O Brasil, ao assumir a presidência rotativa do Brics em 2025, colocou na pauta do bloco uma proposta inovadora: a modernização das transações financeiras internacionais. A ideia central é utilizar a tecnologia blockchain para facilitar o comércio exterior entre os países-membros, ampliando a segurança e a eficiência das operações comerciais.
A proposta foi divulgada pelo jornal O Globo e integra a agenda brasileira para a próxima cúpula do Brics, programada para julho, no Rio de Janeiro. Diferente de algumas iniciativas já debatidas, esse projeto não visa a criação de uma moeda comum para substituir o dólar. Em vez disso, foca na adoção de plataformas digitais que simplifiquem contratos e pagamentos dentro do bloco.
Objetivo da Modernização
A iniciativa faz parte do eixo de facilitação do comércio e investimentos, um dos seis temas prioritários definidos pelo governo brasileiro para sua liderança no Brics. Com a expansão recente do bloco, que agora inclui países como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia, a necessidade de alternativas para transações internacionais ganhou ainda mais relevância.
Fontes do governo destacam que a proposta não representa uma ruptura com o sistema financeiro global, nem tem intenção de provocar reações dos Estados Unidos. O objetivo é oferecer uma solução tecnológica que reduza custos operacionais e aumente a segurança das operações comerciais entre os países do Brics.
Brasil Busca Neutralidade Diante de Possíveis Pressões
Diante da possibilidade de resistência por parte dos Estados Unidos, que historicamente se opõem a iniciativas que reduzam a dependência do dólar, o Brasil pretende adotar uma abordagem estratégica. A ideia é apresentar a proposta como uma solução técnica e eficiente, evitando interpretações geopolíticas.
Em janeiro de 2024, o então presidente norte-americano Donald Trump ameaçou impor tarifas comerciais de até 100% a países que abandonassem o dólar em transações internacionais. Para minimizar impactos diplomáticos, assessores brasileiros trabalham para tornar a proposta “palatável” aos interesses dos EUA, enfatizando a modernização tecnológica e não uma mudança no status monetário global.
Modelo Baseado no Drex
O modelo brasileiro para essa modernização se baseia na experiência obtida com o Drex, a versão digital do real que está em fase de testes pelo Banco Central. O sistema utiliza blockchain para garantir segurança e eficiência em transações financeiras, e a ideia é expandir essa tecnologia para aplicações internacionais dentro do Brics.
O governo também avalia a possibilidade de integrar a iniciativa a modelos como o Pix, sistema de pagamentos instantâneos que revolucionou as transações no Brasil. No entanto, desafios técnicos precisam ser superados, como segurança da informação, privacidade dos dados e harmonização regulatória entre os países do bloco.
Posicionamento do Presidente Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem abordado esse tema desde 2023 em diferentes fóruns internacionais. Durante a cúpula do Brics na África do Sul, ele defendeu a necessidade de criar mecanismos que reduzam a dependência do dólar. Em 2024, reforçou essa posição em um encontro na Rússia.
Segundo Lula, o objetivo não é substituir as moedas nacionais, mas sim criar soluções para garantir que a nova ordem multipolar se reflita no sistema financeiro global. Ele também propôs que os bancos de desenvolvimento dos países-membros disponibilizem crédito em moedas locais, ampliando a autonomia financeira dos países do bloco.
A proposta brasileira também busca beneficiar pequenas e médias empresas, reduzindo os custos operacionais e ampliando o acesso ao crédito internacional.
Expectativas para a Cúpula do Brics
A presidência brasileira pretende consolidar essa proposta até a cúpula de julho. Para isso, um dos principais desafios será construir um consenso interno entre os países-membros. A intenção é destacar a solução como um avanço tecnológico, evitando caracterizá-la como um movimento de oposição ao sistema financeiro global.
O tema será discutido nas reuniões preparatórias entre chanceleres e ministros da economia dos países do bloco. Durante esses encontros, o Brasil pretende apresentar um plano detalhado, incluindo custos, viabilidade técnica e impactos jurídicos.
Caso aprovada, a iniciativa poderá estabelecer as bases para novos mecanismos financeiros multilaterais entre economias emergentes. A tecnologia blockchain surge, assim, como um instrumento inovador para o comércio exterior, sem comprometer a estrutura monetária vigente.
A adesão dos demais membros e a integração com sistemas nacionais serão fatores determinantes para o sucesso da proposta. O Brasil aposta na modernização das transações financeiras como um passo essencial para fortalecer o bloco e consolidar sua relevância na economia global.
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