O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) concedeu parecer técnico favorável à implantação de dois data centers de grande porte no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará. Os empreendimentos, com capacidade inicial de 300 megawatts (MW), fazem parte de um projeto da Casa dos Ventos, e podem receber investimentos bilionários da gigante chinesa ByteDance, controladora do TikTok. A informação foi revelada por fontes ouvidas pela agência Reuters.
A decisão representa um marco inédito: será a primeira vez que data centers estarão conectados diretamente à Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN) no Nordeste, um movimento que aponta para a crescente importância da região no mapa de infraestrutura digital do país.
Conexão à rede e infraestrutura robusta
Segundo comunicado oficial do ONS, os dois projetos serão interligados a subestações localizadas no entorno do Complexo do Pecém. O primeiro será conectado à Subestação Pecém II, de 230 kV, com previsão de entrada em operação em janeiro de 2027. Já o segundo depende da futura Subestação Pecém III, de 500 kV, cuja implantação está condicionada à execução de obras previstas na 4ª Emissão do Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (POTEE), divulgada em fevereiro de 2025.
O diretor-geral do ONS, Marcio Rea, destacou a relevância estratégica da iniciativa:
“O crescimento do setor de data centers é fundamental para a economia do Brasil, especialmente no Nordeste, por seu potencial de atrair investimentos de grande porte. O ONS está comprometido em apoiar esse processo com segurança e confiabilidade para o sistema.”
Potencial bilionário e interesse internacional
Embora ainda não haja confirmação oficial, a ByteDance — multinacional responsável por uma das redes sociais mais populares do mundo — estaria negociando um aporte robusto no projeto cearense. As tratativas, conforme revelou a Reuters, envolvem um investimento que pode alcançar R$ 50 bilhões em infraestrutura, equipamentos e conectividade.
O plano inicial prevê uma instalação de 300 MW, com possibilidade de expansão para 900 MW em uma segunda fase. Em uma etapa futura, a demanda energética total poderia chegar a impressionantes 1 gigawatt (GW), o equivalente a cerca de 4% da carga total atual do Nordeste, segundo estimativas do setor.
Essa escalada de capacidade energética reforça o apetite das big techs por centros de dados próprios, cada vez mais próximos de usuários locais e operando com baixa latência e maior eficiência energética.
O papel do Ceará na nova geografia digital
Com abundância de energia renovável, incentivos fiscais e localização geográfica estratégica, o Ceará vem se consolidando como um polo de tecnologia e infraestrutura digital. A presença de múltiplos cabos submarinos internacionais que chegam à costa cearense também posiciona o estado como ponto logístico ideal para empresas globais de internet e nuvem.
O projeto da Casa dos Ventos surge como peça-chave neste novo cenário. Conhecida por liderar iniciativas em energia eólica e solar, a empresa tem ampliado sua atuação para atender grandes consumidores corporativos — como é o caso dos data centers, cuja operação depende de fornecimento elétrico estável e sustentável.
Contexto: o avanço dos data centers no Brasil
O mercado de data centers no Brasil vive um ciclo de expansão impulsionado pela crescente demanda por serviços digitais, inteligência artificial e armazenamento em nuvem. Grandes players globais — como Microsoft, Google, Amazon Web Services (AWS) e Oracle — já anunciaram investimentos significativos no país nos últimos anos.
Contudo, a maior parte desses investimentos ainda se concentra no eixo Sudeste. A decisão do ONS e o potencial aporte da ByteDance abrem caminho para uma descentralização dessa infraestrutura, com o Nordeste despontando como nova fronteira tecnológica.
Próximos passos e expectativas
Apesar da aprovação técnica do ONS, a execução completa do projeto depende agora da viabilização das obras de transmissão e da definição dos aportes financeiros. Especialistas apontam que, se concretizado, o empreendimento poderá redefinir os padrões de conectividade e computação de alto desempenho na região.
Enquanto Casa dos Ventos e ByteDance seguem em silêncio oficial sobre os planos, os dados já divulgados revelam um movimento estratégico com potencial de reposicionar o Brasil no mapa global da infraestrutura digital.
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