Vivemos em um mundo onde a tecnologia permeia todas as áreas do negócio. A cada dia, novas ameaças digitais surgem, tornando a segurança cibernética um tema central para organizações de todos os portes e segmentos. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais de segurança é comunicar os riscos cibernéticos de forma clara e compreensível para quem não é especialista no assunto.
Traduzir ameaças técnicas para uma linguagem acessível é fundamental não apenas para sensibilizar, mas também para integrar a gestão de riscos cibernéticos aos processos corporativos já existentes, evitando a criação de silos e promovendo uma abordagem mais eficiente e estratégica.
O Desafio da Comunicação em Segurança Cibernética
A segurança cibernética, por sua natureza, está repleta de termos técnicos, siglas e conceitos complexos. Expressões como “phishing”, “ransomware”, “DDoS”, “zero-day”, “vulnerabilidade de escalonamento de privilégios” e “exploração de API” podem soar como outro idioma para profissionais de áreas como finanças, RH, operações ou mesmo para a alta liderança.
Esse distanciamento linguístico cria uma barreira perigosa: se o risco não é compreendido, ele não é priorizado. E se não é priorizado, dificilmente será tratado com a urgência e o investimento necessários. O resultado é uma falsa sensação de segurança, onde a organização acredita estar protegida, quando na verdade está vulnerável.
Por Que Traduzir é Fundamental?
- Engajamento da Liderança e das Áreas de Negócio: Líderes e gestores precisam entender os riscos para tomar decisões informadas. Quando a comunicação é técnica demais, perde-se a oportunidade de engajar quem realmente define prioridades e recursos.
- Alinhamento com os Objetivos do Negócio: Ao traduzir riscos cibernéticos para impactos tangíveis como perda financeira, interrupção de operações, danos à reputação ou não conformidade regulatória, fica mais fácil demonstrar como a segurança digital está diretamente ligada ao sucesso da empresa.
- Facilitação da Tomada de Decisão: Decisores precisam comparar riscos cibernéticos com outros riscos corporativos (como riscos financeiros, operacionais ou de mercado). Só é possível fazer essa comparação se todos estiverem falando a mesma língua.
- Cultura Organizacional de Segurança: Quando todos entendem os riscos, todos se sentem responsáveis. A segurança deixa de ser “problema do TI” e passa a ser parte da cultura da empresa.
Exemplos Práticos de Tradução
- Phishing: Em vez de explicar o ataque detalhadamente, pode-se dizer: “É como receber um e-mail falso que parece legítimo, mas que tenta enganar o funcionário para roubar informações ou instalar vírus.”
- Ransomware: “É um tipo de ataque em que criminosos bloqueiam o acesso aos sistemas da empresa e exigem um resgate para liberar novamente.”
- Vulnerabilidade: “É como uma porta esquecida destrancada em nossa empresa digital, que pode ser usada por invasores para entrar sem permissão.”
Integração com a Gestão de Riscos Corporativos
Muitas empresas já possuem processos de gestão de riscos, com metodologias e rotinas estabelecidas. Criar uma esteira paralela para tratar riscos cibernéticos, além de ineficiente, pode gerar conflitos, duplicidade de esforços e perda de sinergia.
A integração dos riscos cibernéticos à matriz de riscos corporativos traz diversos benefícios:
- Visão Holística dos Riscos: Todos os riscos, sejam eles de origem digital, operacional, financeira ou regulatória, são avaliados sob a mesma ótica, facilitando a priorização e o tratamento.
- Otimização de Recursos: Evita-se a duplicidade de controles e investimentos, direcionando esforços para onde o impacto é maior.
- Facilidade de Comunicação com o Conselho e Alta Direção: Ao apresentar riscos cibernéticos no mesmo formato dos demais riscos corporativos, a interlocução com o board se torna mais fluida e estratégica.
- Aumento da Maturidade Organizacional: Empresas que integram riscos cibernéticos à gestão corporativa demonstram maior maturidade e resiliência, sendo mais bem avaliadas por investidores, parceiros e órgãos reguladores.
Como Traduzir e Integrar na Prática
1. Conheça o Público
Antes de comunicar um risco, entenda quem é o seu interlocutor. Para o board, foque em impacto financeiro, reputacional e regulatório. Para áreas operacionais, destaque consequências práticas, como interrupção de processos ou indisponibilidade de sistemas.
2. Use Analogias e Exemplos
Analogia é uma poderosa ferramenta de comunicação. Compare um firewall a uma porta de segurança, um backup a um seguro, ou um ataque de phishing a um golpe telefônico.
3. Quantifique Sempre que Possível
Traga números: “Um ataque de ransomware pode paralisar nossas operações por X dias, gerando um prejuízo estimado de R$ Y mil.” Use referências de mercado, como o relatório da IBM que aponta que empresas preparadas gastam até 18,5% menos na recuperação de incidentes.
4. Adote a Mesma Metodologia de Riscos Corporativos
Se a empresa usa matriz de riscos (probabilidade x impacto), classifique também os riscos cibernéticos dessa forma. Se utiliza heatmaps, inclua os riscos digitais no mesmo mapa.
5. Participe dos Fóruns de Riscos
Profissionais de segurança devem estar presentes nos comitês de riscos, apresentando os riscos cibernéticos junto com os demais. Isso facilita o entendimento e a priorização.
6. Capacite Multiplicadores
Forme “embaixadores de segurança” em áreas-chave da empresa. Eles ajudam a traduzir e disseminar a cultura de segurança em suas equipes.
Evite a “Esteira Paralela”
Criar processos isolados para tratar riscos cibernéticos pode gerar ruídos e conflitos. O ideal é que o risco digital seja mais um vetor dentro do processo de gestão de riscos já existente. Isso não significa perder especificidade, mas sim ganhar força ao mostrar que a segurança cibernética é parte integrante da estratégia de negócios.
O profissional de segurança do futuro é, antes de tudo, um comunicador. Ele precisa dominar o “bilinguismo” entre o mundo técnico e o mundo dos negócios. Isso exige:
- Empatia para entender as dores e prioridades das áreas de negócio.
- Capacidade de simplificar sem perder a precisão.
- Habilidade de negociar e influenciar, mostrando o valor da segurança para o negócio.
Segurança é Coisa de Todos
Traduzir riscos cibernéticos para uma linguagem clara e integrá-los à gestão de riscos corporativos é mais do que uma boa prática é uma necessidade para empresas que querem sobreviver e prosperar no mundo digital. Quando todos entendem o risco, todos se tornam parte da solução.
A segurança cibernética não é um universo à parte, mas um componente essencial da estratégia empresarial. Ao derrubar barreiras linguísticas e processuais, criamos organizações mais resilientes, inovadoras e preparadas para os desafios do futuro.
O convite é claro: vamos falar de segurança de um jeito que todos entendam. E, principalmente, vamos tratar o risco cibernético como parte do todo, e não como um problema isolado do “pessoal de TI”. Só assim construiremos empresas realmente seguras, de ponta a ponta.
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