A automação com inteligência artificial (IA) e robótica já está presente em 29,17% das empresas do setor de alimentos e bebidas no Brasil, segundo pesquisa da Food Connection em parceria com a FISPAL Tecnologia. Embora o índice indique um progresso gradual, especialistas apontam que o crescimento ainda é desigual e limitado por barreiras financeiras, estruturais e de qualificação profissional.
O levantamento ouviu 146 profissionais da indústria para mapear como a tecnologia vem sendo incorporada ao cotidiano das fábricas e quais são os principais entraves à sua expansão. Apesar da crescente discussão sobre digitalização e automação, mais de 70% das empresas do setor são micro ou pequenas, com baixa capacidade de investimento e alto grau de incerteza sobre o futuro da IA.
Crescimento da automação é visível, mas desigual
O uso de IA e robótica na indústria de alimentos e bebidas tem transformado etapas críticas da produção. Entre os exemplos práticos estão sistemas que otimizam processos de envase, empacotamento, controle de qualidade e até desenvolvimento de novos produtos, como fazem Nestlé e Danone.
Mesmo assim, o setor ainda enfrenta um abismo entre intenção e execução. Apenas 12% das empresas planejam investir mais de R$ 1 milhão em tecnologias de automação nos próximos dois a três anos. A maioria (38%) pretende aplicar até R$ 100 mil, enquanto 18% sequer têm planos de investir em IA no curto prazo.
Capacitação técnica é gargalo para a digitalização
O estudo também escancara um problema crônico de formação profissional. Cerca de 31% dos entrevistados afirmaram não saber quais habilidades serão mais importantes para acompanhar a evolução da IA. Entre os que têm alguma clareza, interpretação de dados, tomada de decisão e flexibilidade diante de mudanças aparecem como as competências mais citadas.
Essa lacuna de conhecimento vem se tornando um obstáculo real para a implementação de novas tecnologias. Mesmo empresas interessadas em inovar enfrentam dificuldades para recrutar e capacitar profissionais aptos a lidar com sistemas inteligentes e ferramentas digitais.
Exemplos de aplicação da IA no setor
A automação na indústria alimentícia já é realidade em grandes empresas:
- Nestlé: usa câmeras com IA para detectar falhas em chocolates e embalagens, elevando os padrões de controle de qualidade.
- Danone: aplica algoritmos para cruzar perfis de consumidores e dados nutricionais, acelerando o desenvolvimento de produtos personalizados.
- Fábricas de refrigerantes: sistemas com IA controlam o enchimento e selagem de garrafas, reduzindo falhas humanas e aumentando a produtividade.
- Previsão de demanda: IA analisa dados de clima e vendas para ajustar estoques e minimizar desperdícios de alimentos frescos.
Esses casos mostram o potencial de ganhos de eficiência e qualidade, mas também revelam um ponto importante: grandes empresas estão na vanguarda, enquanto pequenas indústrias ainda patinam na adoção básica.
Expectativas de transformação gradual
Apesar dos desafios, o estudo revela uma expectativa positiva em relação ao avanço da digitalização. O tema da automação já entrou definitivamente na agenda das empresas, mesmo que ainda de forma incipiente. A tendência é de crescimento moderado, mas contínuo, impulsionado por pressões da cadeia produtiva, mudanças no comportamento do consumidor e exigências por sustentabilidade e rastreabilidade.
Para que esse avanço ganhe escala, especialistas defendem ações coordenadas entre governo, indústria e instituições de ensino. A criação de políticas de incentivo, linhas de financiamento acessíveis e programas de capacitação são considerados elementos-chave para destravar o potencial da IA na indústria de alimentos e bebidas.
Conclusão
O setor alimentício brasileiro vive uma transição importante rumo à automação inteligente, mas ainda com descompassos entre tecnologia disponível e capacidade de adoção. Enquanto grandes players avançam com projetos robustos, a maioria das empresas caminha com cautela, limitada por orçamento, falta de qualificação e dúvidas estratégicas.
Mesmo assim, o movimento é claro: a inteligência artificial está se tornando um diferencial competitivo, e a indústria que souber integrá-la de forma eficiente terá vantagens na produtividade, qualidade e resposta ao mercado. O desafio agora é tornar essa revolução acessível a todos os elos da cadeia.
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