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terça-feira, julho 22, 2025
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Stealer Logs: A ameaça invisível que começa com um clique

Poucas ameaças digitais hoje são tão subestimadas e ao mesmo tempo tão letais quanto os stealer logs. Eles não costumam gerar alertas em tempo real, nem necessariamente travar sistemas inteiros. São discretos, silenciosos e muitas vezes só revelam seus danos quando já é tarde demais.

Esse tipo de ameaça cresce à medida que expandimos o uso de serviços online, ferramentas SaaS e dispositivos conectados, principalmente em contextos de trabalho híbrido. Em empresas de médio porte, onde times de tecnologia ainda equilibram operação com estrutura, os riscos são ainda maiores.

A anatomia de um roubo silencioso

Stealer logs são, em essência, registros de dados extraídos por malwares especializados em capturar informações sensíveis dos dispositivos das vítimas. Diferente de ransomwares que criptografam arquivos, o objetivo aqui é coletar silenciosamente o que o usuário já tem salvo: senhas, cookies, carteiras digitais, tokens de autenticação e arquivos de configuração.

Esses malwares são disseminados por meio de aplicativos falsos, cracks de software, extensões de navegador e até documentos aparentemente inofensivos. A engenharia social, como sempre, é parte do enredo o usuário é induzido a baixar algo que acredita ser útil, e o estrago começa a partir daí.

O que torna os stealer logs particularmente perigosos é o destino que esses dados tomam. Muitas vezes, os arquivos com essas informações são organizados automaticamente e enviados para servidores criminosos. Pouco tempo depois, já estão à venda em fóruns clandestinos, onde qualquer pessoa pode comprá-los por valores irrisórios e acesso potencial a contas valiosas.

Quando o risco é corporativo

Se no ambiente pessoal os danos já são graves, no mundo corporativo o impacto pode ser devastador. Basta um único colaborador com acesso administrativo baixar um arquivo malicioso para que as credenciais de sistemas internos sejam comprometidas. E isso não é teoria.

Em 2022, uma empresa do setor de e-commerce teve sua conta de anúncios sequestrada após um acesso indevido via token roubado por um stealer. O malware estava escondido em uma extensão de navegador utilizada para análise de preços uma prática comum, mas não auditada pelo time de TI. O prejuízo superou R$ 180 mil em poucos dias.

Esse tipo de incidente já afetou grandes empresas também. O caso da Twilio e da Okta, por exemplo, envolveu o uso de cookies de sessão roubados, que foram utilizados para burlar autenticações de dois fatores. Muitas dessas informações foram, depois, encontradas em bases de stealer logs comercializadas na dark web.

Por que o problema persiste?

Uma parte importante do problema é a falsa sensação de segurança. Muitos acreditam que, por usarem antivírus ou VPN, estão protegidos de forma plena. Outros confiam demais em boas práticas individuais. Mas a realidade é que a arquitetura da ameaça mudou. O que antes dependia de técnicas de invasão sofisticadas, hoje depende só de um clique no lugar errado.

Além disso, a cultura de segurança ainda não está enraizada na maioria das empresas. Em muitas organizações, salvar senhas no navegador é prática comum até mesmo entre colaboradores de áreas críticas. Políticas de bloqueio de sites ou de controle de software são vistas como “engessamento”, e não como medidas de proteção real.

A saída está na maturidade, não no pânico

Prevenir ataques com base em stealer logs não exige paranoia, mas sim maturidade em cibersegurança. Isso começa por entender que o elo mais fraco continua sendo o comportamento humano e que tecnologia alguma substitui educação contínua.

Times de TI precisam sair do modo reativo e passar a atuar estrategicamente. Isso significa olhar para:

Bloqueie a possível origem da ameaça

  • EDR/Antivírus de nova geração com foco em comportamento, não só assinaturas
  • Política de mínimo privilégio nos endpoints: se o usuário não precisa, não tem acesso

Fortaleça a autenticação

  • MFA obrigatório, preferencialmente por aplicativo (nunca por SMS)
  • Logout automático de sessões inativas
  • Uso de SSO e ferramentas de IAM para controlar quem acessa o quê

Monitore continuamente

  • SIEM com alertas de anomalias em sessões, logins simultâneos, IPs suspeitos
  • Ferramentas de CASB para monitorar comportamento em SaaS (Google Workspace, 365)

Reforce práticas de “higiene digital”

  • Troca regular de senhas
  • Não salvar senhas localmente
  • Utilizar gerenciadores de senhas confiáveis

Tenha um plano de resposta

  • Backups segmentados
  • Política clara para isolamento de endpoints infectados
  • Mapeamento de contas com alto impacto em caso de comprometimento

Stealer logs representam o tipo de risco que ninguém percebe — até que o prejuízo bata na porta. O cenário atual exige que empresas de todos os portes deixem de tratar segurança como uma reação a incidentes e passem a enxergá-la como parte da estratégia de continuidade do negócio.

A ameaça não está no malware em si, mas no que ele permite que se perca: a confiança, os dados e, em muitos casos, o futuro da organização.

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Ricardo Bortolotto
Ricardo Bortolotto
Atuação em diversos trabalhos de auditoria de TI em empresas de diversos setores, suportando auditorias internas e externas, incluindo clientes com SOX, JSOX e demonstrações financeiras. Isso inclui testes, documentação dos controles gerais de TI (ITGC) e controles de nível de processos para suporte à auditoria externa das demonstrações financeiras, além de análises substantivas.
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