O Brasil está diante de uma encruzilhada estratégica para se consolidar como um polo global de infraestrutura digital. A necessidade de um arcabouço regulatório moderno, o desafio da conectividade e a urgência da sustentabilidade foram os temas centrais debatidos durante o painel “Infraestrutura Pública Digital: Atratividade para Data Centers e Desenvolvimento Econômico”, realizado nesta segunda-feira (10) no seminário internacional “Convergência Digital: O Papel Multissetorial na Regulação das Telecomunicações”. O evento reuniu autoridades do setor público e privado para discutir soluções que permitam ao Brasil superar os desafios e atrair mais investimentos para o segmento.
O painel foi mediado pelo conselheiro do Conselho Consultivo da Anatel, Fabrício da Mota Alves, e contou com a presença de nomes como Igor Marchesini Ferreira, assessor especial do Ministério da Fazenda; Marcelo Motta, diretor de Cibersegurança e Soluções da Huawei; Alessandro Lombardi, presidente da Elea Data Centers; e Júlia Catão Dias, coordenadora do programa de Consumo Responsável e Sustentável do Idec.
Regulação e competitividade: o Brasil precisa reduzir custos e modernizar normas
A atual estrutura regulatória e tributária do Brasil tem sido um entrave para que o país alcance um papel de destaque no mercado global de data centers. Segundo Igor Marchesini, cerca de 60% da carga digital brasileira ainda roda fora do território nacional, e um dos principais motivos para isso é o alto custo operacional. “Hoje, é 30% mais caro manter um data center no Brasil do que no exterior. Estamos trabalhando para reverter esse quadro com a reforma tributária e outras medidas que aumentem nossa competitividade”, afirmou o assessor do Ministério da Fazenda.
Falta de mão de obra qualificada: um gargalo para a expansão do setor
Outro grande desafio apontado pelos especialistas é a carência de profissionais qualificados para atuar na expansão da infraestrutura digital no Brasil. Marcelo Motta, da Huawei, destacou que o país forma cerca de 50 mil engenheiros por ano, enquanto a China forma entre 20 e 30 vezes mais. “Se queremos transformar o Brasil em um hub global de infraestrutura, precisamos investir na capacitação da mão de obra local. Não basta apenas ter infraestrutura física; é necessário capital humano qualificado”, enfatizou.
Energia e inteligência artificial: os pilares para um Brasil mais competitivo
Para que o Brasil seja atrativo para o mercado de data centers, a energia é um fator determinante. Alessandro Lombardi, presidente da Elea Data Centers, destacou que um dos principais impeditivos para o crescimento do setor é o alto custo da eletricidade e a dificuldade de acesso a maquinário especializado. “Não basta apenas ter energia barata, precisamos também garantir capacidade computacional de ponta. A importação de equipamentos ainda é muito cara e burocrática, o que limita nosso crescimento frente a outras regiões do mundo”, afirmou Lombardi.
A falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento em Inteligência Artificial (IA) na América Latina também foi apontada como um problema crítico. “Enquanto outras regiões estão investindo massivamente em IA, aqui na América Latina, os recursos ainda são escassos. Isso impacta diretamente a nossa capacidade de inovar e competir no mercado global”, completou.
Sustentabilidade: o desafio do consumo energético dos data centers
O impacto ambiental da expansão dos data centers também foi um ponto de atenção durante o painel. Júlia Catão Dias, do Idec, alertou sobre o consumo energético elevado dessas infraestruturas e os riscos de aumento das desigualdades sociais caso não sejam adotadas medidas sustentáveis. “Para termos uma ideia, um único data center em São Paulo pode consumir a mesma quantidade de energia que toda a Região Metropolitana de Brasília. Precisamos garantir que esse crescimento aconteça de forma equilibrada e respeitando o meio ambiente”, afirmou.
Conclusão: caminhos para um Brasil mais competitivo
O painel reforçou a necessidade de um esforço conjunto entre setor público e privado para tornar o Brasil um polo global de data centers. Entre as prioridades estão a modernização da regulação, a redução da carga tributária, o investimento na formação de profissionais qualificados e a busca por soluções sustentáveis. Com um mercado digital em constante crescimento, o Brasil tem potencial para se consolidar como um player estratégico, desde que supere os desafios apresentados.
Siga o Itshow no LinkedIn e assine a nossa News para ficar por dentro de todas as notícias do setor de TI e Telecom!