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quarta-feira, agosto 13, 2025
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Letramento Digital em IA, uma necessidade?

Recentemente passei por um processo de promover o letramento digital em IA na empresa para qual trabalho. Um dos grandes desafios relacionados à implementação de IA é a cultura e realizar um letramento em Inteligência Artificial beneficia tanto as equipes que lideram o processo de adoção de IA quanto as equipes que precisam se beneficiar de IA em seus processos.

Mas como preparar e organizar esse processo?

Inicialmente, é importante se conscientizar que nem todos estão com o mesmo nível de conhecimento e adoção da IA em suas rotinas. Nem todos desenvolvem o mesmo senso de curiosidade ou enxergam oportunidades de adoção das ferramentas em sua jornada de trabalho. 

Um outro fator muito importante é ter uma clara visão sobre os fatores culturais da empresa para que expectativas sejam alinhadas e o letramento traga os efeitos desejados de engajar os colaboradores em trazer novas demandas e ter uma visão mais direcionada sobre como a IA pode contribuir com seus processos e desafios.

Mapeados os fatores culturais e de expectativa das empresas, o próximo passo é buscar fornecedores que contribuam para o atingimento das expectativas já mapeadas e traga as provocações necessárias para engajar os times. Além disso, é importante que tragam sugestões de ferramentas e soluções que estejam em linha com o ambiente tecnológico da empresa e com o processo de governança desejado (ou já implementado) para ferramentas de IA. 

A busca dos fornecedores pode ser um passo importante para validar os objetivos a serem atingidos com o letramento, uma vez que este pode ser mais teórico ou prático e a soma das duas abordagens. Iniciativas deste tipo tendem a ser tratadas de forma diferente pelos fornecedores e podem ou não fazer parte de uma solução mais aprofundada. 

O letramento deve se fundamentar em trazer à tona os líderes digitais, aqueles que irão compreender que a transformação não irá ser produzida com tecnologia e sim com pessoas, processos (nestes podemos incluir a necessidade de ter melhores dados) e propósito. Esses líderes serão o exemplo de aprendizado contínuo, cultura e inovação, buscando avaliar sua rotina e como aplicar a tecnologia a fim de melhorar processos que antes eram manuais, pois não havia como acompanhar apenas com sistemas ou RPA (anteriores à IA Generativa).

E como seguir?

Apenas investir em uma etapa de letramento não irá contribuir para uma adoção em larga escala de IA. Será necessário incluir uma etapa de exploração que pode incluir workshops regulares de como a IA foi aplicada (para inspirar outros) e até possibilidades que podem ser trabalhadas por equipes de inovação, tecnologia ou ambas. 

Além disso, os líderes (agora digitais) devem promover o digital e a IA como parte da estratégia e esquecer a mentalidade de projeto que ainda permeia muitas empresas. A IA não algo que será implementado e estará pronta, infelizmente. Será necessária uma jornada, semelhantes a programas de transformação digital que recentemente estavam muito populares e foram potencializados com a IA Generativa. Estudos da McKinsey apontam que empresas que possuem a alta liderança engajada em assuntos de tecnologia tem 3X mais chances de ter sucesso e retorno positivo com IA.

Um parêntese sobre Transformação Digital, na última semana, acompanhei uma reportagem onde o Sebrae promovia no interior do estado de São Paulo, eventos de Transformação Digital para a indústria, o que indica que nem todos estão no mesmo patamar de cultura, processos e tecnologia aplicados. Esse fato que entendi relevante mostra um motivador forte para programas de letramento, caso ainda esteja se perguntando sobre a necessidade.

Para quem ainda não começou ou está em estágios iniciais, comece pequeno, priorize estudos de caso como atendimento ao cliente, prevenção de falhas ou forecast de vendas (certamente algum desses se encaixa ao seu modelo de negócio).

Forme equipes multidisciplinares com estrutura de negócio, tecnologia (ou sistemas), dados e o jurídico. O papel do jurídico é importante, pois acompanhando o projeto de lei PL 2338/2023 que regulamenta o uso da inteligência artificial (IA) no Brasil e classifica os sistemas de inteligência artificial quanto aos níveis de risco para a vida humana e de ameaça aos direitos fundamentais, os sistemas de IA devem ser implementados forma transparente, ética, inclusiva, em conformidade com a LGPD e boas práticas de IA responsável.

Até em reforço em meus artigos anteriores, há a necessidade de se tratar os dados como ativos estratégicos com garantia da qualidade, segurança e privacidade. Neste ponto é indicado que o comitê de LGPD seja envolvido e até faça parte do processo de curadoria desses dados. A curadoria é importante, pois como reforçado em diversos artigos (basta uma pesquisa simples sobre o assunto), se você entregar lixo para a IA, vai receber lixo de volta. Além disso, até a organização e separação dos dados precisa ser avaliada neste processo de curadoria para garantir que as premissas de segurança estão sendo respeitadas e aplicadas.  

Talvez seja o caso de avaliar a criação de um comitê de IA (talvez envolvendo áreas como jurídico, RH, TI e governança corporativa) para trabalhar o Sistema de Gestão de IA (SGIA) e garantir a avaliação constante das regras aplicadas, impacto sociais e possíveis riscos reputacionais na aplicação de IA em seu negócio. O comitê e o SGIA devem garantir a transparência na tomada de decisões, evitar possíveis vieses na base de dados e a prestação de contas que pode ser exigido por lei em médio prazo.

Resumindo, investir em letramento de IA é imperativo para a formação de líderes digitais em sua empresa para fomentar uma cultura de aprendizado e adaptação contínua e evitar que os projetos e programas de IA sejam conduzidos apenas por áreas técnicas, sem o patrocínio executivo. Esse patrocínio será importante para garantir as próximas etapas que envolverão equipes multidisciplinares, engajamentos das equipes no geral e a criação de equipes para acompanhar e garantir premissas que serão exigidos por lei no Brasil e em outros países.

A liderança na era da IA deve conectar pessoas e tecnologia com visão e coragem para inspirar, direcionar e principalmente sustentar as mudanças. Afinal, a moda pode passar, mas a liderança se engajada, permanece e evolui.

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Gustavo Giovanetti
Gustavo Giovanetti
Profissional experiente em Governança e Gestão de Tecnologia da Informação, com mais de 20 anos de experiência em liderança de equipes, gestão de projetos de TI, infraestrutura e segurança da informação. Especialista em planejamento estratégico de TI, gestão de portfólio de projetos e gestão financeira. Possui conhecimentos técnicos em ITIL, COBIT, ISO 27002, Cloud, PMBOK, Scrum e SAFe. Líder natural com habilidades em comunicação, resolução de conflitos e tomada de decisão.
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