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terça-feira, agosto 12, 2025
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Repatriação em nuvem: por que esse termo pode dominar a estratégia de TI em 2026

A confiança cega na nuvem pública começa a ceder espaço a uma abordagem mais crítica e estratégica. Com a escalada dos custos, as crescentes exigências regulatórias, riscos geopolíticos e questionamentos sobre soberania digital, empresas de todos os portes passam a considerar a repatriação de dados como caminho para maior controle, previsibilidade e resiliência.

A tendência não é meramente especulativa. De acordo com um levantamento do Barclays feito com líderes de TI em 2024, 83% das empresas planejam migrar cargas de trabalho da nuvem pública para ambientes privados ou locais, número quase duas vezes maior do que os 43% registrados em 2021. Ainda mais significativo: 94% dos CIOs já participaram de algum projeto de repatriação em seus ambientes corporativos, e 25% das empresas no Reino Unido já trouxeram de volta mais da metade de suas cargas para infraestrutura própria ou colocation.

A virada estratégica pós-pandemia: da migração para a readequação

Durante a pandemia, a adoção acelerada de soluções em nuvem foi vital para a continuidade dos negócios. Redução de custos, escalabilidade e agilidade eram os principais atrativos. No entanto, passados cinco anos, a maturidade digital das empresas elevou o nível de exigência, e os pontos cegos dessa dependência começam a aparecer.

Empresas nativas da nuvem, inclusive startups com DNA digital, estão entre as que mais sentem os efeitos colaterais da escalabilidade ilimitada: custos imprevisíveis, lock-in com fornecedores e dificuldades em garantir conformidade regulatória em múltiplas jurisdições. O que antes parecia sinônimo de inovação, agora é motivo de revisão.

Por que repatriar? Custos, compliance e controle

O retorno parcial ou total de cargas para datacenters próprios ou estruturas de colocation é motivado por uma combinação de fatores:

1. Custos cada vez mais imprevisíveis

As cobranças baseadas em uso variável (pay-as-you-go) podem parecer vantajosas, mas frequentemente geram surpresas orçamentárias. Em setores com alta volatilidade de tráfego, esses custos se tornam proibitivos. Ambientes privados ou híbridos oferecem maior previsibilidade financeira e permitem negociações mais alinhadas com a estratégia de longo prazo da empresa.

2. Soberania e conformidade com leis de dados

Com a entrada em vigor de regulações como o GDPR, LGPD e leis específicas por setor (como o setor financeiro e de saúde), manter dados sob jurisdição nacional deixou de ser apenas uma preocupação jurídica, é uma questão de governança de risco. Provedores globais, especialmente norte-americanos, têm dificuldades em assegurar que os dados não transitem por outras jurisdições durante o processamento, o que pode violar normas locais e expor empresas a penalidades severas.

3. Geopolítica digital

A dependência de infraestrutura baseada fora do país representa uma ameaça estratégica. Mudanças de legislação, como sanções comerciais ou tarifas, podem impactar diretamente os custos e a continuidade das operações. O histórico recente de tensões comerciais (como a guerra comercial EUA-China e as tarifas da era Trump) reforça essa preocupação.

Mais controle, mais valor: o que a repatriação habilita

Além de reduzir riscos, a repatriação de dados pode abrir novas possibilidades de monetização e inovação:

• Dados privados: ativos subutilizados

Estudos mostram que dados privados superam dados públicos em uma proporção de 9 para 1. Isso significa que a maior parte do valor potencial está nos dados internos que as empresas já possuem. Repatriar esses dados para ambientes sob controle próprio permite aplicar análises avançadas, machine learning e inteligência artificial de forma mais segura e sob domínio completo.

• IA corporativa com segurança e propriedade intelectual

Enquanto soluções como ChatGPT ou Copilot oferecem agilidade, elas não garantem privacidade nem exclusividade sobre os modelos treinados. Ao investir em infraestrutura própria para IA, com hardware especializado (como GPUs), ambientes isolados e modelos treinados com dados proprietários, empresas protegem sua propriedade intelectual e criam diferenciais competitivos sustentáveis.

Colocation e nuvem híbrida: a terceira via da arquitetura de TI

Repatriar não é voltar ao modelo do passado. A tendência é o crescimento de modelos híbridos e multi-cloud, em que cada tipo de carga de trabalho encontra o ambiente mais adequado. A nuvem pública ainda será essencial para workloads elásticos e de curta duração. Mas dados críticos, operações de missão crítica e recursos de IA de ponta podem (e devem) ser mantidos sob estruturas privadas ou em colocation.

Provedores locais de nuvem, inclusive no Brasil, estão ganhando espaço nesse contexto, oferecendo vantagens como:

  • Compliance com a LGPD
  • Baixa latência
  • Atendimento personalizado
  • Infraestrutura sob jurisdição nacional

Tarifas de dados: risco real ou tendência especulativa?

Especialistas alertam para um cenário ainda pouco explorado, mas potencialmente disruptivo: a tarifação do trânsito internacional de dados, especialmente entre grandes potências. Setores intensivos em dados, como serviços financeiros, e-commerce e mídia, podem ser fortemente impactados.

Se políticas protecionistas avançarem, o custo da dependência de nuvem pública global pode aumentar drasticamente. Empresas que não se anteciparem podem sofrer tanto financeiramente quanto estrategicamente.

2025: o ano da reavaliação da nuvem corporativa

O próximo ano será crítico. CIOs e CTOs precisarão reavaliar suas arquiteturas de TI com foco em sustentabilidade operacional, controle de custos e alinhamento estratégico. A repatriação, seja total ou parcial, não é um retrocesso, mas um ajuste maduro à realidade atual.

Mais do que buscar uma “nova moda” em tecnologia, trata-se de adotar um modelo racional, baseado em uma combinação inteligente de ambientes, públicos, privados e locais para atender às exigências regulatórias, orçamentárias e operacionais com segurança e eficiência.

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Cíntia Ferreira
Cíntia Ferreira
Chief Operating Officer no Itshow, portal líder de notícias em Tecnologia e Telecom, com base em São Paulo. Com ampla experiência em gestão operacional e estratégia de alto impacto, ela conduz iniciativas que impulsionam inovação, eficiência e operações escaláveis. Reconhecida por liderar equipes multidisciplinares e integrar soluções de negócios e tecnologia,
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