A Obsolescência tecnológica tornou-se uma das maiores ameaças à continuidade e competitividade de empresas brasileiras. Sistemas legados, construídos décadas atrás em arquiteturas ultrapassadas, ainda sustentam operações críticas em bancos, governos, operadoras de telecom, seguradoras e indústrias. Muitos desses sistemas não apenas dificultam a inovação como representam riscos operacionais, regulatórios e de segurança. Atualizá-los, portanto, é uma questão estratégica.
Modernizar não é simplesmente trocar o antigo pelo novo. Trata-se de avaliar riscos, dependências, arquiteturas, integrações e o impacto sobre processos críticos. Executivos de TI enfrentam o desafio de migrar sistemas centrais sem interromper negócios. Este artigo aborda as melhores estratégias para conduzir esse processo, as tecnologias disponíveis e os erros que devem ser evitados.
Por que os sistemas legados ainda existem?
Apesar dos avanços da computação em nuvem, APIs modernas e arquiteturas serverless, muitos sistemas antigos permanecem em uso. As razões incluem:
- Custo de substituição elevado: Refazer ou migrar sistemas pode custar milhões e demandar anos.
- Conhecimento concentrado: Muitas vezes apenas alguns profissionais conhecem o código e lógica do sistema.
- Risco de interrupção: Mudar sistemas em produção pode impactar diretamente serviços essenciais.
- Integrações complexas: Sistemas legados geralmente estão conectados a dezenas de outros sistemas.
- Falta de planejamento contínuo: A modernização é adiada ano após ano por falta de visão estratégica.
Sinais de que o sistema está obsoleto
Nem sempre é fácil convencer a liderança de que um sistema deve ser atualizado. Aqui estão alguns sinais críticos:
- Alta taxa de incidentes ou indisponibilidades
- Custos crescentes de manutenção
- Dificuldade para integrar com APIs modernas
- Problemas de compatibilidade com navegadores e sistemas operacionais atuais
- Dependência de profissionais que já se aposentaram ou deixaram a empresa
- Baixa escalabilidade
- Vulnerabilidades de segurança não corrigidas
- Falta de conformidade com leis como LGPD
Esses fatores não apenas comprometem a inovação como expõem a empresa a multas, perdas de receita e danos à reputação.
Estratégias para modernizar sistemas legados
A atualização de sistemas legados pode seguir múltiplas abordagens, e a escolha depende do contexto técnico e de negócios. As principais estratégias incluem:
1. Rehosting (Lift and Shift)
Migrar o sistema como está, trocando apenas a infraestrutura (ex: de servidor local para nuvem). Rápido, com baixo custo inicial, mas não resolve limitações estruturais.
2. Replatforming
Manter a lógica do sistema, mas atualizar o ambiente de execução. Por exemplo, mover de um banco de dados proprietário para um banco moderno e escalável.
3. Refatoração
Reescrever partes do sistema para torná-lo mais modular, escalável e manutenível, sem mudar funcionalidades.
4. Rebuild ou Rewriting
Reescrever o sistema do zero, aproveitando funcionalidades, mas usando arquiteturas modernas. Alto custo e risco, mas flexibilidade total.
5. Encapsulamento
Criar APIs em volta do sistema legado, permitindo integração com soluções modernas sem alterar o core.
6. Substituição completa (Replace)
Abandonar o sistema e adotar uma solução pronta (COTS ou SaaS), com adaptação de processos internos.
7. Hibridismo
Manter parte do sistema antigo e desenvolver módulos novos em paralelo, integrando ambos por middleware ou APIs.
Cada abordagem tem vantagens e riscos. O papel do CIO é liderar essa escolha com base em critérios técnicos, financeiros e estratégicos.
Tecnologias que viabilizam a modernização
A transformação dos sistemas legados só é viável graças a novas ferramentas e paradigmas de TI, como:
- Cloud Computing (AWS, Azure, GCP): oferece escalabilidade e elasticidade
- Containers e Kubernetes: isolam aplicações legadas e facilitam deploys modernos
- Microsserviços: permitem dividir sistemas grandes em componentes independentes
- APIs RESTful e GraphQL: viabilizam integrações e digitalização de serviços
- DevOps e CI/CD: aceleram ciclos de entrega e testes com automação
- Ferramentas Low-Code: permitem criação de interfaces modernas para sistemas antigos
- Observabilidade e APM: ajudam a identificar gargalos e falhas ocultas
Essas tecnologias não só tornam a transição mais segura, como criam uma base sustentável para inovação contínua.
Erros comuns a evitar
- Subestimar a complexidade técnica e cultural da mudança
- Falta de alinhamento com as áreas de negócio
- Escolha de fornecedores sem experiência em ambientes legados
- Projetos muito longos e pouco incrementais
- Ignorar requisitos regulatórios (como LGPD, PCI-DSS, ANATEL)
- Não documentar o legado antes da mudança
A governança do projeto deve prever gestão de riscos, planejamento contínuo e métricas claras de sucesso.
O papel da liderança de TI na transição
Atualizar sistemas legados é um dos movimentos mais sensíveis que um CIO pode liderar. Envolve:
- Construir um business case claro, com ROI estimado e riscos mitigados
- Estabelecer uma arquitetura de transição, com fases bem definidas
- Engajar times de desenvolvimento e operação desde o início
- Promover uma cultura de mudança dentro e fora da TI
- Manter diálogo contínuo com stakeholders e usuários
Lideranças que entendem o papel da TI como motor de negócio têm mais sucesso ao posicionar a modernização como uma vantagem competitiva.
Casos de sucesso: empresas que modernizaram e venceram
- Banco Itaú: utilizou uma estratégia híbrida de encapsulamento + microsserviços, permitindo digitalizar a experiência do cliente sem desativar sistemas centrais.
- Telefônica/Vivo: reescreveu sistemas de billing em arquitetura de microsserviços, integrando com APIs públicas e acelerando o go-to-market.
- Caixa Econômica Federal: investiu em cloud privada com arquitetura orientada a eventos, permitindo escalar sistemas de crédito e habitação.
- Grupo Fleury: modernizou seu sistema legado com foco em APIs e agilidade para lançar novos serviços digitais na área de diagnósticos.
Essas empresas mostraram que é possível inovar sem colocar em risco a operação.
A Obsolescência tecnológica é uma escolha
A Obsolescência tecnológica não é um destino inevitável. É, muitas vezes, fruto da inércia organizacional. Atualizar sistemas legados requer coragem, visão e capacidade de execução. Mas é também uma oportunidade de reposicionar a TI como área estratégica, impulsionando inovação, eficiência e valor para o negócio.
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