Na semana passada, o tema foi um pouco polêmico por aqui e rendeu uma discussão meio espinhosa se assim podemos defini-la. Falamos porque a responsabilidade ética da IA não pode ser delegada pelo CEO. Os estragos reputacionais causados por um erro de IA podem matar uma marca!
Leia o artigo anterior aqui: Além do Hype: Por Que o CEO Não Pode Delegar a Responsabilidade Ética da IA
Hoje, uma questão ainda mais incômoda e frustrante de certa forma: onde exatamente o Brasil está se posicionando na corrida global da IA responsável?
Alerta & Spoiler: temos uma janela de oportunidade histórica que está se fechando rapidamente.
Fiz um trabalho de formiguinha apoiado pelas minhas assistentes de IA e revisei frameworks regulatórios em mais de 20 países. Nessa jornada descobri que o Brasil está numa posição única. Não estamos nem atrasados demais para desistir, nem adiantados o suficiente para relaxar. Estamos na zona de maior oportunidade – e maior risco. O que iremos fazer nesse ponto de inflexão?
O mapa global da IA responsável
- Estados Unidos: Autorregulação Controlada Estratégia: Os americanos tem aplicado a mínima intervenção regulatória combinada com uma pressão de mercado em nível máximo. Empresas como OpenAI e Google investem bilhões em IA responsável porque falhas éticas resultam em perda imediata de valor. “Olá CEO, você leu a frase anterior?” Problema: Empresas menores podem ficar para trás nessa batalha de titãs.
- União Europeia: Compliance First Estratégia: EU AI Act com multas de até 7% da receita global e classificação rigorosa de sistemas de alto risco. Como tudo na Europa, a regulamentação é forte e mudar algo em Bruxelas – sede do Parlamento Europeu, é um desafio enorme. Problema: Estudos apontam fuga de startups para jurisdições menos restritivas, movimento previsível para quem não quer escalar tão amarrado por leis.
- China: Inovação com Características Chinesas Estratégia: IA responsável definida pelo Estado, foco em estabilidade social e soberania tecnológica. Modelos mais enxutos e baratos desaparecem e surgem com a mesma velocidade. Destaque: Velocidade de implementação e alinhamento entre setores.
- Singapura e Canadá: Fast Followers Inteligentes Estratégia: Frameworks flexíveis que se ajustam conforme a tecnologia evolui. Singapura criou “regulatory sandbox” e o Canadá combina diretrizes voluntárias com investimento massivo. Ambas receitas tem sido um sucesso! Resultado: Destinos preferenciais para inovação responsável. “Oi Brasil, podemos olhar esses países como benchmark?”
E nossos vizinhos?
- México: Está seguindo padrões americanos (Influência USMCA – Acordo Estados Unidos-México-Canadá)
- Argentina: Adotando modelos europeus (Justificável pelos seus laços históricos. Lembra da história que eles vieram em barcos?)
Ambos importando soluções. Nenhum criando padrões próprios. Nós temos potencial e protagonismo suficientes para não entrar nesse caminho!
Brasil: nossa posição real
Pontos fortes
- Marco regulatório em discussão (PL 2338/2023 ainda pode ser moldado para equilibrar proteção e inovação – Oremos!)
- Mercado interno robusto (200+ milhões de consumidores)
- Talento técnico de nível world class
- Oportunidade de evitar erros alheios (podemos criar frameworks que não travem inovação)
Pontos fracos
- Risco de super-regulamentação (pressão para regulamentar sem considerar impacto na inovação – Olho no que está acontecendo no congresso!)
- Coordenação setorial fragmentada (cada indústria inventando sua roda)
- Investimento reativo (Vamos botar a IA para funcionar e gastamos após problemas, não antes)
- Debate restrito a especialistas (lideranças ainda não veem como questão estratégica de negócio)
A janela de oportunidade histórica é agora!
Por que agora é nossa hora: os EUA perceberam limites da autorregulação pura. Já Europa está provando do seu remédio em excesso e contabilizando os custos da super-regulamentação com startups fugindo para outras jurisdições. E a China está focada internamente, com poucas discussão além das fronteiras, por enquanto. Temos chance real de criar uma “terceira via brasileira” que favoreça inovação responsável.
Nossa credibilidade: Temos um histórico relevante em ESG e liderança em sustentabilidade.
Mas a janela está se fechando. A Índia já está desenvolvendo frameworks próprios. O México e a Argentina já escolheram seus caminhos. Se não influenciarmos nosso próprio marco regulatório em 18-24 meses, corremos o risco de ter regras que travem nossa competitividade e nesse mundo de IA responsável viraremos passageiros…
O que precisamos fazer (urgente)
- Coordenação inédita entre lideranças – CEOs e líderes de tecnologia brasileiros precisam se unir para protagonizar soluções que equilibrem proteção e competitividade. Não podemos deixar que decisões sobre nosso futuro sejam tomadas sem nós na mesa.
- Framework brasileiro próprio – Precisamos criar padrões nacionais que sejam prático (implementável), flexível (adaptável), pró-inovação (que estimule, não trave) e que outros países queiram adotar como referência global
- Validação de excelência brasileira – Precisamos criar mecanismos que reconheçam e certifiquem empresas brasileiras como referência em IA responsável, gerando cases que virem padrão mundial
O custo de não agir
Se perdermos esse timming: ao deixarmos que a regulamentação trave a inovação ao invés de estimulá-la, padrões inadequados serão importados para nossa realidade, e manteremos uma dependência tecnológica. Tudo isso colocará empresas brasileiras em desvantagem competitiva global.
Pior ainda: empresas que demonstrarem excelência em IA responsável ganharão vantagem competitiva brutal sobre as que ficarem para trás. A diferença entre liderar e seguir será medida em bilhões.
Nossa escolha ideal
O Brasil pode criar o modelo mais inteligente de IA responsável do mundo, que proteja sem paralisar, inove sem comprometer ética, regule sem burocratizar.
Mas isso só acontecerá se lideranças empresariais pararem de delegar e começarem a protagonizar. Sozinhos, somos vulneráveis. Unidos, somos imbatíveis.
A janela está aberta. A oportunidade é real. Vamos aproveitá-la ou explicar às próximas gerações por que deixamos passar?
O que está faltando não é capacidade técnica, nem mercado, nem talento. O que está faltando é coordenação entre quem realmente pode fazer a diferença: vocês, líderes empresariais.
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