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sexta-feira, setembro 26, 2025
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SGP.32: o novo padrão eSIM IoT que viabiliza a massificação do IoT

A forma de identificar e conectar dispositivos móveis evoluiu dramaticamente nas últimas décadas. Passamos dos SIMs físicos tradicionais (chips removíveis em cada celular) para o eSIM embutido, que permite trocar de operadora sem trocar o chip.

No contexto de IoT, a GSMA introduziu padrões específicos de Provisionamento Remoto de SIM (RSP): primeiro o M2M eSIM (padrão SGP.02, focado em machine-to-machine), seguido pelo eSIM Consumer (padrão SGP.22, para dispositivos de consumidor). Agora, em 2025, surge o SGP.32, um novo padrão de eSIM voltado para IoT, que combina os pontos fortes dos anteriores e supera suas limitações.

A forma de identificar e conectar dispositivos móveis evoluiu dramaticamente nas últimas décadas. Passamos dos SIMs físicos tradicionais (chips removíveis em cada celular) para o eSIM embutido, que permite trocar de operadora sem trocar o chip. No contexto de IoT, a GSMA introduziu padrões específicos de Provisionamento Remoto de SIM (RSP): primeiro o M2M eSIM (padrão SGP.02, focado em machine-to-machine), seguido pelo eSIM Consumer (padrão SGP.22, para dispositivos de consumidor). Agora, em 2025, surge o SGP.32, um novo padrão de eSIM voltado para IoT, que combina os pontos fortes dos anteriores e supera suas limitações.

O SGP.32 é extremamente relevante em 2025 porque promete destravar uma nova escala de conectividade para a Internet das Coisas. Ele foi concebido como um divisor de águas para viabilizar a massificação do IoT nos próximos anos.

Operadoras e empresas veem o SGP.32 como uma espécie de solução universal para implantar e gerenciar dispositivos IoT em larga escala, com mais flexibilidade, segurança e eficiência. Analistas projetam que facilitar a troca remota de operadoras e perfis SIM deve acelerar exponencialmente a inclusão de novos dispositivos conectados, com a ativação de bilhões de novas conexões IoT nos próximos quatro anos. Em suma, o SGP.32 chega para simplificar a gestão de conectividade e impulsionar a expansão do mercado de IoT globalmente.

O que é o SGP.32?

O SGP.32 é um padrão técnico definido pela GSMA que estabelece a arquitetura e as especificações para o gerenciamento remoto de eSIMs em dispositivos IoT. Em outras palavras, descreve como baixar, ativar, desativar e gerenciar perfis de operadora em dispositivos IoT à distância, sem interação humana no dispositivo.

O objetivo central é oferecer uma solução sob medida para IoT, atendendo aparelhos com restrições de rede ou interface, como sensores sem tela ou dispositivos em redes de baixa potência. Esse novo padrão aproveita a base do modelo de eSIM Consumer, mas introduz componentes e fluxos adaptados ao IoT.

A grande diferença em relação ao antigo eSIM M2M (SGP.02) é a mudança do paradigma de gestão de perfis. Em vez de depender do dispositivo ou de SMS para iniciar mudanças, o SGP.32 adota um modelo dirigido pelo servidor.

Uma plataforma remota o eSIM IoT Remote Manager (eIM) pode baixar ou alterar perfis diretamente nos dispositivos, sem necessidade de ação do usuário final. Na prática, o SGP.32 combina o melhor dos dois mundos (M2M e Consumer): mantém a autonomia do modelo M2M, sem depender de usuário ou interface local, e simplifica a arquitetura inspirando-se no modelo Consumer.

As limitações do padrão anterior evidenciavam a necessidade do SGP.32. No eSIM M2M (SGP.02), a troca remota de perfil envolvia comandos via SMS binário enviados ao dispositivo. Isso adicionava complexidade e latência, além de inviabilizar o uso em redes IoT modernas como NB-IoT, que não suportam SMS.

Além disso, o SGP.02 utilizava uma entidade de gerenciamento (SM-SR) configurada na fabricação do chip, o que “amarrava” o eSIM a um provedor e dificultava mudanças de operadora após o dispositivo entrar em campo. O SGP.32 resolve esses pontos: elimina a dependência de SMS ao adotar protocolos baseados em IP, mais rápidos e confiáveis, e remove a figura do SM-SR, evitando o bloqueio a um único fornecedor de conectividade.

Em resumo, o novo padrão foi desenvolvido visando simplicidade e eficiência, para atender classes inteiras de dispositivos IoT com baterias, memória e processamento limitados que antes não conseguiam se beneficiar plenamente do eSIM.

Do ponto de vista de arquitetura, o SGP.32 traz uma configuração mais enxuta e flexível. Os componentes centrais incluem o eUICC (o chip eSIM em si, que armazena múltiplos perfis), o IoT Profile Assistant (IPA) e o eSIM IoT Remote Manager (eIM).

O IPA é equivalente ao “assistente de perfil” do modelo anterior (LPA), adaptado para IoT. Ele atua como intermediário dentro do dispositivo, recebe comandos do eIM e se comunica com o eUICC.

O IPA pode estar implementado no próprio hardware do SIM (IPA embutido, IPAe) ou no software do dispositivo (IPA no dispositivo, IPAd), oferecendo flexibilidade aos fabricantes. Já o eIM é o gerente remoto dos perfis: um servidor na nuvem que orquestra a instalação, ativação, desativação e remoção de perfis nos eSIMs de dispositivos IoT.

O eIM emite comandos padronizados (via interfaces seguras definidas pela GSMA) para o IPA nos dispositivos, efetivando as mudanças de forma remota e massiva. Importante: o SGP.32 reutiliza a infraestrutura de SM-DP+ já existente do eSIM Consumer. Ou seja, continua havendo um servidor de preparação e download de perfis (SM-DP+), agora trabalhando em conjunto com o eIM para atender dispositivos IoT. Essa compatibilidade facilita a adoção do SGP.32 pelas operadoras, sem precisar reconstruir toda a infraestrutura.

Outra característica fundamental: o SGP.32 é agnóstico quanto ao form factor do SIM e é plenamente compatível com o conceito de iSIM (integrated SIM). O iSIM é a funcionalidade de eUICC embutida diretamente no chipset principal do dispositivo, em vez de um chip separado.

Já existem módulos integrados no mercado combinando SGP.32 e iSIM voltados a aplicações LTE-M/NB-IoT. Isso mostra que o novo padrão foi pensado para suportar a próxima geração de SIMs integrados. Em dispositivos IoT ultracompactos ou de baixíssimo consumo, o iSIM traz vantagens de espaço e eficiência energética, e o SGP.32 está alinhado a essa tendência. eUICCs certificados em SGP.31/32 na forma de iSIM já permitem gerenciamento de conectividade de forma transparente, minimizando consumo de energia e o tamanho dos aparelhos. Em suma, seja um eSIM soldado ou um iSIM integrado ao processador, o SGP.32 consegue gerenciar remotamente os perfis, garantindo compatibilidade com as novas implementações de SIM no mercado IoT.

Avanços técnicos

Provisionamento remoto simplificado e automatizado. No modelo anterior, muitas vezes era necessária intervenção manual (por exemplo, o usuário escanear QR code no eSIM consumer) ou o uso de SMS técnicos no M2M. Com o SGP.32, adota-se o “zero-touch provisioning”: o próprio servidor (eIM) pode empurrar perfis e comandos para os dispositivos de forma autônoma, por canais IP seguros, assim que detectada a necessidade.

Essa abordagem push substitui o método pull iniciado pelo dispositivo ou usuário e elimina dependências de interface local. Em vez de solicitar manualmente o download de um perfil, o eIM pode instruir dezenas de milhares de dispositivos a trocarem de operadora automaticamente em caso de necessidade, como perda de sinal ou política de menor custo.

O SGP.32 também permite downloads de perfis em lote, otimizando o processo para grandes volumes simultâneos. O uso de um template de perfil leve torna a transferência de dados mais eficiente, reduzindo o tráfego necessário para baixar um novo perfil. Em resumo, habilita-se um gerenciamento massivo de conectividade automatizado e ágil, crucial para milhões de dispositivos IoT distribuídos pelo mundo.

Segurança reforçada e criptografia ponta a ponta. A segurança é um pilar central do SGP.32, respaldado pelas especificações GSMA. Toda a comunicação de provisionamento remoto utiliza protocolos seguros (TLS/DTLS) e autenticação criptográfica mútua entre os componentes.

Os perfis de operadora são protegidos contra acesso não autorizado e tentativas de fraude ou adulteração. O padrão incorpora melhores práticas como operações assíncronas e procedimentos de rollback: se uma atualização de perfil falhar, há mecanismos para reverter ao estado anterior e garantir que o dispositivo não fique desconectado. A GSMA mantém programas de acreditação de segurança (como o SAS) para os servidores eIM, garantindo que apenas provedores autorizados possam gerir perfis.

Escalabilidade para milhões de dispositivos de baixo custo. O SGP.32 foi projetado para grandes volumes, com escalabilidade horizontal muito maior que as implementações anteriores. Ele facilita administrar frotas massivas de SIMs com intervenção mínima.

Um dos entraves do passado era o alto overhead operacional por SIM, o que não escalava para milhões de sensores em uma cidade inteligente. Com eIM e fluxos simplificados, é possível gerenciar perfis em lote e em fila, coordenando atualizações de milhares de dispositivos de forma orquestrada.

A redução de etapas manuais e integrações complexas acelera o time-to-market. O SGP.32 eliminou gargalos como SMS individuais e dependência de um único roteador seguro (SM-SR). Com comunicações IP mais diretas e a possibilidade de múltiplos eIM operando em paralelo, o novo padrão atende a demanda de conexões de forma exponencial. Cenários antes inviáveis como smart cities com dezenas de milhões de dispositivos conectados tornam-se factíveis, com otimização de custos ao evitar trocas físicas de SIM e reduzir erros de configuração.

Exemplos técnicos de aplicação. Rastreadores de ativos logísticos podem viajar por diferentes países e redes. Com eSIM IoT, um tracker baixa automaticamente um perfil local ao entrar em um novo país, garantindo cobertura contínua sem intervenção. Se perder sinal da operadora A, o IPA aciona o eIM para provisionar um perfil da operadora B sob demanda.

Medidores inteligentes de utilities instalados em residências, tipicamente em NB-IoT ou LTE-M, muitas vezes ficam em locais de difícil acesso. Com SGP.32, podem vir de fábrica com um perfil de bootstrap e receber OTA o perfil da operadora com melhor cobertura na região, sem visita de técnico. No agronegócio, sensores em áreas rurais podem alternar entre conectividades para otimizar sinal e custo, tudo remotamente.

Wearables e dispositivos de saúde com interface limitada também ganham: poderão ser ativados e gerenciados remotamente, viabilizando distribuição em massa de dispositivos médicos conectados prontos para uso. O primeiro módulo comercial compatível com SGP.32 já cita aplicações que vão de terminais de pagamento (POS) a cidades inteligentes e dispositivos residenciais, ilustrando a abrangência do padrão. A tecnologia atende desde um simples sensor de temperatura até veículos conectados, facilitando deployment e operação de IoT em qualquer escala.

Implicações de negócios

Para operadoras móveis e MVNOs. O SGP.32 abre oportunidades para modelos comerciais mais flexíveis. Como o eSIM IoT permite armazenar e alternar entre múltiplos perfis, as operadoras podem vender assinaturas multioperadora ou parcerias em que um dispositivo use diferentes redes conforme necessidade.

Isso viabiliza ofertas de coverage-on-demand (o dispositivo usa a rede de melhor cobertura em cada região) ou modelos pay-per-use, nos quais o SIM só consome créditos quando estiver ativo em determinada rede. Elimina-se uma parcela considerável de OPEX: não é mais necessário fabricar, distribuir e trocar SIMs físicos para cada mudança de plano ou operadora, pois todo o processo é remoto.

Operadoras podem manter SIMs em espera nos dispositivos, ativados apenas quando o cliente final coloca o produto em uso, otimizando recursos. Em lançamento de serviços, o SGP.32 acelera o time-to-market: acordos globais permitem provisionar conectividade em milhares de dispositivos recém-fabricados sem despachar lotes de SIMs ou coordenar instalações locais. As teles que abraçarem o SGP.32 tendem a ganhar eficiência operacional e novos caminhos de receita; quem demorar pode ficar preso a modelos menos flexíveis.

Para empresas usuárias (B2B). Organizações em indústria, logística, varejo, agronegócio e utilities passam a ter maior controle e visibilidade sobre a conectividade dos dispositivos. É possível integrar a gestão de eSIM ao MDM ou à plataforma de IoT, permitindo monitorar e ajustar perfis remotamente em tempo real.

Isso traz transparência sobre operadoras usadas, níveis de sinal e consumo de dados por perfil, facilitando o gerenciamento de frotas globais. Implantações multinacionais ficam mais simples: uma única SKU com eSIM pode ser enviada a vários países e cada unidade recebe um perfil local OTA conforme regulamentações e custos.

A empresa não precisa negociar antecipadamente SIMs físicos locais nem lidar com múltiplos fornecedores. Pode alternar remotamente de fornecedor ao encontrar melhor preço ou cobertura, reduzindo o risco de vendor lock-in. Há também ganhos de confiabilidade: se uma operadora falhar, o dispositivo migra para outra e mantém a operação, algo crucial em aplicações críticas.

Para o ecossistema IoT em geral. O SGP.32 atua como catalisador de escala e inovação. Em logística e transporte, rastreadores com eSIM IoT tornam cadeias globais mais eficientes, pois o dispositivo muda de rede sem interrupções. No automotivo, veículos conectados podem sair de fábrica com conectividade neutra e localmente ajustável, com ativação remota conforme o país do consumidor.

Na agricultura de precisão, sensores em áreas remotas conectam-se pela melhor rede disponível, configurados OTA, ampliando a adoção no campo. Em smart cities, onde haverá milhões de dispositivos, o SGP.32 oferece uma forma prática de gerenciar conexões de modo centralizado e dinâmico. Setores como energia e saúde também colhem benefícios, favorecendo a ativação de bilhões de novas conexões IoT globalmente.

Na América Latina e no Brasil, o potencial é grande em utilities, agronegócio, logística e cidades inteligentes. Com o SGP.32, soluções nessas áreas poderão escalar com menos atrito regulatório e operacional, cumprindo exigências locais (como perfis de operadoras nacionais homologadas) sem trocar fisicamente de SIM.

Isso cria oportunidades para novas entrantes, como MVNOs especializadas em IoT, que podem oferecer conectividade multioperadora sob medida para diferentes verticais. O padrão tende a ampliar o ecossistema de fornecedores, derrubar barreiras de entrada e permitir que a conectividade seja tratada como software em nuvem, escalável e orquestrável.

Desafios e pontos de atenção

Adoção regulatória e alinhamento com órgãos governamentais. A escala do eSIM IoT depende de regulações nacionais acompanharem a evolução. No Brasil, é necessário que a Anatel e órgãos equivalentes atualizem normas para abranger o provisionamento remoto de SIM em IoT. Questões como homologação de módulos e certificação de plataformas devem ser endereçadas.

Já há movimento nesse sentido: fabricantes globais vêm lançando módulos Cat-M/NB-IoT com firmware SGP.32 que obtêm certificações locais, incluindo Anatel. Ainda assim, podem existir etapas burocráticas para liberar plenamente funcionalidades de troca remota de perfil, especialmente relativas à numeração, portabilidade e requisitos de segurança nacional.

Outro ponto é o roaming permanente versus perfis locais. Muitas autoridades não permitem que dispositivos fiquem indefinidamente em roaming internacional. O SGP.32 oferece a possibilidade técnica de carregar perfis de operadoras locais para cumprir essas exigências, mas serão necessários acordos e clareza regulatória para uso transparente, como o download automático de um perfil brasileiro quando o dispositivo for implantado no país.

Interoperabilidade e transição tecnológica. Como todo novo padrão, o SGP.32 enfrenta o desafio de interoperabilidade entre diferentes atores e com legados. Embora reutilize componentes do eSIM consumer (SM-DP+), não há retrocompatibilidade direta com o eSIM M2M antigo. Dispositivos ou plataformas baseados em SGP.02 não conseguem “conversar” com os novos eIMs sem atualização, e não existe um processo padronizado de migração do M2M para o IoT.

Operadoras e MVNEs que investiram em SGP.02 precisarão planejar a transição, possivelmente rodando ambas as arquiteturas em paralelo por alguns anos. Do lado dos dispositivos, bases já em campo com eSIM M2M não poderão ser atualizadas para SGP.32 remotamente, criando uma convivência de tecnologias. Testes de certificação, como os SGP.33 da GSMA, são cruciais para garantir que eUICC, eIM e demais componentes interoperem adequadamente.

Custos iniciais de implementação. Adotar o SGP.32 implica investimento em novas infraestruturas de software (implantação do eIM, integração com SM-DP+, atualizações em sistemas de suporte) e certificações de segurança, além de treinamento de equipes. Players menores podem optar por soluções de terceiros (eSIM-as-a-Service), ainda que com custo adicional por dispositivo.

Esses investimentos podem retardar a adoção até que o business case se prove. A concorrência deve derrubar custos ao longo do tempo, com ofertas comerciais prontas reduzindo barreiras de entrada. Ainda assim, quem entrar primeiro enfrentará a curva de aprendizado e ajustes no caminho. Relatórios apontam que o SGP.32 traz complexidades novas e riscos que precisam ser gerenciados, mesmo entregando flexibilidade e redução de OPEX. Projetos-piloto antes do rollout completo ajudam a diluir custos e a ganhar experiência operacional.

Governança global de perfis e coordenação multilateral. Um único dispositivo pode carregar vários perfis de diferentes operadoras ao longo da vida útil, mudando conforme necessidade. Surge o desafio de orquestrar isso em escala global: coordenar operadoras, garantir disponibilidade de perfis em cada país, manter auditoria das mudanças e assegurar experiência consistente.

Plataformas de orquestração de eSIM tendem a emergir para facilitar a ponte entre múltiplos operadores e países, garantindo compliance e performance. Modelos de negócio para troca de perfis precisarão ser definidos (como tarifar mudanças para perfis locais e eventuais marketplaces de perfis). Papéis e responsabilidades devem ser claros: quem controla o eIM em cada cenário cliente empresarial, operadora principal ou integrador?

O padrão permite flexibilidade: o eIM pode pertencer a uma operadora, a um provedor independente ou ao fabricante do dispositivo, e cada modelo tem implicações em suporte, SLAs e confiabilidade. É essencial ainda cumprir regras de proteção de dados e requisitos legais de telecom em diferentes jurisdições, já que perfis SIM contêm dados sensíveis. Boas práticas devem ser estabelecidas para gerir as “identidades móveis” dos dispositivos globalmente de forma legítima e segura.

Perspectiva de mercado

As projeções para eSIM e iSIM em IoT são extremamente promissoras com a chegada do SGP.32. Pesquisas indicam crescimento acelerado na adoção de eSIM/GSMA RSP até 2030, impulsionado pela necessidade de gerenciar bilhões de dispositivos de maneira eficiente.

A consultoria Counterpoint Research prevê que as conexões IoT usando eSIM chegarão a 2,2 bilhões em 2030, com crescimento anual de 43%. A Kaleido Intelligence estima 4,5 bilhões de conexões eSIM (somando IoT e consumer) em 2030, partindo de cerca de 500 milhões em 2024 um salto impressionante. A GSMA Intelligence projeta 38 bilhões de dispositivos IoT conectados até 2030 (considerando todas as tecnologias), dos quais uma parcela substancial deve contar com soluções eSIM/iSIM pelas vantagens operacionais.

Em termos de receita, espera-se um mercado robusto de plataformas de gerenciamento e serviços associados. Tecnologias de iSIM devem ganhar participação significativa até o fim da década, com especialistas vendo o iSIM como padrão em dispositivos de baixíssimo consumo após 2025, à medida que mais chipsets integrem essa função. A Omdia prevê que o mercado de tecnologia eSIM em IoT (incluindo iSIM) crescerá de cerca de 1,2 bilhão de dispositivos em 2024 para mais de 3 bilhões em 2030.

Na América Latina e no Brasil, a perspectiva também é de grande expansão. O SGP.32 pode ser um habilitador crucial para milhões de medidores inteligentes de energia e água, projetos de rastreamento de logística e frota e soluções de agro IoT em um setor agrícola extenso e competitivo.

Tradicionalmente, a heterogeneidade de cobertura e a burocracia de SIMs nacionais eram barreiras para escalar projetos regionalmente. Com eSIM IoT, será possível implantar um dispositivo que, na cidade, usa um perfil de determinada operadora local e, ao cruzar fronteiras, baixa automaticamente o perfil de uma operadora do país de destino — tudo transparente para o usuário final.

Isso simplifica implantações multinacionais na região, como o rastreamento de cargas do Mercosul ou o monitoramento de contêineres do Brasil para outros continentes. No Brasil, onde a Anatel já permite eSIM em smartphones e relógios, espera-se que o uso em IoT também avance nos próximos anos, à medida que se definirem diretrizes para M2M e IoT. Alinhado a essas diretrizes, o SGP.32 pode ajudar operadoras brasileiras a oferecer conectividade IoT global.

Novos entrantes no mercado brasileiro também podem se beneficiar. A regulamentação de MVNOs permite empresas focadas em IoT. Essas habilitadoras e integradoras podem diferenciar seus serviços com eSIM que se adapta ao melhor provedor em cada região, cobrando por dispositivo conectado ou por volume de dados de forma mais flexível. Isso favorece a concorrência e reduz a dependência das grandes operadoras, fomentando um ecossistema mais diverso.

Outro aspecto é que o SGP.32 pode acelerar a convergência entre telecom e cloud. Fabricantes de SIM, fornecedores de plataformas e big techs estão entrando no espaço de conectividade IoT via eSIM. Poderemos ver soluções integradas em que o eSIM IoT é parte de uma oferta de nuvem IoT: o cliente compra sensores já conectados globalmente e gerenciados pela nuvem.

Essa sinergia tende a aumentar conforme o padrão se consolida, levando a ofertas fim a fim (dispositivo + conectividade on-demand + plataforma de dados). A conectividade celular IoT torna-se cada vez mais um serviço de software, altamente escalável, e o SGP.32 é o habilitador técnico para isso decolar.

Conclusão

O GSMA SGP.32 posiciona-se como um marco evolutivo que sintetiza os benefícios técnicos e estratégicos do eSIM para viabilizar a próxima onda de crescimento do IoT. Do ponto de vista técnico, entrega provisionamento remoto simplificado, segurança de nível telecom e capacidade de gestão massiva de perfis em dispositivos sem interação humana exatamente o que o IoT em larga escala demandava.

Do ponto de vista de negócios, abre espaço para modelos flexíveis, redução de OPEX e rapidez na implementação de serviços globais, ao mesmo tempo em que quebra amarras tradicionais, como a dependência de uma única operadora ou a logística física de SIMs. Não é exagero chamá-lo de divisor de águas para a massificação do IoT, pois remove obstáculos práticos que limitavam projetos a pilotos ou a escalas modestas.

Há desafios integração, ajustes regulatórios e coordenação global, mas a direção é clara: a conectividade móvel para IoT torna-se tão fluida e programável quanto outros recursos de TI. Empresas e operadoras que adotarem cedo o SGP.32 poderão oferecer serviços diferenciados, ganhar eficiência e ampliar o alcance internacional de suas operações conectadas.

Como em outras revoluções tecnológicas, os early adopters tendem a colher benefícios competitivos, aprendendo antes e capturando valor enquanto o restante do mercado corre atrás. O SGP.32 representa não apenas uma melhoria incremental, mas uma mudança de patamar na forma de conectar coisas. É um habilitador-chave para alcançarmos a visão de IoT em escala global e ubíqua, em que dispositivos estão sempre conectados no melhor ambiente possível, sem fricção e sem fronteiras. Quem se preparar agora terá vantagem no mundo hiperconectado que está por vir.

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Fábio Pinho
Fábio Pinho
Fábio Mendes de Pinho é Engenheiro de Telecomunicações e Doutorando em Ciência e Tecnologia da Informação. Com 15 anos de experiência em consultoria técnica e 10 anos atuando na área comercial, construiu sua carreira em empresas líderes dos setores de TI e Telecom.É especialista na condução de iniciativas de transformação digital e projetos de infraestrutura de redes móveis e fixas.
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