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segunda-feira, março 31, 2025
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Data Centers de Big Techs no Brasil: Investimentos Bilionários e os Desafios do Setor

Nos últimos meses, o Brasil tem se consolidado como um dos principais destinos de investimentos em data centers de big techs, empresas como Amazon Web Services (AWS), Microsoft, Google Cloud e Scala Data Centers anunciaram aportes bilionários no país, totalizando mais de R$ 20 bilhões em investimentos já divulgados, esse movimento visa expandir a infraestrutura digital, atendendo à crescente demanda por serviços como computação em nuvem e inteligência artificial (IA), é fundamental analisar não apenas as oportunidades, mas também os desafios que se apresentam para o desenvolvimento desse setor.

Investimentos bilionários

A AWS, uma das líderes globais em serviços de nuvem, anunciou um investimento significativo de R$ 10,1 bilhões até 2034 para expandir sua infraestrutura de data centers no Estado de São Paulo, esse valor se soma a outros R$ 19,2 bilhões já direcionados entre 2011 e 2023, o projeto visa não apenas aumentar a capacidade de computação em nuvem, mas também reforçar programas de capacitação, como o treinamento de 800 mil brasileiros em fundamentos de nuvem.

Por sua vez, a Microsoft não ficou atrás. A empresa destinou R$ 14,7 bilhões para alavancar sua estratégia de cloud computing e IA no Brasil, em sua visita ao país, Satya Nadella, CEO da Microsoft, enfatizou a importância da IA na transformação dos fluxos de trabalho empresariais, a expansão da infraestrutura de nuvem é uma parte central dessa estratégia, com investimentos em novas tecnologias e integração com dispositivos.

O Google Cloud, embora não tenha divulgado cifras específicas recentemente, anunciou novos recursos de IA para bancos de dados e uma parceria com a Oracle no Brasil, a empresa também continua investindo em capacitação e treinamento.

A Scala Data Centers, por sua vez, inaugurou em agosto a segunda fase de seu complexo em Barueri, na Grande São Paulo, com um investimento de R$ 6,5 bilhões, este aporte é parte de um compromisso total de R$ 32 bilhões para expandir o Campus Tamboré, que se tornará o maior da América Latina, com capacidade energética de 450 MW, equivalente ao consumo de Brasília. Quando concluído, o campus contará com 17 data centers.

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O panorama atual

De acordo com a Associação Brasileira de Data Centers (ABDC), o Brasil abriga atualmente 150 data centers operados por grandes provedores e empresas de telecomunicações, a maioria dessas instalações está concentrada nas regiões Sudeste e Nordeste, especialmente em São Paulo e Fortaleza, essas localidades são estratégicas para a interconexão de redes internacionais e a demanda por serviços digitais.

Empresas como Equinix, Angola Cables, Tivit, Odata e Elea também estão expandindo suas operações, reforçando suas posições no mercado, a Angola Cables, por exemplo, está construindo um novo data center em Fortaleza, com previsão de conclusão em 2026 e investimento de R$ 200 milhões. Guilherme Colares, diretor de novos negócios da empresa, destacou a necessidade de uma infraestrutura robusta para atender à crescente demanda de tecnologias como IA e Internet das Coisas (IoT).

Estamos focados em eficiência energética, resfriamento e tecnologias avançadas para garantir que possamos suportar o aumento do tráfego de dados”, explicou Colares, ressaltando que o data center em Fortaleza, o segundo maior hub de conectividade do Brasil, está sendo ampliado para atender à crescente demanda.

Fortaleza é um ponto estratégico para cabos submarinos nas Américas, atraindo grandes players do setor. Colares enfatizou que “a conectividade é fundamental para a viabilidade das tecnologias emergentes”, indicando que a ocupação quase total das infraestruturas em Fortaleza reflete o aquecimento do mercado.

O Brasil como hub global

Durante a Futurecom, uma feira de telecomunicações realizada recentemente, o Ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ressaltou o papel do Brasil como um potencial hub global de data centers, ele mencionou que o armazenamento de dados é uma prioridade do governo e que o presidente Lula tem destacado a importância de organizar dados governamentais para otimizar políticas públicas.

Segundo Juscelino Filho, o país está bem posicionado para crescer nesse setor, graças à abundância de energia limpa e recursos hídricos, “O Brasil tem tudo para se consolidar como um centro mundial de data centers. Nossa estratégia é descentralizar essa infraestrutura, levando os data centers para perto das fontes de energia limpa”, apontou.

O aquecimento do setor de nuvem

A expectativa em relação a esses investimentos é positiva. Pietro Delai, diretor de pesquisa da IDC América Latina, comentou que o crescimento do mercado de nuvem é resiliente, mesmo em um contexto de crescimento econômico modesto. “O mercado de nuvem cresce a dois dígitos, o que demonstra seu potencial”, afirmou.

Delai observou que ainda há muito espaço para crescimento no Brasil, especialmente em comparação com economias mais maduras, a invasão da nuvem na América Latina, em relação ao total de despesas corporativas em TI, é cerca de metade da dos Estados Unidos e 1,9 vezes menor que na Europa. Portanto, a transformação digital é um fator preponderante para o avanço do setor.

Desafios enfrentados

Apesar do cenário otimista, existem desafios significativos que precisam ser superados. A questão da soberania dos dados se tornou uma preocupação crescente, especialmente em setores regulados. Há uma pressão maior por soberania na região, que influencia onde e como os dados são armazenados.

Outro desafio crítico é o custo operacional no Brasil. Uma parte significativa dos serviços de nuvem é precificada em dólares, e a alta carga tributária no país encarece esses serviços, dificultando a previsibilidade de custos para os CIOs. Ter data centers localizados no Brasil ajuda, mas não elimina todos os obstáculos.

A emergência da IA generativa também intensifica esses desafios. A implementação de IA exige um processo intensivo de machine learning, que demanda capacidade de processamento significativa, especialmente em GPUs ou NPUs, “Isso implica investimentos substanciais em hardware e infraestrutura de suporte, como refrigeração avançada e energia robusta”, explica Delai, muitas vezes, é mais viável construir novos data centers do que adaptar os existentes para atender a essas exigências.

Além disso, a crescente demanda por processamento é impulsionada pela transformação digital das empresas. “Antes, o business intelligence gerava relatórios esporádicos e retrospectivos. Hoje, buscamos previsões em tempo real, o que aumenta exponencialmente a necessidade de processamento”, reforçou Delai.

O futuro dos investimentos em TI

O diretor da IDC também comentou sobre a relação entre investimento em TI e desempenho econômico. “O orçamento de TI das empresas está se dissociando do PIB. Independentemente das flutuações econômicas, as empresas precisam investir em tecnologia para se manterem competitivas na economia digital.”

Quanto à repatriação de workloads da nuvem para infraestruturas locais, Delai é cético. “Apesar de se falar muito sobre isso, a intensidade real de repatriação é baixa. Se fosse significativa, o mercado de nuvem não estaria crescendo a dois dígitos.”

Preocupações com a matriz energética

Embora o Brasil atraia investimentos em data centers, há preocupações sobre a infraestrutura energética do país. “Nossa matriz energética não é escalável de forma sustentável. Dependemos muito de hidrelétricas, que são vulneráveis a mudanças climáticas, afetando a confiabilidade dos data centers”, ponderou Delai.

O Data Center Cost Index (DCCI), da Turner & Townsend, destacou que a disponibilidade de energia é uma questão crucial na América Latina, especialmente pela dependência de hidrelétricas.

Críticas às políticas governamentais

Especialistas também têm criticado as políticas governamentais relacionadas a data centers no Brasil. Muitos argumentam que o plano atual é falho e que o dimensionamento do mercado está incorreto, resultando em duplicações e informações questionáveis. “Políticas baseadas em estudos equivocados não consideram a realidade do mercado”, afirmou um especialista.

Um olhar otimista

Apesar dos desafios, Delai se mostra otimista em relação ao futuro do setor. “O mercado brasileiro é importante e robusto. As empresas que aqui estão têm uma visão consciente e estão comprometidas com seu desenvolvimento”, concluiu.

Os investimentos expressivos em data centers no Brasil refletem a confiança das grandes empresas de tecnologia no potencial do mercado brasileiro, além da necessidade de atender a uma demanda crescente por serviços digitais avançados, para que esse potencial seja plenamente realizado, é imprescindível enfrentar os desafios estruturais e regulatórios existentes.

A combinação de esforços entre a iniciativa privada e políticas públicas eficazes será crucial para consolidar o Brasil como um líder tecnológico na região, assim, é vital que os benefícios da transformação digital alcancem toda a sociedade, promovendo desenvolvimento e inclusão digital.

O Brasil se apresenta como um hub promissor para data centers de big techs, com investimentos significativos que prometem transformar o cenário digital do país. No entanto, para que esses investimentos se traduzam em resultados efetivos, será necessário superar desafios e construir um ambiente favorável ao desenvolvimento tecnológico. A sinergia entre o setor público e privado será fundamental para garantir que o Brasil se torne um centro de excelência em tecnologia, beneficiando não apenas as empresas, mas toda a população.

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Natália Oliveira
Natália Oliveirahttps://www.itshow.com.br
Jornalista | Analista de SEO | Criadora de Conteúdo
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