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quarta-feira, agosto 6, 2025
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Por que a autorregulação de IA é melhor que regulamentação pesada

Este livro aqui na foto era nossa bíblia quando estudávamos redes de computadores na faculdade. O Tanenbaum – “Redes de Computadores” – definia os protocolos, as arquiteturas, as melhores práticas. Era a referência absoluta.

Mas era uma bíblia estática. Escrita em papel, impressa, distribuída. Se quiséssemos novidades, esperávamos a próxima edição – que demorava anos para sair. A velocidade da evolução permitia isso há 25 anos.

Hoje, com IA se moldando e ganhando corpo com novidades diárias, isso é impensável.

Imaginem se ainda dependêssemos de “livros impressos” para definir como usar IA responsavelmente? Se tivéssemos que esperar anos entre atualizações de regulamentação enquanto a tecnologia evolui mensalmente?

É exatamente isso que está acontecendo com a abordagem regulatória tradicional.O artigo sobre os 7 riscos de IA gerou uma discussão rica no LinkedIn. Várias pessoas compartilharam experiências reais de suas empresas, e isso me fez refletir sobre algo que venho observando em minha trajetória profissional.

Trabalho há anos com transformação digital em diferentes países – Brasil, Emirados Árabes, Qatar, Espanha – e uma coisa me chama atenção: empresas que se antecipam sempre saem na frente.

Mas tem uma pergunta que não quer calar: por que algumas organizações já estão colhendo vantagens competitivas com IA responsável, enquanto outras ainda estão “analisando os riscos”?

A resposta não está na tecnologia ou orçamento. Está na mentalidade. Empresas visionárias entenderam que autorregulação inteligente não é custo – é investimento estratégico.

Com o PL 2338/2023 avançando e a pressão regulatória crescendo, vejo muitos executivos esperando as regras ficarem prontas para agir. Na minha experiência, isso pode ser um erro estratégico significativo.

Enquanto isso, um grupo seleto de líderes descobriu algo interessante: eles pararam de esperar e começaram a liderar.

O dilema da regulamentação: lições globais

Em meus projetos internacionais, pude observar diferentes abordagens regulatórias de perto. E aqui está algo que aprendi: regulamentação excessiva pode matar inovação.

O portal Itshow publicou recentemente um estudo sobre regulação global de IA que corrobora essa observação. A Europa, com o EU AI Act, criou a primeira legislação estruturada de IA no mundo – multas de até 7% da receita global, classificações complexas em 4 categorias de risco.

O resultado? Startups migrando para outras jurisdições. Big techs adiando lançamentos. A Meta se recusando a lançar modelos avançados na UE. Os europeus quiseram se proteger tanto que acabaram travando a máquina.

Nos Estados Unidos, presenciei uma abordagem diferente: o AI Risk Management Framework voluntário (NIST). Foco na competitividade. Empresas investem bilhões em IA responsável porque entenderam que falha ética resulta em perda imediata de valor.

O Japão, que conheço bem dos meus tempos de telecomunicações, escolheu um caminho mais pragmático: soft law baseada em diretrizes voluntárias, mantendo flexibilidade para adaptações tecnológicas.

E o Brasil? Temos uma oportunidade única de criar uma “terceira via” que aprenda com todos esses modelos – protegendo sem paralisar.

Por que autorregulação funciona melhor

Em minha experiência implementando governança de TI em diferentes culturas empresariais, observei que autorregulação proativa cria vantagens competitivas genuínas.

Velocidade de implementação: Empresas autorreguladas conseguem implementar IA até 6 vezes mais rápido. Sem esperar aprovações burocráticas intermináveis. Governança própria significa decisão ágil.

Atração de talentos: Dados mostram que 87% dos desenvolvedores preferem empresas com práticas éticas claras. Na prática, vejo isso constantemente – profissionais top escolhem organizações com propósito.

Acesso a capital: Fundos ESG movimentam US$ 35 trilhões globalmente. Empresas com governança sólida de IA recebem avaliações 40% superiores³. Capital segue empresas responsáveis.

Preparação antecipada: Quando o PL 2338/2023 virar lei, empresas autorreguladas se adaptam em semanas. As outras? Meses ou anos.

O que está acontecendo nos bastidores

Aqui está algo que percebi conversando com outros executivos: criar padrões robustos de IA responsável não é tarefa para uma empresa fazer sozinha. É complexo demais, evolui rápido demais.

Mas alguns líderes já encontraram uma solução interessante.

Eles entenderam que frameworks eficazes de IA responsável precisam de colaboração inteligente. Não competição destrutiva, mas coordenação estratégica em padrões que elevem todo o ecossistema.

Imaginem: e se as empresas mais responsáveis do Brasil desenvolvessem critérios de maturidade próprios para IA? Standards práticos, implementáveis – não burocráticos e travadores?

E se criássemos formas de reconhecer organizações verdadeiramente responsáveis? Uma maneira de distinguir quem realmente implementa boas práticas de quem só faz marketing?

Isso não é teoria. Está sendo construído.

Nos bastidores, vejo um ecossistema de IA responsável emergindo. Executivos visionários estão desenvolvendo metodologias brasileiras que podem se tornar referência não só aqui, mas globalmente.

Coordenação vs. fragmentação

Minha experiência em projetos multinacionais me ensinou algo valioso: coordenação funciona melhor que fragmentação.

Exemplos que funcionam globalmente:

  • Princípios da OCDE: Endossados por 40+ países, incluindo o Brasil
  • NIST Framework (EUA): Voluntário, mas virou padrão de facto

Por que esta abordagem supera regulamentação rígida?

Flexibilidade operacional: Regulamentação pesada cria teatro de compliance. Frameworks colaborativos focam em resultados práticos.

Adaptabilidade: Mercados de IA mudam mensalmente. Padrões adaptativos evoluem em tempo real.

Foco em valor: Regras rígidas criam mentalidade de checkbox. Critérios bem desenhados perguntam: “isso gera valor sem causar dano?”

E no Brasil, como estamos?

O PL 2338/2023 ainda tramita na Câmara. Podemos influenciar para que as regras finais sejam inteligentes – que protejam sem paralisar.

Cenário que vislumbro:

  • Empresas brasileiras liderando globalmente em IA responsável
  • Metodologias “Made in Brazil” virando referência internacional
  • Marco regulatório favorecendo inovação responsável
  • Brasil como destino preferencial para investimento em IA

Isso é possível. Mas apenas se influenciarmos antes das regras serem engessadas.

A escolha não é entre “regulamentação ou não.” É entre regulamentação inteligente ou regulamentação pesada.

Uma reflexão final

Se você pudesse participar da construção do futuro da IA responsável no Brasil, participaria?

Se sua empresa pudesse ter acesso a frameworks de excelência desenvolvidos colaborativamente pelas melhores práticas do mercado, isso faria sentido?

Se existisse uma forma de demonstrar maturidade em IA responsável que fosse reconhecida pelo mercado, você gostaria de entender melhor?

Alguns líderes já estão construindo essas respostas.

Na próxima semana, vou abordar o dilema fundamental que todo CEO enfrenta: como equilibrar inovação acelerada com proteção responsável. E como empresas brasileiras estão resolvendo essa equação de forma única.

A resposta não está nos extremos. Está numa abordagem brasileira que poucos conhecem ainda.

Mas que está reunindo os líderes certos.

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Mauro Periquito
Mauro Periquito
Engenheiro de Telecomunicações e Consultor de Tecnologia, com o objetivo de desenvolver e gerenciar projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em sua trajetória profissional, tem como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
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