Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, desenvolveram uma ferramenta de inteligência artificial (IA) capaz de prever com alta precisão quais pacientes com comprometimento cognitivo leve têm maior probabilidade de evoluir para o Alzheimer. O avanço, publicado nos mês passado na revista Nature, pode transformar tanto o diagnóstico precoce quanto a condução de ensaios clínicos, trazendo impactos diretos para a indústria farmacêutica, healthtechs e sistemas de saúde pública.
De acordo com os cientistas, a IA não apenas identifica os pacientes com risco elevado, mas também revela quais têm maior chance de responder positivamente a medicamentos em estágios iniciais da doença. Isso abre caminho para a medicina de precisão na demência, reduzindo o desperdício de recursos em tratamentos aplicados tardiamente e acelerando a aprovação de novas terapias.
IA revela eficácia oculta em tratamentos contra o Alzheimer
O estudo analisou retrospectivamente dados de um ensaio clínico já concluído. Na avaliação tradicional, o medicamento em teste não apresentou resultados significativos para o conjunto de pacientes. Porém, ao aplicar o modelo de IA, os pesquisadores conseguiram estratificar os voluntários em dois grupos: os que tinham evolução lenta e os que apresentavam progressão rápida da doença.
O resultado surpreendeu: no grupo com progressão mais lenta, o fármaco retardou o declínio cognitivo em 46%, um efeito que havia passado despercebido anteriormente.
Essa abordagem é três vezes mais precisa do que os métodos clínicos convencionais, que incluem testes de memória, exames laboratoriais e ressonâncias magnéticas. “Novos medicamentos promissores falham quando chegam tarde demais ao paciente”, explicou Zoe Kourtzi, professora de Psicologia de Cambridge e autora sênior do estudo. “Nossa IA conecta os pacientes certos aos medicamentos certos, possibilitando ensaios clínicos mais rápidos, baratos e eficazes.”
Impactos na indústria farmacêutica e em healthtechs
A aplicação de IA em pesquisa clínica pode alterar significativamente o cenário de desenvolvimento de medicamentos, que enfrenta uma taxa de falha superior a 95% no caso de tratamentos para Alzheimer. Só nos últimos 30 anos, mais de US$ 43 bilhões foram investidos globalmente em P&D com resultados limitados.
Ao permitir a seleção precisa de pacientes, os ensaios se tornam mais enxutos, reduzindo custos operacionais e aumentando a probabilidade de aprovação de novos fármacos. Para healthtechs, essa tecnologia abre espaço para novos modelos de negócio focados em plataformas de análise preditiva e triagem inteligente de pacientes.
Além disso, empresas de tecnologia que atuam com soluções de dados médicos, machine learning e integração de sistemas hospitalares encontram um campo fértil para expansão, principalmente com o avanço das parcerias entre Big Techs e indústrias farmacêuticas.
Benefícios estratégicos para sistemas de saúde
No âmbito da saúde pública, a adoção de ferramentas como a desenvolvida por Cambridge pode aliviar a pressão sobre sistemas nacionais. A Health Innovation East England, ligada ao NHS (Serviço Nacional de Saúde britânico), já apoia a implementação clínica do modelo.
“Essa tecnologia garante que os recursos cheguem aos pacientes que realmente se beneficiam, reduzindo custos e otimizando o uso de medicamentos de alto valor”, afirma Joanna Dempsey, consultora da instituição.
Com o envelhecimento populacional e a previsão de que o número de casos de demência triplique até 2050, soluções baseadas em IA se tornam estratégicas para sustentar políticas de saúde e programas de cuidado prolongado.
O desafio global da demência e a corrida por inovação
A demência é hoje uma das principais causas de morte no mundo e seu impacto econômico é colossal: US$ 1,3 trilhão anuais, com tendência de crescimento exponencial. O Alzheimer, responsável pela maioria dos casos, ainda não tem cura, e os tratamentos atuais focam apenas em retardar a progressão da doença.
Nos Estados Unidos, alguns medicamentos recentes foram aprovados, mas sua adoção enfrenta barreiras por conta do alto custo, eficácia limitada e riscos de efeitos colaterais. Nesse cenário, a inteligência artificial surge como um divisor de águas, ao permitir que terapias promissoras cheguem ao público certo, aumentando a qualidade de vida e reduzindo desperdícios.
IA como motor da medicina de precisão
Para executivos de TI e gestores da indústria de saúde, o estudo de Cambridge sinaliza uma virada estratégica. Ferramentas preditivas baseadas em IA não apenas aumentam a eficiência clínica, mas também remodelam o modelo de negócios de toda a cadeia de valor — da pesquisa à assistência ao paciente.
Como sintetiza Kourtzi: “Não podemos esperar mais 30 anos por terapias eficazes. A inteligência artificial é o caminho para acelerar descobertas e oferecer esperança a milhões de famílias afetadas pela demência.”

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