Você já notou que os anúncios sobre o 5G estão por todo lado, mas na prática, aquela revolução prometida ainda não chegou? Calma lá que você não está sozinho nessa percepção!
A jornada de implantação no Brasil
O 5G chegou ao Brasil provocando muito barulho e gerando expectativas enormes em novembro de 2021, quando a Anatel realizou o histórico leilão de frequências, arrecadando cerca de R$ 47,2 bilhões. Em julho de 2022, tivemos a primeira ativação oficial em Brasília, marcando o início formal da tecnologia no país.
Desde então, o cronograma de implantação tem avançado em ritmo acelerado. Embora o plano original preveja a cobertura completa apenas em 2029, as operadoras têm antecipado significativamente esse prazo, pressionadas pelas demandas do mercado. Capitais grandes cidades, bem como cidades periféricas desses conglomerados urbanos já contam com a tecnologia, e o interior vem sendo contemplado antes do previsto.
Mas apesar desta expansão acelerada – velocidades ultrarrápidas, latência quase zero, capacidade para conectar milhões de dispositivos simultaneamente – a grande questão permanece: cadê a revolução prometida?
A verdade é simples: o 5G é um meio de transmissão poderoso, mas que precisa ser aproveitado estrategicamente. Assim como o 4G, 3G e todas as tecnologias anteriores, ele cria o ambiente para que as transformações aconteçam – e felizmente, já estamos vendo os primeiros movimentos nessa direção.
O que aprendemos com o 4G
Lembra quando o 4G chegou? No início, parecia apenas “um 3G mais rápido”. Foi somente quando o ecossistema de inovação se adaptou que vimos as verdadeiras mudanças:
- Uber e 99: o modelo de mobilidade compartilhada só se tornou viável com a confiabilidade do 4G.
- iFood e Rappi: a economia dos aplicativos de delivery dependia de conexões estáveis e rápidas.
- WhatsApp e videoconferência: Chamadas de vídeo de qualidade seriam impensáveis no 3G.
- Aplicativos bancários: transações instantâneas e seguras necessitavam de conexões confiáveis.
Nenhuma dessas soluções foi criada pelas operadoras de telecomunicações. Elas surgiram de empreendedores que enxergaram o potencial da nova infraestrutura.
4G vs 5G: comparativo técnico
Para entender o potencial revolucionário do 5G, é importante compará-lo com seu antecessor:

Estas diferenças não são apenas números – elas representam o limiar entre o que é e o que não é possível fazer em aplicações do mundo real.
O verdadeiro potencial do 5G
O 5G não é apenas sobre smartphones mais rápidos – é sobre possibilidades inéditas que já começam a se materializar em vários setores:
- Agricultura de precisão: monitoramento em tempo real de milhares de sensores por hectare, otimizando irrigação, combate a pragas e colheita. Máquinas agrícolas de milhões de reais precisam estar permanentemente conectadas, enviando dados em tempo real para centros decisores nas sedes das fazendas ou para a agroindústria. Em um setor onde os produtos são majoritariamente perecíveis, toda a cadeia precisa funcionar com a precisão de um relógio suíço para minimizar perdas e maximizar produtividade
- Indústria 4.0: fábricas totalmente conectadas, com manutenção preditiva e processos autônomos. Só com mais eficiência operacional e novos modelos de negócio poderemos desenvolver produtos nacionais competitivos frente aos importados, especialmente os chineses. O desenvolvimento local vai além de movimentar a economia brasileira – atende às regulamentações governamentais e habilita suporte técnico local, eliminando uma das grandes dores de cabeça no ciclo de vida dos produtos industriais
- Cidades inteligentes: da iluminação ao transporte público, sistemas integrados que economizam recursos e melhoram a qualidade de vida. É fundamental que os municípios, assim como possuem vias de circulação, desenvolvam “infovias digitais” para fomentar não apenas a conexão do aparato público, mas também programas de inclusão digital para populações carentes e ecossistemas locais de inovação
- Utilities (Energia e Saneamento): redes de distribuição inteligentes que identificam vazamentos, desvios e otimizam o consumo. No Brasil, aproximadamente 40% da água tratada é perdida no caminho entre as estações de tratamento e os consumidores devido a fraudes (os famosos “jacarés”) e vazamentos na infraestrutura. No setor elétrico, as perdas por fraude (os “gatos”) e problemas técnicos também são enormes. A maior eficiência operacional proporcionada pelo 5G pavimenta um caminho concreto para a redução das tarifas, beneficiando toda a população
- Redes privativas 5G: empresas podem criar suas próprias redes, com segurança e confiabilidade sem precedentes, mantendo o controle total sobre seus dados críticos e garantindo cobertura personalizada independentemente das operadoras tradicionai
Acelerando a jornada: O que já está sendo feito e como podemos avançar mais
O 5G é o meio, não o fim. Já existem iniciativas importantes em andamento, mas para amplificar esse movimento e realmente transformar nossa sociedade, precisamos intensificar:
- Incentivo à inovação: programas de aceleração já existentes como os hubs 5G das operadoras e de grandes empresas precisam ser ampliados e descentralizados para alcançar mais startups e empresas de médio porte
- Formação de talentos: universidades e empresas já iniciaram programas de capacitação, mas precisamos expandir essas iniciativas para formar muito mais desenvolvedores, engenheiros e empreendedores que dominem as possibilidades da tecnologia
- Integração entre setores: as parcerias entre operadoras, indústrias, agronegócio e poder público já renderam casos de uso pioneiros, mas precisamos sistematizar e escalar essas colaborações
- Regulamentação progressiva: a Anatel tem avançado em medidas que facilitam a implantação e uso do 5G, mas ainda precisamos de mais agilidade para acompanhar o ritmo da inovação global
- Mudança cultural: as estratégias e tecnologias que nos trouxeram até aqui não são as mesmas que nos irão apoiar no que vem pela frente
Conclusão
O 5G ainda não resolveu completamente nossos problemas porque estamos apenas no início da jornada. A infraestrutura está sendo implantada em ritmo acelerado, e já vemos os primeiros casos de uso tomando forma em diferentes setores. A verdadeira revolução está em curso, mas precisa de um ecossistema de inovação ainda mais vibrante para transformar todo o potencial dessa tecnologia em soluções concretas para os desafios do Brasil.
Assim como o 4G viabilizou uma nova economia digital, o 5G já começou a reinventar setores inteiros – da forma como produzimos alimentos até como gerenciamos nossas cidades. Os pioneiros já estão colhendo os primeiros frutos, mas o desafio agora é democratizar esses benefícios e expandir seu alcance.
A pergunta que fica: como podemos acelerar essa revolução para que o 5G beneficie toda a sociedade brasileira, e não apenas alguns setores ou regiões privilegiadas?
O que vem por aí: 5G Advanced e RedCap
O 5G que conhecemos hoje é apenas o começo. Já estão em desenvolvimento duas evoluções importantes:
5G Advanced: previsto para chegar ao mercado em 2025-2026, traz melhorias significativas em eficiência espectral, inteligência artificial integrada à rede e suporte a aplicações de realidade estendida (XR). Podemos esperar velocidades ainda mais altas, comunicação mais confiável e integração perfeita com edge computing.
5G RedCap (Reduced Capability): uma versão otimizada do 5G criada especificamente para dispositivos IoT, com menor consumo de energia e custo reduzido. O RedCap preenche a lacuna entre as tecnologias de baixo consumo como NB-IoT e o 5G completo, permitindo que sensores e dispositivos mais simples se beneficiem da rede 5G sem necessitar de todo seu potencial.
Estas evoluções demonstram que o ecossistema 5G continuará se desenvolvendo para acomodar diferentes necessidades – das aplicações mais exigentes aos dispositivos mais simples e econômicos.
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