança eficaz e cultura cibernética fortalecem a confiança do cliente, reduzem impacto financeiro e tornam a segurança um diferencial estratégico para a organização.

Este artigo apresenta como a segurança física e digital deve ser incorporada na governança desde o Board, traduzindo indicadores técnicos em linguagem compreensível para decisões sem filtros, ágil, assertiva e estratégicas. 

A segurança física e digital como responsabilidade estratégica do Board

Em um mundo hiperconectado, os riscos cibernéticos deixaram de ser meras questões técnicas de TI para ocupar o centro das discussões estratégicas corporativas. Hoje, representam ameaças reais à continuidade dos negócios, à reputação institucional e à confiança do mercado. Governos, reguladores, investidores e auditorias já exigem, e continuarão a exigir, que a cibersegurança seja tratada como tema prioritário no mais alto nível das organizações: o Conselho de Administração.

Não se trata mais de perguntar se a organização será alvo, mas quando. Antecipe-se. Não espere que o prejuízo determine o seu movimento.

A responsabilidade pela segurança digital não pode ser subestimada, muito menos terceirizada. É essencial estabelecer com clareza as fronteiras de responsabilidade e os papéis de cada instância organizacional. Cibersegurança não é apenas um investimento em proteção, é uma alavanca de governança, continuidade e diferenciação competitiva.

Vivemos um novo paradigma corporativo: quem governa, cresce. Quem se omite, arrisca desaparecer. Liderar com responsabilidade digital é o que garante estar no jogo, e fazer a diferença. 

Conforme destacado pelo MIT Sloan Management Review, a dependência digital integra os riscos operacionais com os estratégicos, exigindo que o Board compreenda e resolva essas ameaças como um todo, e não simplesmente delegue a responsabilidade à TI. Já o Harvard Corporate Governance enfatiza que os conselhos devem alinhar as decisões de negócios, como produtos digitais, aquisições ou expansão de mercado, com o apetite de risco cibernético, e exigir planos claros de mitigação e rastreamento de responsabilidades.

Segundo a IMD Business School, boards corporativos são cada vez mais responsabilizados por garantir que a equipe executiva adote medidas eficazes para prevenção e resposta a incidentes. Ainda que os conselheiros não precisem ser especialistas em segurança, espera-se que desafiem a gestão, avaliem auditorias externas e comuniquem aos acionistas os controles adotados.

  • Além disso, estudos revelam que organizações com membros do conselho ou comitês dedicados à cibersegurança experimentam redução de incidentes graves e recuperação mais rápida pós-ataque, tornando a segurança digital um diferencial competitivo e de resiliência corporativa. 
  • Em síntese, esta introdução reforça que a cibersegurança, quando incorporada ao DNA da governança corporativa, não apenas mitiga riscos, mas gera valor tangível e sustentável para clientes, investidores e sociedade, impulsiona a inovação e confiança nos negócios.

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1. Por que este tema é tão relevante?

  • A cibersegurança deixou de ser simples suporte técnico: é agora um risco corporativo essencial para a estratégia de negócios.
  • Para Boards e executivos, entender e governar os riscos digitais é tão crítico quanto supervisionar finanças ou operações globais.
  • No Brasil, o avanço regulatório vem reforçando essa responsabilidade, com impacto direto em reputação, Compliance e confiança do cliente.
Legislação — Ministério da Justiça e Segurança Pública

2. Regulamentação internacional & brasileira

Internacionais (exemplos relevantes)

  • ISO/IEC 38500: padrão global que orienta a governança corporativa de TI, com princípios de responsabilidade, desempenho e conformidade aplicáveis ao Board 
  • Diretiva NIS2 (UE) e DORA (UE): exigem relatórios rápidos de incidentes, exercícios de resiliência e testes de cyber, dando suporte à integração plena entre segurança e negócio.
  • Etc…

Regulamentações no Brasil

  • Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014): estabelece princípios de privacidade, neutralidade e obrigações a provedores e plataformas digitais.
  • Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD, Lei 13.709/2018): impõe medidas técnicas e organizacionais de segurança, exigindo notificação à ANPD e titulares em caso de incidentes.
  • Política Nacional de Segurança da Informação (PNSI) e E-Ciber: guiam a estratégia e governança federal; incluem ReGIC para gestão de incidentes cibernéticos.
  • Política Nacional de Cibersegurança (PNCiber) – Decreto nº 11.856/2023: cria o CNCiber, com múltiplos setores, para definir diretrizes nacionais de segurança e cooperação público-privada.
  • Resoluções do Banco Central (BCB 4.893/2021, 85/2021): exigem políticas de gestão de risco cyber, planos de resposta e relatórios para instituições financeiras e de pagamento.

3. Cultura cibernética e governança por níveis

Nível Executivo / Board

  • Definição do apetite de risco cyber e orçamento estratégico.
  • Aprovação de métricas alinhadas a riscos financeiros e reputacionais.
  • Recebem relatórios claros, conectando indicadores de segurança à estratégia global.

Nível Tático (CISO / Gerência de Risco)

  • Consolida dados operacionais e traduz para níveis executivos.
  • Define roadmap de segurança e garante aderência regulatória.

Nível Operacional (SOC, TI)

  • Monitora, detecta e responde a incidentes.
  • Coleta dados para alimentar métricas e dashboards táticos.

4. KPIs e relatórios recomendados

Kpi Dashboard To Manage Cyber Security Risk

Executivo / Board

  • Security Rating (ex: Security ScoreCard, Bitsight) comparado com benchmarks setoriais.
  • Exposição financeira esperada por risco cyber (usando cálculo de risco monetário).
  • Maturidade da governança (modelo ISO 38500 / LGPD Compliance interna).

Tático / CISO

  • MTTD, MTTC, MTTR.
  • Taxa de patching e cobertura de sistemas.
  • Métricas de phishing (suscetibilidade evolutiva).
  • Número e tipo de incidentes detectados/tratados.

Operacional / SOC

  • Alertas versus incidentes tratados.
  • Tempo médio entre alertas e contenção (MTBI técnico).
  • Vulnerabilidades detectados e remediadas.
  • Conta de administradores com privilégios elevados.

5. Exemplos reais e contexto brasileiro

  • Banco Central do Brasil impôs padrões de segurança robustos para instituições financeiras com resolução detalhada de incidentes e requisitos de governança interna.
  • Projetos de lei em tramitação pretendem obrigar empresas a reportar incidentes em até 5 dias úteis e detalhar governança cyber ao órgão regulador, refletindo expectativa de transparência entre empresas brasileiras.
  • A ANPD aplica sanções (até 2% do faturamento, limitadas a R$ 50 milhões por infração) por falhas em tratamento de dados ou ausência de governança adequada sob LGPD.

6. Modelo de relatório por nível

NívelIndicadores-chaveObjetivo estratégicoFrequência / formato
BoardSecurity Rating, risco residual financeiro, LGPD, ComplianceValor, reputação e motivo de investimentos em segurança, se possível demonstrar (ROI)Trimestral, gráficos + benchmarking
TáticoMTTD, MTTR, cobertura de patching, campanhas phishingMonitorar performance em tempo real e guiar melhoriasMensal, dashboards com evolução visual
OperacionalAlertas processados, vulnerabilidades resolvidas, tempo de respostaEficiência do SOC e complianceRelatórios tempo real, semanais, mensais / dashboards técnicos

7. Recomendações de implementação

  1. Estabeleça um Comitê de Segurança Corporativa (ecossistema de controle), com representantes atuantes e não somente para assistir e criticar, todos são partes da segurança (papeis e responsabilidades claro) das áreas Negócio, TI, Riscos, Compliance, Jurídico e RH, liderado pelo CISO.
  2. Produza dashboards que comuniquem na tendência com impacto financeiro, ROI, e reputacional, não apenas aspectos técnicos, mas de negócios.
  3. Alinhe a governança interna aos requisitos do LGPD, PNCiber e resoluções setoriais (BCB, ANATEL, ANEEL, ANVISA).
  4. Realize treinamentos, testes regulares (vulnerabilidades, phishing, exercícios de crise), e alinhe cronogramas aos benchmarks globais (ex: NIS2, DORA).
  5. Invista em formação contínua, gamificação (ex: security champions), e reconhecimento interno de boas práticas, para maior engajamento. (Exemplo de causa, quanto mais planejar, treinar, maior e melhor será a sua resposta na prevenção) e menor será a reincidência e erros.

GOVERNANÇA inicia-se do princípio, “Honestidade e Responsabilidade”

Costumo dizer aos colegas da área: Trabalhem incansavelmente até que o negócio compreenda, por si só, o real valor estratégico da cibersegurança. O verdadeiro termômetro desse reconhecimento não está em discursos, mas no momento em que a organização passa a considerar a cibersegurança como presença indispensável na agenda e nas decisões críticas do board, não por obrigação, mas por convicção. 

Muitos CEOs me perguntam: “Onde devo posicionar a área de Cyber Security na estrutura da empresa?” Em vez de oferecer uma resposta direta, costumo devolvê-la com uma provocação estratégica: Presidente, como o senhor prefere enxergar a organização e o que considera mais crítico para o seu negócio? 

As respostas variam, mas frequentemente ouço: “Quero saber, de forma imediata, a real situação.” Nesse momento, está dada a resposta: a cibersegurança precisa reportar e estar próxima da liderança executiva. Quanto mais camadas de reporte forem inseridas, maior será a distorção da informação, o atraso na resposta e o risco de filtros impedirem que a realidade chegue até o topo. A verdade raramente atravessa níveis hierárquicos sem perder força, especialmente quando envolve riscos sensíveis.

Quando a cibersegurança deixa de ser um custo e passa a ser desejada como diferencial competitivo, você perceberá que a cultura mudou. Já testemunhei isso acontecer, e posso afirmar: é uma conquista transformadora para a empresa e profundamente gratificante para os profissionais envolvidos, todos ganham e principalmente o seu cliente. Segurança não é obrigação é também sinal de respeito ao seu negócio e cliente.

Transformar a cibersegurança em parte poderosa da governança corporativa e cultura organizacional torna a empresa mais resiliente e confiável. No Brasil e globalmente, regulamentações reforçam a responsabilidade do Board e exigem governança transparente e bem estruturada. Ao alinhar métricas claras entre os níveis executivo, tático e operacional, e incorporar governança executiva formal, a segurança passa a ser um ativo estratégico e diferencial competitivo.

Obrigado a todos pela oportunidade a troca de experiências e até o próximo artigo.

Avante juntos sempre ao futuro de sucesso.

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Longínus Timochenco
Longínus Timochenco
CISO ADVISOR, Evangelista, Membro de Conselho Corporativo & Diretor Governança Corporativa, Consultor estratégico e palestrante, Director of Diversity, Equity, and Inclusion at ISACA SP Chapter. Profissional com 27 anos de experiência em Tecnologia da Informação, Governança Corporativa e Segurança da Informação, com comprovada liderança em projetos nacionais e internacionais. Atua como consultor estratégico e membro de conselho corporativo, impulsionando a definição de estratégias integradas em Cyber Security, Compliance e gestão de riscos, alinhadas às metas empresariais e à governança global.
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