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quarta-feira, março 12, 2025
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A nova era do CIO: de gestor de tecnologia a arquiteto de transformação digital

Quantos anos você acha que o cargo de CIO tem? Eu me arrisco a dizer que tem uns 35 anos mais ou menos. Sim, eu sei que virão aqui agora aqueles que vão dizer que têm mais tempo… Porque na década de 80 já tinha computador pessoal, servidores parrudos, TELEX, PABX, cartão perfurado, etc.

Mas ainda assim, eu prefiro ficar com os meus 35 anos de palpite. Pois foi mais ou menos nessa época que uma grande massa de organizações começou a ter acesso à tecnologia e também viram o surgimento da internet e o mundo foi gradualmente se conectando.

Durante esse tempo, o papel do CIO – Chief Information Officer foi estabelecido e, ao longo dos anos, passou por uma “metamorfose ambulante”: de responsável por manter a infra de pé, a rede, os periféricos e as aplicações online, evoluiu para uma posição estratégica que molda o futuro das organizações.

Atualmente, quando se trata de tecnologia e negócios, é praticamente impossível dissociá-los. Neste cenário, o CIO surge como um novo papel: o de arquiteto da transformação digital. Isso se dá porque assegurar que o ecossistema tecnológico funcione não é mais o desafio, mas sim reinventar como as companhias criam valor através da tecnologia.

Bora entender esse novo papel do CIO?

A evolução do CIO

Vamos fazer um exercício interessante para entender essa jornada: separar em fases como o papel do CIO foi evoluindo ao longo das décadas:

Anos de 90: o gerente de infraestrutura

Nesse primeiro estágio, o papel do CIO era 100% técnico. Como falamos acima, sua principal missão era garantir que tudo estava funcionando. O time de TI tinha que basicamente “manter as luzes acesas” e era sempre visto como um centro de custo, porém necessário.

Anos 2000: o provedor de serviços

Passado o bug do milênio, aplicações corporativas começaram a surgir aos montes, sendo a mais famosa delas o ERP. A Internet também já era uma realidade e policiar o uso, que muitas vezes era mal visto, também era função do TI. Fazer mais com menos era quase uma ordem e programas de eficiência aliados a iniciativas de padronização surgiam o tempo todo.

Anos 2010: o parceiro estratégico do negócio

Na mesma época do fiasco do Brasil na Copa da África, tinha uma persona nos corredores corporativos que estava mudando radicalmente o seu discurso: o CIO. A dependência do negócio em tecnologia crescia tão rápido que a área de TI foi promovida para fazer parte da estratégia do negócio. O CIO, em processo de metamorfose, saiu do casulo e passou a falar o idioma dos negócios, atuando como guru de inovação.

Estágio atual: arquiteto da transformação

A pandemia, o evento mais marcante dessa época, acelerou a transformação digital das organizações e exigiu respostas ágeis para desafios inéditos. O CIO evoluiu mais uma vez e agora é o maestro que orquestra ecossistemas digitais complexos e dispersos. Foi neste período que surgiu o conceito de TI Multimodal, popularizado pelo Gartner como ‘TI Bimodal’ e posteriormente expandido. Esta abordagem reconhecia que diferentes tipos de iniciativas tecnológicas exigiam modos distintos de operação.

Principais desafios do CIO na era da transformação

O CIO – Arquiteto da Transformação anda enfrentando desafios complexos que frequentemente ultrapassam as questões puramente tecnológicas.

Equilíbrio entre velocidade e estabilidade representa um dilema constante, exigindo arquiteturas que permitam inovação rápida sem comprometer operações críticas.

Um ecossistema legado impõe escolhas difíceis entre os custos de manutenção que só e os riscos de modernização, levando à necessidade de estratégias de transformação gradual com interfaces modernas sobre fundações antigas. Uma transição quase sempre bem desafiadora!

A evolução da TI Bimodal para Multimodal reflete esta complexidade crescente. O modelo anterior, com apenas dois modos operacionais, resultou em algo insuficiente para o hoje. O CIO moderno gerencia agora uma gama de velocidades e metodologias: desde sistemas legados que exigem estabilidade máxima, passando por plataformas de negócio em constante evolução, até inovações digitais escaláveis e experimentos de alto risco com ciclos rápidos. Cada modo demanda abordagens distintas de governança, investimento e mensuração de sucesso, criando o desafio de manter uma organização coesa que opera simultaneamente em múltiplas velocidades.

A falta de talentos digitais aumenta ainda mais estes desafios, com competição intensa por profissionais qualificados em tecnologias emergentes. Os CIOs bem-sucedidos desenvolvem estratégias duplas: criar ambientes de trabalho atrativos para novos talentos enquanto investem na requalificação das equipes existentes, preservando o valioso conhecimento institucional.

Por fim, as pressões orçamentárias persistem, com expectativas crescentes raramente acompanhadas por aumentos proporcionais nos orçamentos. O CIO deve adotar modelos financeiros flexíveis, alternando entre despesas operacionais e de capital, enquanto mostra o retorno sobre investimento das iniciativas digitais com métricas que ressoam com a liderança executiva.

O futuro do papel do CIO

A vida do CIO nos próximos anos é digna de um roteiro de ficção científica de algumas décadas atrás. O horizonte tecnológico que ele e seu time navegarão será definido por inovações transformadoras e disruptivas como IA generativa em processos empresariais, automação hiperinteligente e infraestrutura tecnológica sustentável.

Vem aí também o esquecido, porém relembrado, metaverso corporativo: digital twins autônomos e IoT industrial que estão ultrapassando o estágio experimental. Com todo esse novo arcabouço tecnológico, o papel do CIO deve fundir outras funções executivas, o que nos trará novos cargos e títulos como “Chief Digital and Information Officer” ou “Chief Transformation Officer”.

Para estar pronto para esse futuro nem um pouco distante e prosperar, os CIOs precisarão desenvolver novos skills em áreas como ética digital, governança algorítmica e design de organizações resilientes.

Orquestrar ecossistemas de inovação aberta e desenvolver estratégias tecnológicas ambientalmente sustentáveis terá o mesmo nível de importância do conhecimento técnico tradicional intrínseco à nossa função.

Conclusão e Recomendações Práticas

Essa mudança de função do CIO de gestor de tecnologia para arquiteto de transformação digital mostra a relevância da tecnologia na estratégia empresarial atual. O impacto desta mudança vai além da área de TI, redefinindo como organizações operam, competem e criam valor.

Para CIOs que buscam seguir nessa jornada de sucesso, compartilho aqui algumas dicas baseadas no que tenho visto nas minhas interações diárias:

  1. Desenvolva um portfólio equilibrado: balancear iniciativas de curto prazo que trazem valor imediato com investimentos estratégicos de longo prazo.
  2. Cultive o bilinguismo empresarial-tecnológico: invista tempo para compreender de perto o modelo de negócio da sua organização e transforme as possibilidades tecnológicas em linguagem de valor empresarial.
  3. Construa networking: desenvolva alianças com outros executivos, identificando oportunidades onde a tecnologia pode resolver seus desafios mais prementes.
  4. Crie um motor de inovação contínua: estabeleça processos e equipes dedicadas a explorar tecnologias emergentes e testar novos conceitos rapidamente.
  5. Redesenhe sua organização de TI: evolua de estruturas funcionais tradicionais para equipes multidisciplinares organizadas em torno de capacidades de negócio.
  6. Invista no desenvolvimento pessoal próprio e do time: expanda suas competências além da tecnologia, abraçando áreas como estratégia corporativa, finanças, marketing e psicologia organizacional. Leve o time junto nessa jornada!
  7. Comunique visão e progresso: articule uma visão clara do futuro digital da organização e compartilhe continuamente avanços e aprendizados.

A nova era do CIO exige coragem para repensar o papel e a contribuição da tecnologia para o sucesso organizacional. Líderes que abraçarem essa transformação elevarão suas carreiras e se tornarão arquitetos essenciais do futuro digital das empresas.

E você, CIO, está pronto para assumir o papel de Arquiteto de Transformação Digital?

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Mauro Periquito
Mauro Periquito
Engenheiro de Telecomunicações e Diretor de Transformação Digital na Kyndryl, onde lidero e gerencio projetos de transformação digital para setores como indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Com uma abordagem centrada no cliente, meu objetivo é traduzir as necessidades específicas de cada cliente em soluções personalizadas e inovadoras, que atendam às suas demandas únicas e impulsionem seu crescimento e sucesso.
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