Durante o IT Summit Sorocaba 2025, realizado nos dias 2 e 3 de julho no Parque Tecnológico de Sorocaba, simultaneamente ao TechCity Summit, a governança da inteligência artificial (IA) emergiu como tema central entre executivos de tecnologia, inovação e transformação digital. Em uma entrevista exclusiva ao portal Itshow, os representantes da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software), Jorge Sukarie e Eduardo Paranhos, fizeram alertas contundentes e ofereceram diretrizes claras para líderes de TI diante do cenário de adoção acelerada da IA no Brasil.
A conversa, mediada por Márcio Montagnani, diretor de portfólio da Biz Group e colunista do Itshow, percorreu temas estratégicos como regulação tecnológica, investimentos em TIC, frameworks normativos, riscos de projetos impulsionados apenas por hype e o novo papel do CIO na liderança de uma cultura orientada por dados e inovação.
“A inteligência artificial não é apenas uma tendência — ela é a base da próxima grande transformação”, afirmou Jorge Sukarie, reforçando que a maturidade digital das organizações dependerá da capacidade de estruturar governança desde já.
Brasil sobe no ranking global de TI, mas ainda investe abaixo de seu potencial
Os dados do estudo “Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências 2025”, desenvolvido pela ABES em parceria com a IDC, mostram que o Brasil subiu para a 10ª posição global em investimentos em TIC, com crescimento de 13,9% em 2024, acima da média mundial.
No entanto, a representatividade brasileira ainda é desproporcional ao seu PIB, indicando espaço significativo para expansão. A estimativa da ABES é que o país poderia injetar entre R$ 15 e R$ 20 bilhões adicionais por ano em investimentos tecnológicos se houvesse maior alinhamento entre setor público, privado e instituições financeiras.
“Estamos em uma posição estratégica global, mas ainda aquém do nosso potencial. Precisamos de políticas públicas consistentes e decisões empresariais alinhadas com a transformação digital”, comentou Sukarie.
A análise por região e por vertical de mercado, contida no estudo, oferece um mapa decisório essencial para CIOs e CDOs redesenharem seus portfólios de tecnologia, priorizarem investimentos e avaliarem a maturidade digital setorial.
Governança de IA: da agenda técnica à responsabilidade estratégica
Eduardo Paranhos, advogado com atuação em regulação e líder do grupo de trabalho de Inteligência Artificial da ABES, ressaltou que a governança de IA não é uma escolha, é uma exigência de mercado, ética e jurídica. As discussões sobre direitos autorais, responsabilidade e transparência algorítmica precisam estar no centro da agenda das empresas que já utilizam ou pretendem adotar soluções baseadas em IA.
“Estamos diante de uma disrupção tão significativa quanto a internet ou o big data. E como em toda disrupção, a ausência de governança pode gerar prejuízos reputacionais, legais e financeiros”, afirmou Paranhos.
Ele alertou que muitas empresas estão repetindo os erros cometidos antes da vigência da LGPD, quando a regulação foi tratada como uma barreira e não como parte do planejamento estratégico. A diferença, agora, é que há um conjunto de normas ISO/IEC já adotadas no Brasil pela ABNT, que permitem o desenvolvimento de modelos de IA auditáveis, éticos e seguros.
Entre elas, estão normas que abordam:
- Avaliação de riscos algorítmicos;
- Transparência e explicabilidade de decisões automatizadas;
- Princípios de equidade, segurança e robustez dos sistemas;
- Ciclo de vida e responsabilidade sobre o uso de IA em ambientes corporativos.
“Governança é hoje. E há estrutura normativa para quem quiser começar agora, com base técnica sólida e aderente à legislação brasileira”, enfatizou.
Hype vs. realidade: o risco da transformação sem fundamento
A rápida popularização da IA generativa tem gerado, segundo os especialistas, uma corrida por adoção que muitas vezes ignora planejamento, alinhamento com o core business e capacitação de times.
“Já vimos isso antes. Empresas tentando ‘uberizar’ processos sem entender impactos operacionais, resultando em legados caros e ineficazes. Com IA, os riscos são ainda maiores”, alertou Sukarie.
A recomendação dos especialistas é clara: não basta incorporar IA — é preciso integrá-la com visão de negócio, estratégia e estrutura de governança. Isso inclui desde a definição de critérios para aquisição de soluções até a qualificação dos dados utilizados nos modelos de machine learning.
O novo CIO: de gestor de TI a arquiteto da competitividade
O estudo ABES/IDC e a experiência acumulada da entidade mostram que o papel do CIO mudou irreversivelmente. Hoje, ele é co-responsável pela entrega de valor ao negócio, atuando como articulador entre tecnologia, inovação, cultura organizacional e impacto econômico.
“O executivo de tecnologia precisa olhar além da operação. Ele deve orientar investimentos, entender tendências setoriais e liderar a transformação com foco em valor e sustentabilidade”, afirmou Sukarie.
Com um mercado em rápida mudança, o domínio de tecnologias emergentes, incluindo IA, nuvem, automação inteligente e plataformas de dados, deixa de ser diferencial e se torna exigência competitiva.
IA como vetor de produtividade, eficiência e inovação
Mais do que apenas uma inovação tecnológica, os especialistas reforçaram que a inteligência artificial deve ser tratada como alavanca de produtividade e inovação organizacional. Seu impacto é transversal, atingindo desde processos operacionais até a criação de modelos de negócio inteiramente novos.
A adoção de IA exige, além de tecnologia, preparo de equipes, revisão de processos, cultura orientada a dados e liderança comprometida com responsabilidade digital.
“A inteligência artificial transforma não só o que fazemos, mas como pensamos, decidimos e construímos valor para o cliente”, afirmou Sukarie.
O tempo da adaptação acabou. Agora é tempo de liderança.
O IT Summit Sorocaba 2025 consolidou um novo consenso entre os executivos de tecnologia: a inteligência artificial já está em curso — e a ausência de governança não é mais tolerável. Os líderes de TI estão diante da oportunidade de redesenhar suas organizações com ética, inovação e sustentabilidade.
“A maturidade digital não será alcançada com soluções isoladas, mas com visão estratégica, dados confiáveis e liderança que compreende o impacto da tecnologia. Quem não se adaptar, será excluído do mercado”, concluiu Sukarie.
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