As fraudes no setor de seguros no Brasil ultrapassaram R$ 2 bilhões apenas nos seis primeiros meses de 2024, segundo levantamento da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). O número representa um alerta para todo o mercado segurador e reforça o impacto sistêmico dessas ações criminosas sobre os custos das apólices, o avanço da transformação digital e a experiência do consumidor.
Os golpes vão desde simulações de morte até acidentes forjados e uso de veículos dublês, criando um ambiente de insegurança que obriga seguradoras a adicionar camadas extras de verificação em seus processos. Isso se reflete em maior custo operacional, jornadas menos fluidas para os usuários e um efeito cascata que atinge o preço final dos produtos oferecidos.
Esquemas afetam não só as seguradoras, mas todo o sistema
Especialistas do setor destacam que os efeitos das fraudes vão muito além das perdas diretas com pagamentos indevidos. Os custos acabam sendo parcialmente repassados ao consumidor, comprometendo a acessibilidade às apólices, especialmente nos segmentos mais populares. Além disso, o aumento da complexidade nos processos de subscrição e análise acaba por comprometer a eficiência do sistema e desestimular inovações em canais digitais.
A digitalização, que vinha sendo acelerada por insurtechs e players tradicionais, enfrenta entraves com o crescimento das fraudes. “Cada nova tentativa de golpe exige mais verificações, o que contraria o objetivo de uma jornada mais simples e digital para o cliente”, afirma um executivo do setor, sob condição de anonimato.
Setor pede endurecimento da legislação e atuação policial
Diante do cenário preocupante, lideranças do mercado segurador têm reforçado a necessidade de que fraudes sejam tratadas como crimes e não apenas como infrações administrativas. Para muitos executivos, é fundamental que esses casos sejam investigados por autoridades policiais e tratadas como tema de segurança pública, com reflexos na cidadania financeira.
“Enquanto fraudes continuarem sendo vistas como ‘custos do negócio’, haverá pouco avanço. Precisamos tratar o tema com o rigor que ele exige”, defende um dirigente da CNseg.
IA e automação surgem como aliadas contra fraudes
Em resposta ao cenário de risco crescente, o setor tem investido fortemente em tecnologia de prevenção, com destaque para soluções baseadas em inteligência artificial, análise preditiva e automação de subscrição.
Plataformas que cruzam informações em tempo real, verificam inconsistências e analisam padrões de comportamento anômalo têm ajudado a reduzir fraudes sem comprometer totalmente a experiência digital. O desafio, no entanto, é equilibrar segurança com agilidade, sem penalizar o usuário honesto.
A insurtech Azos, por exemplo, já utiliza IA e mecanismos de validação automática para permitir subscrições em até 30 segundos. Segundo a empresa, essa abordagem melhora a eficiência operacional e reduz o risco de concessões indevidas, sem prejudicar a jornada do consumidor legítimo.
Digitalização sob pressão: eficiência versus exposição
Para o setor, o desafio está em manter a proposta de digitalização do seguro, com jornadas mais simples, autosserviço e mobile-first, ao mesmo tempo que lida com um cenário de ameaça crescente e cada vez mais sofisticada.
As empresas continuam apostando em soluções tecnológicas para minimizar falsos positivos, proteger dados e evitar a exposição de brechas operacionais. Mas a pressão por retorno financeiro e sustentabilidade do negócio exige mais do que apenas tecnologia: é preciso haver integração entre compliance, TI, jurídico, prevenção a fraudes e experiência do cliente.
Proteção ao consumidor e sustentabilidade do setor
Com o crescimento das fraudes, os consumidores regulares também estão em risco. Ao elevarem o custo das operações e forçarem reajustes nos preços, os golpes afetam justamente aqueles que buscam proteção legítima. Por isso, empresas do setor têm defendido a adoção de modelos de verificação mais inteligentes, que combinem eficiência técnica com entendimento do risco.
O objetivo é manter a atratividade das apólices, proteger a reputação do setor e garantir um ambiente seguro tanto para seguradoras quanto para os clientes.
Tecnologia, regulação e ação coordenada
A explosão das fraudes no setor de seguros brasileiro em 2024 mostra que a transformação digital não pode ignorar segurança, integridade de dados e avaliação preditiva de risco. A adoção de ferramentas tecnológicas, somada a políticas públicas mais rigorosas, será essencial para restabelecer a confiança e garantir sustentabilidade ao sistema segurador.
Para líderes de tecnologia, inovação e compliance, o recado é claro: a modernização do setor passa, obrigatoriamente, pela inteligência contra fraudes — com integração entre áreas, colaboração institucional e responsabilidade compartilhada entre empresas, governo e sociedade.
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