Avaliar o nível de evolução digital de uma empresa é uma tarefa complexa, mas representa um diferencial estratégico para setores que dependem fortemente da inovação, como telecomunicações e saúde. Em um ambiente competitivo e altamente regulado, compreender em que estágio tecnológico a organização se encontra permite direcionar investimentos, reduzir riscos e acelerar a transformação digital com mais segurança. Este artigo apresenta métodos, casos, métricas e desafios para medir a maturidade tecnológica nessas indústrias.
O que é maturidade tecnológica e por que ela importa
A maturidade tecnológica corresponde ao grau de preparo da organização em infraestrutura, processos, cultura e competências para adotar e expandir o uso de soluções digitais. Ela não se limita à aquisição de softwares ou equipamentos de última geração, mas envolve a capacidade de integrar esses recursos de maneira sustentável e alinhada ao negócio.
Mensurar esse nível ajuda a tomar decisões mais embasadas, identificar falhas ocultas e estabelecer planos realistas de evolução. No Brasil, um estudo da IDC Brasil em parceria com a Oi Soluções revelou que os gastos com tecnologia cresceram 8,5% em 2022, especialmente em segurança da informação, modernização de infraestrutura e inovação aplicada aos negócios. Além disso, dados globais mostram que o país já figura entre os dez maiores mercados de tecnologia da informação, com investimento de 45,7 bilhões de dólares em software, hardware e serviços em 2021. Esses números reforçam que as organizações estão direcionando recursos para digitalização, mas o grau de maturidade ainda varia bastante entre setores e empresas.
Panorama setorial: telecom e saúde
No setor de telecomunicações, a maturidade tecnológica está associada à capacidade de operar redes avançadas, explorar tecnologias emergentes como 5G e Internet das Coisas e inovar em serviços digitais. De acordo com a Huawei, o Brasil já dá sinais de maturidade no 5G. Entre 2022 e 2025, o aumento médio de receita por usuário em operadoras que investiram na tecnologia chegou a 25%. Outra pesquisa da Deloitte indica que mais de 80% das empresas brasileiras pretendem implementar serviços sem fio em nuvem nos próximos três anos, sinalizando disposição clara para avanços tecnológicos.
No setor de saúde, a situação é distinta. O desafio principal não está apenas em incorporar novas tecnologias, mas em garantir integração e interoperabilidade entre sistemas. Um estudo que avaliou 187 hospitais brasileiros revelou um índice médio de maturidade digital de 46,19%. Isso demonstra que muitos hospitais ainda se encontram em fases iniciais ou intermediárias de digitalização, sem plena integração de dados clínicos e administrativos. Em resposta a esse cenário, o Ministério da Saúde lançou o Índice Nacional de Maturidade em Saúde Digital, ferramenta que mede o grau de evolução tecnológica em estados e municípios.
Pesquisas aplicadas em capitais como Curitiba e Florianópolis também mostraram níveis distintos de evolução, confirmando que a maturidade tecnológica em saúde ainda é desigual no país.
Modelos de avaliação e frameworks
A medição da maturidade pode ser realizada a partir de diferentes modelos. O CMMI, ou Capability Maturity Model Integration, é um dos mais utilizados e classifica organizações em níveis que vão do inicial ao otimizado. Já o TRL, Technology Readiness Level, é bastante empregado em pesquisas e avalia tecnologias da fase conceitual até a aplicação prática em larga escala. No Brasil, existem iniciativas voltadas à saúde digital, como o Brazilian Digital Health Indexing, que considera eixos de atenção, cidadania e interoperabilidade. Outra metodologia aplicada em hospitais brasileiros, conhecida como DMI-H, examina dimensões como serviços, informações e cultura organizacional.
A escolha do modelo mais adequado depende do objetivo da empresa e da disponibilidade de dados. Independentemente da abordagem, é essencial que a medição abranja tanto a infraestrutura quanto a governança e o fator humano, sem negligenciar aspectos regulatórios.
Indicadores relevantes em telecom
Nas empresas de telecomunicações, os principais indicadores de maturidade tecnológica estão ligados ao grau de automação das redes, à adoção de tecnologias como 5G e edge computing, ao nível de virtualização de funções de rede e à capacidade de monitoramento em tempo real. Outro fator decisivo é a segurança cibernética, já que esse setor é alvo constante de ataques digitais e precisa seguir rigorosamente normas de conformidade.
Além disso, o uso de big data e analytics representa um sinal claro de evolução. Empresas que conseguem transformar dados de clientes e de redes em insights para otimização de serviços e criação de novos produtos demonstram maturidade superior. A velocidade com que lançam novos serviços digitais também serve como termômetro da agilidade e da capacidade de inovação.
Critérios de análise em saúde
No setor de saúde, a maturidade tecnológica pode ser observada pela presença de prontuários eletrônicos integrados, pela oferta de consultas via telemedicina e pelo uso de inteligência artificial em diagnósticos. A interoperabilidade entre sistemas hospitalares e laboratórios é outro critério essencial, pois garante que as informações dos pacientes circulem de forma confiável e segura entre diferentes instituições.
A proteção de dados também é um componente-chave, especialmente diante da Lei Geral de Proteção de Dados. Clínicas e hospitais que estabelecem políticas de governança da informação, aplicam protocolos rígidos de cibersegurança e treinam profissionais em práticas digitais tendem a se destacar em maturidade.
Desafios da mensuração
Embora indispensável, medir a maturidade tecnológica não é simples. Muitas empresas enfrentam dificuldades por dependerem de sistemas legados que não conversam entre si. A resistência cultural de equipes acostumadas com processos manuais também representa obstáculo. O custo de atualização tecnológica é outro fator relevante, já que investimentos em digitalização exigem continuidade e planejamento estratégico.
Outro desafio está na ausência de métricas padronizadas que permitam comparações consistentes entre empresas de diferentes portes e segmentos. Além disso, a velocidade de surgimento de novas tecnologias obriga as organizações a revisarem constantemente seus métodos de avaliação.
Benefícios da avaliação contínua
Realizar avaliações periódicas de maturidade tecnológica traz ganhos significativos. O primeiro benefício é a identificação clara de lacunas, permitindo que os investimentos sejam direcionados para áreas críticas. Outro ponto é a melhoria de processos, já que a análise de maturidade ajuda a alinhar a tecnologia às metas do negócio.
Empresas mais maduras digitalmente tomam decisões estratégicas com base em dados concretos e estão mais preparadas para enfrentar crises, sejam elas relacionadas a cibersegurança, falhas técnicas ou mudanças regulatórias. Além disso, a evolução constante confere vantagem competitiva, pois organizações mais digitalizadas conseguem inovar com maior rapidez e atender melhor a clientes e pacientes.
O futuro da maturidade tecnológica em telecom e saúde será moldado por tecnologias disruptivas. Nas telecomunicações, o 5G abre caminho para serviços que exigem baixa latência, como carros autônomos e cidades inteligentes. Na saúde, a inteligência artificial terá papel cada vez mais relevante em diagnósticos, análise de imagens e predição de doenças.
Com esse avanço, será necessário desenvolver métricas mais sofisticadas de avaliação, capazes de refletir não apenas a infraestrutura, mas também a capacidade de inovar continuamente, integrar dados em tempo real e preservar a ética no uso de informações sensíveis.

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