A figura que trago nesse artigo resume bem o dilema atual de muitas empresas: há vontade, há pressão, há expectativa, mas falta clareza. Quer-se implementar IA agora, mas ninguém sabe exatamente como começar, como priorizar ou que iniciativas valem a pena.

Este artigo vai direto ao ponto: vai mostrar o que os números dizem, os desafios reais, um método robusto para levantar e priorizar iniciativas, e dicas práticas para começar com segurança e rapidez. Vamos dar material para sair do “querer” e ir para o “fazer”.
Os dados nos mostram onde estamos
Antes de qualquer plano, é essencial entender o panorama global e local. Aqui vão alguns dados recentes e relevantes:
- Em 2024, 78% das organizações declararam que já usam algum tipo de IA, um salto significativo sobre os 55% de 2023.
- O investimento privado global em IA tem crescido de forma expressiva; só em “generative AI” houve aumento de quase 18,7% entre 2023-2024.
- Segundo pesquisas, os maiores obstáculos percebidos para adoção de IA são: baixa qualidade ou acessibilidade dos dados, falta de talento especializado, ROI incerto (ou seja: retorno financeiro difícil de mensurar antecipadamente), além de questões de ética, segurança e regulatórias.
- No contexto brasileiro: em indústrias de médio e grande porte, cerca de 16,9% (dados de 2022) já utilizavam IA em suas operações.
- Também no Brasil, os desafios mais citados são: alto custo, falta de pessoal qualificado, estrutura digital insuficiente ou defasada, burocracia e risco regulatório.
Portanto está claro que vontade existe! Mercado e tecnologia também! O que está faltando é estrutura, clareza, e uma ponte entre ideação e execução.
Desafios principais que impedem o “Agora Mesmo”
Com base em literatura e cases recentes, estes são os entraves que mais aparecem:
- Dados ruins, silos e acessibilidade limitada
Muitas empresas têm dados espalhados em diferentes sistemas, com formatos distintos, falta padronização, ausência de qualidade ou lacunas. Isso torna difícil treinar modelos confiáveis ou automatizar fluxos de forma segura. - Talento e competência interna
Falta de cientistas de dados, engenheiros de ML, DevOps para IA, especialistas em governança e ética. Sem isso, iniciativas ficam paradas ou dependentes demais de consultorias externas. - ROI incerto e negócios sem vínculo claro
Muitas iniciativas são vistas como “inovação por inovação” ou para não ficar atrás da concorrência, sem ligação clara com metas de negócio mensuráveis. Isso prejudica priorização e recursos. - Infraestrutura (tecnologia + arquitetura legada)
Sistemas antigos, legados, que não se falam, sem APIs ou arquitetura flexível. Recursos de computação (nuvem, GPU, etc.) muitas vezes subdimensionados ou mal orçados. - Cultura, mudança organizacional e governança
Resistência de equipes, medo de perder papel ou emprego, confiança baixa em modelos, ausência de governança de IA ou políticas éticas/regulatórias. - Regulação, privacidade e risco
Normas de proteção de dados, compliance, riscos legais e reputacionais. Se não forem considerados desde o início, podem gerar re-trabalho ou paralisação.
Estruturação: como levantar, priorizar e iniciar iniciativas de forma prática
A partir desses desafios, proponho um método de quatro fases para sair do “queremos IA” para “IA em ação”. Você pode adaptar ao porte, realidade e maturidade de cada empresa.
Fase | Objetivo principal | Atividades-chave | Entregáveis típicos |
1. Diagnóstico & Estratégia | Saber onde estamos, aonde queremos ir, o que realmente importa para o negócio | Avaliar maturidade de dados, infraestrutura e pessoas Entender objetivos estratégicos da empresa (redução de custos, melhoria de experiência, novos produtos) Benchmarking interno e externo (concorrentes, setores similares) Definir visão clara de IA (tipo de IA, escopo: automação, preditiva, generativa…) | Mapa de maturidade, gap-analysis, visão/objetivo estratégico (ex: “Melhorar resposta ao cliente em 30%”, “Automatizar 20% dos processos repetitivos até 2026”) |
2. Geração de Use Cases | Coletar ideias concretas e possíveis de IA que gerem valor | Workshops com áreas de negócio para levantar problemas e dores reais Estudo de viabilidade técnica dos dados existentes Inspirar-se em casos de uso de mercado (gestão de documentos, atendimento, forecasting, manutenção preditiva etc.) Registrar todos os casos em um portfólio centralizado | Portfólio de use cases com descrição: problema, benefício esperado, dados necessários, esforço estimado |
3. Priorização e Planejamento | Escolher quais iniciativas começar, em que ordem, com que recursos | Avaliar cada use case sob critérios como valor para o negócio, custo/complexidade/técnico, risco (dados, compliance, ética), impacto e facilidade de implementação Usar matriz de priorização (ex: valor vs complexidade) Definir quick wins (projetos com retorno rápido e visibilidade) e projetos de médio/longo prazo Alocar recursos (pessoas, budget, tecnologia) Definir métricas de sucesso | Roadmap de iniciativas com prioridades, cronograma, orçamentos, responsáveis, KPIs definidos |
4. Execução & Escalonamento | Entregar resultados, aprender rápido, ajustar e expandir | Fazer pilotos/provas de conceito para validar hipóteses Medir os resultados (KPIs) e comparar com as expectativas Coletar lições aprendidas: o que deu certo, o que não deu Implantar soluções com potencial de escala Estabelecer governança contínua: ética, privacidade, monitoramento de desempenho Engajar mudança cultural: treinamento, comunicação, envolvimento das equipes | Projetos piloto entregues, soluções operacionais de IA rodando em produção, feedback dos stakeholders, governança instituída, capacitação interna (ações de treinamento e mudança) |
Exemplos de critérios para priorizar use cases
Para não depender só de intuição, sugiro usar critérios quantitativos e qualitativos juntos. Exemplos:
- Valor estimado: economia de custo, aumento de receita, melhoria de eficiência, satisfação do cliente, vantagem competitiva.
- Custo/complexidade: esforço técnico, necessidade de infraestrutura nova, integração com sistemas existentes.
- Risco: privacidade/dados sensíveis; legislação regulatória; dependência de fornecedores externos; robustez e explicabilidade do modelo.
- Facilidade de implementação: se dados estão acessíveis, se há expertise interna, se impacto inicial pode ser pequeno.
- Visibilidade / impacto estratégico: se é algo que vai gerar rapidamente credibilidade ou alinhamento com metas da liderança.
Como dar os primeiros passos

- Comece pequeno, mas com propósito
Escolha uma iniciativa breve (“quick win”) que dependa de poucos recursos, mas que já tenha visibilidade. Isso constrói confiança e momentum. - Informe a liderança e garanta buy-in
Sem apoio do topo (CEO, diretores) iniciativas de IA tendem a ficar fragmentadas ou sem continuidade. Comunicar bem a visão, benefícios esperados, riscos e roadmap. - Monte uma equipe multidisciplinar
Não só ciência de dados ou TI; inclua áreas de negócio, jurídico, segurança da informação, operações. Isso facilita evitar surpresas de dados, compliance ou adoção. - Invista em governança de dados antes que em modelos sofisticados
Se os dados não forem confiáveis, IA vai falhar ou gerar resultados suspeitos. Estruture pipelines de dados, políticas de qualidade, segurança, privacidade. - Use arquiteturas flexíveis ou híbridas
Cloud + borda ou on-premises quando necessário. Evite amarrar-se a uma solução que dificulte mudanças ou expanda custos desproporcionais. - Mensure tudo e aprenda rápido
Defina KPIs antes, monitore durante e ao final. Avalie se as suposições iniciais estavam corretas. Se algo não der certo, faça ajustes, descarte rapidamente o que não funciona. - Cultura e treinamento são chave
Envolva pessoas desde cedo. Treine times internos. Promova experimentações. Faça com que as pessoas vejam valor direto no uso de IA, isso reduz resistências. - Considere parcerias ou terceirizações estratégicas
Especialmente se não houver talento interno ou infraestrutura adequada. Parcerias com universidades, fornecedores de tecnologia ou startups podem acelerar o processo.
Minha aposta!
A figura “queremos IA agora mesmo, mas não sabemos por onde começar” pode ser o motor de uma transformação real se for combinada com método, clareza, planejamento e coragem para testar.
O maior risco para muitas empresas não é não adotar IA, mas adotar mal, sem visão, sem governança, sem ligação clara com propósito e resultados. Isso pode gerar desperdício, frustração, até danos reputacionais.
Empresas que conseguirem estruturar esse processo de diagnóstico, geração de casos de uso, priorização e a execução iterativa vão deixar para trás aquelas que só falam sobre IA. E vão capturar valor real, eficiência, inovação, experiência melhor, novas fontes de receita.

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