Liderança em cibersegurança exige mais que experiência: exige dados, métricas e a capacidade de justificar cada decisão com precisão científica.
A arte e a ciência por trás da liderança em segurança: o novo perfil do CISO
O papel do Chief Information Security Officer (CISO) está passando por uma transformação silenciosa, mas profunda. Mais do que ser um guardião da cibersegurança corporativa, o CISO do futuro — e cada vez mais do presente — precisa dominar tanto a arte da liderança quanto a ciência da tomada de decisão baseada em dados. Essa mudança de paradigma está redefinindo o que significa ser bem-sucedido nesse cargo de altíssima responsabilidade dentro das organizações.
Historicamente, a escolha de um CISO sempre envolveu um certo “feeling” da alta liderança. Experiência anterior, postura executiva e habilidade de comunicação eram vistos como indicadores suficientes de competência. Mas o cenário mudou. Agora, conselhos e CEOs esperam que o líder de segurança digital também seja capaz de transformar intuição em evidência mensurável — e decisões subjetivas em investimentos justificáveis.
O que define um CISO eficaz?
O processo de escolha de um CISO sempre teve um componente de subjetividade. Raramente há provas concretas de que determinado executivo tomará decisões acertadas no calor do momento — muito menos diante da escassez de recursos ou da pressão por resultados. Contratações costumam se basear em cargos anteriores, networking e reputação. No entanto, esse modelo tem suas limitações, sobretudo em tempos em que as ameaças se tornam mais sofisticadas e a tolerância ao risco, mais baixa.
O bom CISO coleta informações, avalia riscos, lida com pessoas, estrutura equipes e toma decisões. A diferença está em como ele faz isso: apenas com base em experiência ou com o apoio de dados objetivos? A resposta correta começa a se inclinar para a segunda opção.
O novo critério: aplicar ciência à segurança
Um caso recente ilustra bem essa mudança. Um executivo que atuava como CISO adjunto em uma grande instituição financeira conseguiu ser promovido após apresentar um plano de negócios detalhado para a área de cibersegurança. Ele demonstrou, com base em dados públicos e métricas comparativas, as lacunas da organização em relação ao mercado. Mais do que isso, propôs um roadmap claro de como elevar o nível de maturidade da segurança digital da empresa — com projeções de custo, retorno e impacto no risco organizacional.
Esse tipo de abordagem transforma a cibersegurança em um assunto de negócio, não apenas técnico. O executivo deixou de ser apenas um gestor experiente para se tornar um analista estratégico, com argumentos convincentes e mensuráveis para defender seu plano.
A importância da modelagem e das métricas
Enquanto áreas como operações e finanças sempre usaram modelos matemáticos para tomar decisões — como ponto de equilíbrio, ROI e otimização de recursos —, a cibersegurança ainda engatinha nesse aspecto. Ferramentas como simulações de phishing, por exemplo, produzem dados. Mas quantos CISOs são capazes de transformar esses dados em insights com impacto mensurável na proteção da empresa?
A ideia é simples: se é possível modelar o impacto de um ataque, também é possível quantificar o valor de cada ação preventiva. Com isso, o CISO deixa de ser apenas um técnico sênior para assumir o papel de cientista, demonstrando com clareza o valor financeiro das suas estratégias.
Ferramentas, dados e pessoas certas
Já existem soluções no mercado que ajudam a tornar essa visão uma realidade. Elas ajudam os líderes a compreender, por exemplo, onde investir para obter o maior retorno em mitigação de riscos ou quais vulnerabilidades realmente justificam atenção prioritária.
Mas o uso da ciência de dados não precisa, obrigatoriamente, vir de uma ferramenta externa. Equipes internas podem ser estruturadas para criar seus próprios modelos analíticos. O importante é dar o primeiro passo — porque, com ou sem ferramenta, o que não é mensurável dificilmente será defendido diante da alta liderança.
A conclusão: ser artista é bom, ser cientista é essencial
A experiência e o instinto de um CISO continuam sendo valiosos. Eles são fruto de anos lidando com incidentes, liderando times e equilibrando prioridades conflitantes. No entanto, esses atributos, por si só, não garantem mais a confiança da liderança empresarial.
Hoje, um CISO precisa ser capaz de responder a perguntas como: “Se eu cortar seu orçamento em 15%, qual será o impacto no risco corporativo?” ou “Se dobrarmos seu time de resposta a incidentes, o que ganharemos em tempo de reação e prevenção de perdas?”. Quem não tem modelos de apoio para essas respostas, acaba apelando à intuição — o que já não é suficiente.
A boa notícia é que os dados estão disponíveis. O processamento, mais acessível. E as ferramentas, cada vez mais maduras. O verdadeiro desafio está em mudar a mentalidade: abandonar a crença de que a segurança é uma arte inexplicável e começar a tratá-la como uma ciência — rigorosa, mensurável e defensável.
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