20.6 C
São Paulo
quarta-feira, março 12, 2025
InícioColunistasFinanciamento e Incentivos para Cibersegurança: O Investimento que o Brasil Precisa

Financiamento e Incentivos para Cibersegurança: O Investimento que o Brasil Precisa

A segurança cibernética tornou-se um dos grandes desafios do nosso tempo, e o Brasil não está imune a essa realidade. Com ameaças que evoluem em ritmo acelerado, o país precisa alinhar seu investimento – tanto público quanto privado – com a magnitude dos riscos enfrentados. Este novo artigo da parceria entre o INCC e o Itshow apresenta os principais dados e comparativos em relação à essa temática, demonstrando porque é urgente ampliar os recursos nacionais destinados à proteção do ambiente digital.

Baixe o nosso material de estudo gratuito

O Cenário Atual: Descompasso entre Investimento e Risco

Apesar de iniciativas importantes, como a Lei Geral de Proteção de Dados e a criação de órgãos reguladores, o Brasil ainda vive em um descompasso gritante entre o investimento dedicado à segurança cibernética e o risco cibernético enfrentado pelo país e cada um de seus 229 milhões de habitantes. A exemplo disso, enquanto a Cybersecurity and Infrastructure Security Agency dos EUA conta com um orçamento de quase US$ 3 bilhões, a ANPD – Agência Nacional de Proteção de Dados, operou com apenas R$ 24 milhões em 2024.

A diferença entre os dois países ajustada pelo PIB, representa um investimento cerca de 49 vezes menos que o dos órgãos norte americanos. Este cenário evidencia a necessidade de uma reestruturação urgente dos investimentos no setor público para elevar a capacidade de resposta do país frente aos ataques cibernéticos.

Quando comparados os investimentos em cibersegurança em outros países, a diferença segue muito clara. Em 2023, além dos bilhões destinados pelos EUA, países como França e Reino Unido também investiram valores significativos – respectivamente, €26 milhões e cerca de £85,3 milhões – em seus sistemas de proteção digital. Essas cifras demonstram que, para garantir um ambiente digital seguro, é preciso que o investimento seja proporcional à complexidade e à escala dos riscos.

Um outro aspecto imprescindível na lista de investimento, está situado no âmbito das forças de segurança pública. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 destaca que, em 2023, o Brasil gastou R$137,9 bilhões na função segurança pública, crescimento de 4,9% em relação ao ano anterior.

Os estados e DF declararam um total de gastos de R$110,4 bilhões, crescimento de 3,6% em relação ao período de 2022, os municípios gastaram R$10,9 bilhões, variação de 13,2% em relação ao ano anterior, e a União declarou um total de gastos de R$16,4 bi, crescimento de 8,7% em relação ao volume de gastos do ano anterior.

Entretanto, além dos crescentes desafios de segurança pública no âmbito da criminalidade em ambiente físico, a análise sobre eficiência destes gastos e destinação para atividades ligadas à informação, inteligência policial e cibersegurança é prejudicada devido à falta de padronização nas classificações de despesas, ou seja, não existem rubricas específicas para avaliar os gastos destinados a ações ligadas ao combate de crimes cibernéticos. O que nos leva a crer que os investimentos atuais estão dispersos e não são prioridade no orçamento nacional.

Ainda, em 2024, observou-se uma redução de aproximadamente R$ 400 milhões nas verbas destinadas ao Ministério da Defesa, Polícia Federal e Abin – Agência Nacional de Inteligência. Essas dificuldades e retração orçamentária afeta a capacidade das forças de segurança de se adaptarem às novas ameaças cibernéticas, reforçando a necessidade de redirecionar e ampliar os recursos disponíveis para a capacitação e modernização das estruturas de combate ao cibercrime.

Incentivos para o Setor Privado: Fortalecendo a Cadeia de Resiliência

Outro aspecto relevante de investimento está em identificar públicos vulneráveis no espaço cibernético e que tem influência na cadeia de resiliência nacional. Quando olhamos para o setor empresarial e o reflexo da insegurança das empresas para a sociedade como um todo, as micro, pequenas e médias empresas (PMEs) se destacam por serem os alvos preferenciais dos ciberataques.

Embora 80,6% destas empresas reconheçam a importância da cibersegurança, apenas 31% realmente priorizam investimentos nessa área, criando um descompasso perigoso entre percepção e prática. Dados indicam que 62% dos ataques são direcionados a PMEs, reforçando a urgência de linhas de crédito e incentivos fiscais que possam ajudar esses negócios a se protegerem melhor.

Como solução, são sugeridas medidas como a criação de linhas de crédito especiais para PMEs via BNDES, o oferecimento de incentivos fiscais e subsídios para empresas que investem em tecnologia, seguros e treinamento de segurança cibernética, além do fortalecimento de políticas de apoio e financiamento através de programas como o PRONAMPE, que já vem auxiliando o desenvolvimento de negócios em outros setores.

Outra vertente que aparece frequentemente quando falamos em garantir a soberania nacional em cibersegurança é o incentivo ao mercado nacional de cibersegurança. Atualmente, a maioria das grandes empresas de segurança que atuam no Brasil são estrangeiras. O relatório do INCC também ressaltou a importância de se desenvolver tecnologias e soluções nacionais, o que contribuirá para reduzir a dependência externa e garantir maior soberania sobre dados estratégicos.

Uma política de incentivo que envolva tanto linhas de financiamento específicas quanto incentivos para projetos de pesquisa e desenvolvimento, pode estimular o surgimento e o fortalecimento de startups e empresas locais, promovendo um ecossistema mais autônomo e resiliente.

Investir Hoje para Proteger o Futuro Digital

Para que o Brasil possa acompanhar os avanços internacionais em cibersegurança, é imprescindível que os investimentos sejam robustos e alinhados com os desafios atuais. A discrepância entre o orçamento dos órgãos reguladores brasileiros e os investimentos realizados em países líderes evidencia a necessidade de uma mudança urgente na forma de financiar a segurança digital.

Uma das medidas estratégicas para melhorar o cenário nacional é a criação de uma Agência Nacional de Segurança Cibernética, que, pelas propostas já circuladas pelo governo federal, teria um custo estimado em R$ 600 milhões a partir do quinto ano, e seria responsável por centralizar, coordenar e implementar políticas públicas focadas na proteção digital.

Tal proposta ainda não foi desenhada e enviada ao Congresso Nacional pelo governo, mas já é cobrada e aguardada tanto pelos parlamentares, quanto pelo setor privado. Além disso, sugerem-se mudanças na forma como os gastos com cibersegurança são registrados no orçamento federal, permitindo uma análise mais precisa e um redirecionamento dos recursos para onde são mais necessários.

Ampliar os investimentos e incentivos para o setor privado, além de adotar práticas de transparência orçamentária são passos fundamentais para transformar o cenário nacional. Somente assim o Brasil poderá garantir não apenas a proteção dos seus dados e infraestruturas críticas, mas também o desenvolvimento de um ambiente digital seguro e sustentável para todos.

Este é um convite para que governo, setor privado e sociedade civil se unam em prol de um investimento inteligente e estratégico, capaz de elevar a segurança cibernética do país e assegurar um futuro digital mais confiável e resiliente.

Siga o Itshow no LinkedIn e assine a nossa News para ficar por dentro de todas as notícias do setor de TI e Telecom!

Postagens recomendadas
Outras postagens