A conectividade entre objetos do cotidiano deixou de ser promessa para se tornar uma realidade consolidada e inevitável. Casas inteligentes, sensores agrícolas, dispositivos médicos conectados e sistemas de automação industrial fazem parte do nosso dia a dia, em escala crescente. Segundo a IDC, haverá mais de 41 bilhões de dispositivos IoT em uso até 2025, movimentando mais de US$ 1 trilhão em investimentos globais.
Essa revolução digital, no entanto, traz um desafio proporcional ao seu potencial: a segurança em dispositivos IoT. Esses equipamentos, por vezes negligenciados do ponto de vista da proteção digital, se tornaram alvos preferenciais de ataques sofisticados, devido à sua ampla superfície de exposição e à falta de padronização entre fabricantes.
Neste artigo, você vai entender quem está mais exposto, quando esse cenário se agravou e o que pode ser feito para proteger os dados em um ambiente onde cada objeto conectado pode ser uma possível porta de entrada para ameaças.
Quem está em risco: consumidores, empresas e infraestruturas críticas
A versatilidade da internet das coisas faz com que seus dispositivos sejam utilizados em contextos diversos. Da automação residencial à indústria 4.0, passando por setores críticos como saúde, agricultura, mobilidade urbana e segurança pública. Com isso, os riscos de exposição são amplos:
1. usuários domésticos
assistentes virtuais, câmeras de vigilância Wi-Fi, smart TVs e eletrodomésticos conectados facilitam a vida, mas também podem se tornar alvos de ataques se não forem corretamente configurados. Segundo a Kaspersky, 1 em cada 2 ataques a IoT em 2023 foi direcionado a residências.
2. pequenas e médias empresas
empresas de médio porte tendem a adotar soluções de IoT para automação, monitoramento e controle de ambiente. No entanto, muitas vezes operam com infraestrutura sem gerenciamento de vulnerabilidades, o que amplia o risco de incidentes.
3. setores industriais e infraestruturas críticas
sistemas SCADA, sensores de produção, máquinas autônomas e redes industriais formam um ecossistema complexo. A falha de um único dispositivo pode afetar toda a operação. Aqui, edge computing e 5G ampliam ainda mais o volume de dados processados em tempo real e, com isso, aumentam também os pontos de risco.
Quando o alerta ficou crítico: do crescimento ao descontrole
O conceito de IoT começou a tomar forma nos anos 2000, mas foi entre 2015 e 2020 que sua adoção explodiu, com a democratização dos dispositivos inteligentes. O problema? A maioria desses dispositivos foi desenvolvida com foco em funcionalidade e custo, e não em segurança.
Em 2016, um marco acendeu o alerta global: a botnet Mirai, formada por milhões de câmeras e roteadores inseguros, derrubou grandes sites e serviços, incluindo Netflix, Twitter e Spotify. Essa foi a primeira vez que o mundo viu, na prática, o impacto de dispositivos “inofensivos” usados como arma.
Com a pandemia, o cenário se agravou. O home office trouxe a mistura de ambientes domésticos e corporativos, enquanto o 5G impulsionou ainda mais a conectividade de dispositivos em ambientes externos, móveis e de missão crítica. O resultado foi uma superfície de ataque em expansão e milhares de pontos vulneráveis esquecidos nas redes.
O que está em jogo: privacidade, dados e controle operacional
A ausência de medidas eficazes de segurança em dispositivos IoT pode gerar efeitos diretos e devastadores para qualquer tipo de organização. Entre os riscos mais frequentes estão:
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roubo de dados confidenciais
dispositivos inseguros podem capturar e transmitir informações pessoais, registros empresariais ou até segredos industriais -
espionagem remota
câmeras e microfones podem ser ativados por invasores, violando a privacidade de pessoas ou espionando reuniões e ambientes estratégicos -
botnets e ataques coordenados
dispositivos inseguros podem ser controlados por atacantes para participar de ataques DDoS, como o já citado caso da Mirai -
interferência em operações críticas
ambientes industriais e hospitais são especialmente sensíveis. Em 2023, um hospital no interior de São Paulo teve que suspender cirurgias eletivas por 48 horas após um ataque que comprometeu equipamentos conectados à rede central de monitoramento
Profissões e setores sob pressão
O crescimento do ecossistema IoT impõe novas responsabilidades para diferentes funções e setores:
- CISOs e times de cibersegurança precisam estender sua atuação para dispositivos de borda, muitas vezes fora do alcance da TI tradicional
- gestores de infraestrutura e OT, especialmente na indústria, enfrentam o desafio de conciliar eficiência operacional com políticas de segurança robustas
- profissionais de saúde lidam com equipamentos conectados a pacientes, exigindo alta disponibilidade e proteção contra acessos externos
- especialistas em agronegócio dependem de sensores e drones que, se invadidos ou manipulados, afetam diretamente a produção
- empreendedores e PMEs precisam de políticas mínimas de segurança, mesmo com estruturas enxutas, para evitar vulnerabilidades críticas
Como proteger dispositivos e evitar vulnerabilidades
A boa notícia é que há diversas medidas acessíveis que ajudam a fortalecer o ecossistema de dispositivos conectados. Veja algumas práticas fundamentais:
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mapeamento e controle de ativos
identifique todos os dispositivos conectados à rede, inclusive os esquecidos, como impressoras e televisores -
alteração imediata de senhas padrão
trocar as credenciais de fábrica é uma das ações mais básicas e eficazes para evitar acessos não autorizados -
segmentação de rede
criar redes isoladas para dispositivos IoT evita que, em caso de ataque, o core da infraestrutura seja afetado -
atualização constante de firmware
configure notificações e cronogramas para garantir que todos os dispositivos estejam com o software em dia -
monitoramento ativo e resposta rápida
soluções de análise comportamental ajudam a detectar padrões suspeitos e ativar protocolos de segurança automaticamente -
políticas internas claras e treinamentos
usuários e colaboradores precisam entender como usar os dispositivos com responsabilidade e segurança
O papel do edge e do 5G na segurança
Com o avanço da computação de borda e do 5G, o processamento de dados em tempo real passou a ocorrer localmente, sem depender da nuvem. Isso oferece mais autonomia aos dispositivos, mas também impõe desafios extras na gestão de segurança.
A descentralização exige novas camadas de controle e autenticação. Empresas que operam com essa arquitetura devem investir em criptografia ponta a ponta, gerenciamento de identidade e visibilidade contínua sobre o comportamento dos dispositivos na borda.
A transformação digital impulsionada pela IoT é inevitável. Mas ela traz consigo responsabilidades que não podem ser ignoradas. Cada dispositivo conectado representa uma possível porta de entrada para ataques. E a segurança em dispositivos IoT precisa ser tratada como prioridade estratégica por todos os envolvidos.
A proteção da privacidade, da infraestrutura e dos dados não se limita mais ao servidor ou à nuvem. Ela se estende à borda da rede, onde sensores, câmeras, atuadores e outros dispositivos operam em tempo real. Quanto mais conectados estivermos, mais preparados precisaremos estar.
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