Assumi a cadeira de CISO de uma organização, e agora? Por onde começo? Com quem devo falar? Como avalio minha equipe? Como identifico os principais riscos de segurança da organização? Como construo um plano de ação eficaz para os primeiros 90 dias? Como vou mostrar a evolução do trabalho? Como vou garantir que minha equipe esteja preparada para lidar com possíveis incidentes de segurança? Como vou garantir que todos estejam alinhados com as políticas e procedimentos de segurança da empresa? Como vou garantir a continuidade do treinamento e desenvolvimento da equipe para manter um alto nível de segurança?
Os Primeiros Passos ao Assumir a Posição de CISO
Assumir a posição de CISO de uma organização é uma tarefa cheia de desafios e expectativas. Pelas questões anteriores, que não são as únicas, já se pode perceber que a tarefa não é fácil e muita coisa precisa ser planejada e realizada. Mesmo se o profissional já atuava na organização e recebeu uma promoção para esta posição, ele precisa se posicionar de modo diferente, pois agora suas responsabilidades aumentaram significativamente.
Os primeiros 90 dias representam uma janela de oportunidade muito importante para conhecer ou revisitar a organização, identificar vulnerabilidades e estabelecer uma base sólida para a segurança da informação. Cada etapa desse período é crucial e interligada, exigindo planejamento e execução cuidadosos.
Ao chegar à empresa, o primeiro passo é compreender profundamente o negócio, o seu contexto, principais stakeholders e o objetivo principal junto aos clientes. Isso vai além dos sistemas e da infraestrutura: é essencial entender quais são os objetivos da organização, quais são os ativos mais críticos, como dados e processos, e quais são as exigências regulatórias, como LGPD ou GDPR. Reuniões iniciais com lideranças de TI, financeiro, compliance e outras áreas ajudam a alinhar sua atuação às prioridades estratégicas da empresa. Essa fase de imersão também permite identificar as percepções internas sobre os principais riscos e as expectativas em relação à segurança.
Em paralelo, é fundamental avaliar o estado atual da segurança. Essa análise inicial deve ser abrangente e detalhada, incluindo revisão de políticas existentes, relatórios de auditorias anteriores, análises de vulnerabilidades, histórico de incidentes e soluções implementadas que visam estabelecer os perímetros e processos de segurança. Avalie se a organização possui um plano de resposta a incidentes bem documentado e atualizado.
Essa visão inicial é essencial para guiar suas primeiras conversas com a equipe de segurança e TI. Aqui, é importante identificar lacunas de habilidades, sobrecarga de trabalho e pontos que requerem atenção imediata para garantir que a organização esteja preparada para lidar com qualquer incidente de segurança cibernética que possa surgir durante seu período de avaliação e análise.
Construir confiança é outro pilar fundamental nos primeiros 30 dias. Adotar uma postura acessível e ouvir as preocupações dos times garante que você seja percebido como um facilitador, não um obstáculo. Relacionamentos sólidos com stakeholders internos facilitam implementar mudanças nos próximos meses. Também é vital demonstrar empatia em relação aos desafios enfrentados pelos profissionais da área e reconhecê-los como aliados na jornada de transformação.
Planejamento e Ações Estratégicas: O Roteiro dos 90 Dias
Com uma visão mais clara do ambiente, os dias 31 a 60 marcam o início das ações de curto prazo e do planejamento estratégico. Uma análise formal de riscos é essencial para identificar e priorizar vulnerabilidades críticas. Falhas em controles de acesso, a ausência de autenticação multifator (MFA) e sistemas desatualizados são exemplos comuns de ameaças que devem ser tratadas com urgência.
Essa fase também é ideal para implementar os famosos “quick wins”, soluções rápidas e de impacto imediato, como a redução de acessos privilegiados e a ativação de proteções automatizadas em ferramentas existentes. Essas ações podem ajudar a minimizar os riscos imediatos e fortalecer a visão de que a prioridade com segurança da organização passa por um ajuste de rota que pode trazer bons resultados futuros.
Simultaneamente, comece a desenvolver um plano de segurança mais amplo. Este plano deve considerar as necessidades específicas da organização, abrangendo iniciativas como proteção de dados, resposta a incidentes e revisão do plano de continuidade de negócios (BCP). Um ponto importante e crucial nesta fase é engajar a organização em programas de conscientização. Treinamentos regulares, campanhas educativas e comunicações claras ajudam a reforçar uma cultura de segurança. Lembre-se de que as pessoas são muitas vezes o elo mais fraco da segurança, mas também podem se tornar a primeira linha de defesa.
Nesta fase intermediária, é vital avaliar as ferramentas de segurança já implantadas. Verifique se soluções como firewalls, sistemas de detecção e prevenção de intrusões (IDS/IPS), antivírus, microssegmentação, proteção de API e outras estão corretamente configuradas e funcionando como esperado. Caso sejam identificadas lacunas tecnológicas, comece a planejar aquisições ou atualizações necessárias, sempre considerando o custo-benefício e o alinhamento com os objetivos da empresa.
Nos últimos 30 dias desse ciclo, o foco se volta para a execução de ações mais robustas e a consolidação do progresso alcançado. Esse é o momento de implementar ferramentas mais avançadas, como soluções de EDR (Endpoint Detection and Response) para monitoramento e resposta a ameaças em tempo real. Realize também testes simulados de resposta a incidentes para avaliar a eficácia do plano de resposta e preparar a organização para lidar com crises reais. Esses exercícios ajudam a identificar pontos fracos nos processos e promovem uma mentalidade proativa em relação à segurança.
Outro ponto crítico é avaliar e comunicar os resultados iniciais. Relatar aos stakeholders os avanços utilizando indicadores-chave de desempenho (KPIs) claros e objetivos, demonstrando transparência e reforçando sua liderança. KPIs como redução de vulnerabilidades críticas, tempo de resposta a incidentes e adesão aos programas de conscientização são exemplos eficazes para mensurar o progresso.
Paralelamente, é fundamental consolidar uma cultura de colaboração. Promova parcerias entre as equipes de segurança, TI, operações e outras áreas da organização. Essa integração garante que as iniciativas de segurança estejam alinhadas à estratégia do negócio e aumenta a eficiência na implementação de medidas de proteção.
O planejamento futuro também deve ganhar destaque nos últimos dias desse ciclo. Um roadmap para a adoção de frameworks reconhecidos, como NIST Cybersecurity Framework ou ISO 27001, pode servir como guia para avanços consistentes. Esse planejamento deve considerar tanto as necessidades imediatas quanto os objetivos de longo prazo, criando uma base sólida para a evolução da segurança da informação.
Ao final dos 90 dias, o objetivo é ter uma base estruturada e um plano em andamento. Você não resolverá todos os problemas nesse período, mas terá criado as condições para liderar a segurança de forma proativa e alinhada aos objetivos organizacionais. A jornada como CISO está apenas começando, mas os fundamentos estabelecidos nesse período serão determinantes para o sucesso a longo prazo.
Para colaborar com a construção de um plano de 90 dias, a maioria dos pontos abordados acima está estruturada de forma cronológica abaixo. Claro que este não é um roteiro definitivo, mas pode servir como um guia orientativo para você construir o “seu plano” conforme a realidade da sua organização.
Dias 1 a 30: Imersão e Diagnóstico Inicial
- Conhecer o negócio e o Contexto
- Reuniões com lideranças de TI, financeiro, compliance e operações.
- Identificar ativos críticos, requisitos regulatórios e principais riscos.
- Importância: Estabelece a base para alinhar segurança à estratégia organizacional.
- Avaliar o Estado Atual da Segurança
- Revisão de políticas, relatórios de auditoria e histórico de incidentes.
- Identificar lacunas críticas nos controles e processos existentes.
- Importância: Fornece um panorama detalhado do ambiente de segurança. Permite tomar decisões informadas para melhorar a proteção da empresa.
- Construir Relacionamentos e Confiança
- Ouvir as preocupações da equipe e promover empatia.
- Identificar aliados internos para iniciativas futuras.
- Importância: Facilita a implementação de mudanças no futuro.
Dias 31 a 60: Planejamento Estratégico e Ações de Curto Prazo
- Análise Formal de Riscos
- Avaliar vulnerabilidades críticas e priorizar soluções.
- Implementar soluções rápidas como MFA e redução de acessos privilegiados.
- Importância: Resolve problemas imediatos e melhora rapidamente o nível de segurança.
- Desenvolver um Plano de Segurança Abrangente
- Criar um plano que inclua proteção de dados, resposta a incidentes e continuidade de negócios.
- Lançar programas de conscientização e treinamentos regulares.
- Importância: Estabelece um caminho claro para a segurança da informação.
- Avaliar Ferramentas de Segurança Existentes
- Garantir que as ferramentas atuais estejam configuradas e funcionando corretamente.
- Planejar atualizações ou aquisições conforme necessário.
- Importância: Maximiza o uso de tecnologias existentes e identifica lacunas críticas.
Dias 61 a 90: Execução e Consolidação
- Implementar Ferramentas Avançadas
- Introduzir soluções como EDR para detecção e resposta em tempo real.
- Importância: Fortalece a proteção contra ameaças emergentes.
- Testar Resposta a Incidentes
- Realizar exercícios simulados para validar o plano de resposta.
- Identificar pontos fracos e aprimorar processos.
- Importância: Prepara a organização para lidar com incidentes reais de maneira eficaz.
- Comunicar Resultados e Engajar Stakeholders
- Apresentar KPIs claros que mostrem progresso, como redução de vulnerabilidades e adesão a treinamentos.
- Importância: Reforça sua liderança e demonstra transparência.
- Planejar o Futuro
- Criar um roadmap para adoção de frameworks como NIST ou ISO 27001.
- Definir metas de longo prazo alinhadas aos objetivos organizacionais.
- Importância: Garante uma evolução contínua da segurança da informação.
Essa cronologia assegura que as atividades críticas sejam abordadas no momento certo, permitindo progresso constante e uma base sólida para o futuro da segurança da informação na organização.
Este plano pode proporcionar melhor conhecimento da situação atual, principais objetivos da organização, vulnerabilidades a serem tratadas e como sua equipe está preparada para lidar com possíveis ameaças e incidentes de segurança. A partir dele, é possível que você adquira todas as informações necessárias para estabelecer um plano maior para a evolução da segurança na organização. A partir daí, os rumos do negócio irão direcionar suas novas necessidades.
Siga o Itshow no LinkedIn e assine a nossa News para ficar por dentro de todas as notícias do setor de TI e Telecom!