Nos últimos anos, o papel do CIO (Chief Information Officer) passou por uma transformação profunda, saindo do status tradicional de gestor da área técnica para assumir uma posição estratégica dentro das empresas. O CIO moderno é peça-chave para garantir a transformação digital, a integração entre tecnologia e negócios, além de liderar equipes multidisciplinares em um ambiente corporativo cada vez mais complexo e dinâmico.
O novo papel do CIO: mais estratégico, menos técnico
Historicamente, o CIO era visto como o profissional responsável pela infraestrutura de TI, manutenção de sistemas, segurança da informação e suporte operacional. Essa visão está ultrapassada. Na atualidade, não existe mais sucesso organizacional sustentável sem a presença ativa da tecnologia, e o CIO precisa assumir um papel estratégico no desenho e execução das estratégias corporativas.
Rodrigo dos Anjos, CIO com ampla experiência em setores como agroindústria e saúde, enfatiza que “sem TI, não há continuidade de negócios”. Ele explica que o executivo de TI deve dialogar diretamente com o CEO, CFO e demais líderes para alinhar a tecnologia aos objetivos financeiros e de mercado. Isso exige que o CIO entenda de finanças, margens de lucro, retorno sobre investimento (ROI) e esteja preparado para discutir esses temas no nível do conselho.
Além disso, o CIO precisa equilibrar as demandas operacionais do dia a dia com a visão de longo prazo, o que demanda um gerenciamento eficaz de recursos e um olhar atento às necessidades do negócio. Ana Paula Negoro, CIO da Aché Laboratórios Farmacêuticos, compara essa responsabilidade a “girar vários pratinhos ao mesmo tempo”, destacando a necessidade de manter o equilíbrio entre inovação, operação, equipe e parceiros.
A cultura organizacional como fator determinante para a transformação
Um dos maiores desafios para o CIO é promover a transformação digital dentro das organizações que apresentam culturas corporativas tradicionais ou conservadoras. Aldir Rocha, sócio-diretor da Lozinsky Consultoria, destaca que entender o nível de maturidade digital da empresa é fundamental para conduzir as mudanças necessárias.
Empresas com baixa maturidade digital e processos rígidos exigem uma abordagem mais cuidadosa, que considere os valores, hábitos e resistências internas. Para isso, o CIO deve identificar aliados em diferentes áreas, construir parcerias e traduzir a linguagem técnica em benefícios claros para o negócio.
Estudos de casos mostraram que iniciativas que partem de áreas mais dinâmicas e pressionadas por inovação — como serviços em campo ou atendimento ao cliente — podem funcionar como catalisadores para convencer setores mais tradicionais a adotarem novas práticas e tecnologias.
Governança de TI: a base para inovação e eficiência
A governança de TI é o conjunto de práticas, processos e estruturas que garantem que a tecnologia da informação esteja alinhada às estratégias da empresa, gere valor e minimize riscos. Rodrigo dos Anjos explica que a governança é como o “asfalto” que permite o trânsito seguro e eficiente das operações e projetos dentro da organização.

Sem uma governança sólida, as empresas enfrentam decisões improvisadas, desperdício de recursos, subutilização de sistemas e dificuldades para integrar soluções tecnológicas. Muitas organizações investem em ferramentas sofisticadas, como ERPs, CRMs e plataformas de análise de dados, mas não conseguem extrair todo o valor delas devido à falta de governança.
O CIO tem papel fundamental na definição da arquitetura de sistemas, no gerenciamento do portfólio de projetos e no estabelecimento de processos para garantir a qualidade, segurança e continuidade das operações de TI.
Liderança empática: o diferencial para equipes engajadas e produtivas
A gestão de pessoas é um aspecto vital para o sucesso do CIO, especialmente em um contexto marcado por rápidas mudanças tecnológicas, alta demanda por inovação e pressão constante por resultados. A segurança psicológica — a sensação de confiança para expressar ideias, dúvidas e erros sem medo de represálias — é um fator que impacta diretamente a capacidade de inovação dos times.
Estudos apontam que ambientes que promovem essa segurança psicológica têm equipes mais criativas, colaborativas e resilientes. Ana Paula Negoro destaca a importância de criar esse ambiente, especialmente para reter talentos e reduzir o turnover em setores onde a concorrência por profissionais qualificados é alta.
O CIO moderno precisa ser um líder humanizado, capaz de reconhecer as diferentes gerações, valores e motivações de seus colaboradores. Além disso, deve fomentar a comunicação aberta, a diversidade e a cultura de aprendizado contínuo.
Tendências e competências para o CIO do futuro
O cenário tecnológico está em constante evolução, e o CIO precisa se preparar para liderar em um ambiente cada vez mais complexo. Algumas das competências e tendências apontadas pelos especialistas incluem:
- Comunicação efetiva com o board: saber traduzir termos técnicos em linguagem acessível para os executivos e o conselho;
- Conhecimento financeiro: compreender como a tecnologia pode influenciar margens, custos e receita;
- Visão sistêmica e estratégica: integrar tecnologia, negócio, cultura e processos para alcançar objetivos corporativos;
- Gestão de riscos e segurança da informação: equilibrar inovação com proteção dos ativos e dados da empresa;
- Liderança ágil e empática: gerir equipes multidisciplinares, promover segurança psicológica e incentivar inovação;
- Capacidade de adaptação e aprendizado contínuo: acompanhar as mudanças do mercado, novas tecnologias e modelos de negócio.
O papel do CIO ultrapassa o gerenciamento da infraestrutura de TI e assume uma posição central na estratégia e na competitividade das organizações. Para ser bem-sucedido, o CIO deve atuar como um elo entre a tecnologia e o negócio, promovendo transformação digital alinhada à cultura da empresa e conduzindo equipes com liderança humanizada.
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