O estudo recente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) trouxe à tona um panorama dos desafios enfrentados pelos países do BRICS no campo da inteligência artificial (IA). Enquanto algumas nações como China e Rússia avançam a passos largos em suas estratégias de desenvolvimento de IA, outros membros do bloco, como Brasil, Índia e África do Sul, ainda lidam com dificuldades significativas para consolidar suas políticas tecnológicas. O estudo revela que, apesar das várias semelhanças entre os países, o consenso sobre como aplicar e regular IA permanece uma barreira importante para uma cooperação mais robusta no bloco.
O desafio da cooperação entre os países do BRICS
A falta de consenso dentro do BRICS sobre como utilizar a IA para o desenvolvimento econômico e social é um reflexo das profundas disparidades tecnológicas e políticas entre seus membros. Embora a China e a Rússia sejam líderes mundiais em pesquisa e desenvolvimento de IA, com investimentos massivos em tecnologias avançadas como computação neuromórfica, inteligência artificial generativa e robótica militar, outros países do bloco, como o Brasil e a Índia, estão ainda em estágios iniciais de desenvolvimento.
A China tem buscado autonomia tecnológica em áreas como 5G, big data e inteligência artificial, investindo em infraestrutura de dados e em um mercado robusto para essas tecnologias. A Rússia, por sua vez, investe fortemente em IA voltada para a segurança nacional e uso militar, refletindo uma abordagem mais estratégica e menos voltada ao desenvolvimento econômico direto.
Por outro lado, países como Brasil e África do Sul ainda enfrentam limitações em termos de infraestrutura, acesso a talentos e financiamento para pesquisa e desenvolvimento em IA. Essas desigualdades dificultam a criação de uma plataforma comum para a adoção de tecnologias que beneficiem todo o bloco de maneira igualitária.
Divergências nas abordagens estratégicas
Apesar das diferenças, o bloco do BRICS compartilha alguns objetivos comuns em relação à inteligência artificial, como a necessidade de criação de normas globais para a ética em IA, proteção de dados e governança digital. No entanto, questões políticas e econômicas têm dificultado o alinhamento de estratégias e a implementação de ações coordenadas. De fato, apenas alguns membros do BRICS, como Brasil, China, Índia e Indonésia, assinaram compromissos globais relacionados à IA, como a Declaração para uma IA Inclusiva e Sustentável da Cúpula de Paris de 2025. Outros países, como Rússia, África do Sul e Emirados Árabes Unidos, não participaram desses compromissos, indicando dificuldades em estabelecer uma posição unificada.
Estratégias para fortalecer a cooperação em IA no BRICS
O estudo do IPEA destaca quatro eixos estratégicos que poderiam fortalecer a cooperação entre os países do BRICS em relação à inteligência artificial. O primeiro eixo envolve a criação de cadeias de suprimentos internas para IA, com destaque para o fornecimento de hardware avançado. A China e a Rússia poderiam colaborar mais ativamente com os outros membros para fornecer componentes essenciais, como chips e servidores, permitindo uma maior autonomia tecnológica dentro do bloco.
O segundo eixo sugere o desenvolvimento de padrões comuns de dados, especialmente em áreas sensíveis, como saúde, educação e agricultura. Estabelecer uma plataforma de compartilhamento de dados dentro do BRICS poderia acelerar a inovação e garantir que as soluções de IA sejam aplicadas de forma equitativa, beneficiando todos os membros do bloco.
O terceiro pilar estratégico trata da capacitação e intercâmbio de talentos em IA. Devido à escassez de profissionais qualificados em IA, o BRICS poderia estabelecer programas de treinamento e educação em IA, além de incentivar o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre universidades, centros de pesquisa e empresas de tecnologia.
O quarto eixo destaca a importância de infraestruturas compartilhadas, como data centers e computação em nuvem, para apoiar o desenvolvimento e a implementação de IA de maneira mais econômica e acessível. Modelos de computação distribuída, como os utilizados pelo Brasil e pela Etiópia, poderiam ser ampliados para criar uma rede robusta de infraestruturas de IA em todo o bloco.
A visão do IPEA para o futuro da IA no BRICS
Para o IPEA, o futuro da IA no BRICS depende da implementação conjunta dessas estratégias. A criação de uma infraestrutura de dados comum, juntamente com a promoção de soluções tecnológicas colaborativas, poderia transformar o bloco em uma potência global em IA. Isso reduziria a dependência de potências externas, como os Estados Unidos e a União Europeia, em relação a tecnologias críticas.
O estudo também ressalta a importância da governança democrática da IA, que permita que todos os países do bloco tenham voz na definição das regras para o uso de IA, garantindo que as soluções tecnológicas beneficiem de forma justa os cidadãos de todos os países membros. A transparência e a ética no uso de IA são princípios fundamentais que devem guiar essa cooperação.
O impacto global da IA no BRICS
O BRICS tem a oportunidade de liderar a governança global de IA, especialmente na promoção de normas que favoreçam países em desenvolvimento. A colaboração no uso de IA pode ser um ponto de virada para os países do bloco, permitindo que eles não apenas se alinhem com as tendências globais, mas também definam uma agenda própria, que priorize a inclusão digital, a democratização da tecnologia e a transformação digital.
Embora o BRICS enfrente desafios significativos em sua cooperação em IA, o bloco tem potencial para se tornar uma força global na transformação digital. Com uma abordagem mais integrada e estratégias colaborativas, os países do BRICS podem criar um ecossistema de IA que não apenas impulsione seus próprios avanços tecnológicos, mas também ajude a definir um futuro mais justo e sustentável para a IA no cenário global.

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