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segunda-feira, julho 7, 2025
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Shadow AI: o risco invisível que já pode estar dentro da sua empresa 

Nas últimas semanas, um novo tema começou a ganhar força nas discussões sobre governança de tecnologia: o avanço silencioso da Shadow AI nas empresas. 

Enquanto muitas organizações ainda estão estruturando suas primeiras diretrizes formais para o uso de inteligência artificial, um fenômeno paralelo e muitas vezes invisível cresce dentro dos times: o uso não autorizado de ferramentas de IA por colaboradores em busca de mais produtividade. 

A origem do problema: quando a inovação escapa do radar 

Durante muito tempo, o maior desafio das áreas de tecnologia foi lidar com o Shadow IT. Softwares, servidores e aplicações não homologadas, operando fora do controle da TI. 

Agora, o cenário ganha uma nova camada. A explosão de ferramentas de IA generativa, copilotos de código e assistentes baseados em LLMs fez com que qualquer colaborador, com poucos cliques, pudesse adotar soluções de inteligência artificial sem aprovação prévia ou acompanhamento da empresa. 

O motivo é uma combinação clássica: pressão por resultados rápidos, burocracia interna para liberação de novas tecnologias, desconhecimento dos riscos e a facilidade de acesso a ferramentas online, muitas delas com versões gratuitas e de uso imediato. 

A ausência de políticas claras de IA só amplia o problema. Em muitos casos, os próprios times de TI ainda estão criando suas primeiras diretrizes, enquanto os usuários de negócio já avançaram na adoção de IA por conta própria. 

O risco invisível: dados, compliance e governança 

O uso espontâneo de IA sem validação formal pode parecer inofensivo no curto prazo. Mas o impacto pode ser profundo. 

Ao interagir com ferramentas externas, colaboradores podem, sem perceber, expor dados estratégicos da organização. Isso inclui informações de clientes, documentos internos, pipelines comerciais e até relatórios financeiros. 

Além do risco direto de vazamento, existe uma preocupação crescente com a conformidade. O uso de Shadow AI pode facilmente violar normas como a LGPD, o GDPR ou outras regulamentações de proteção de dados. 

Cada dado inserido em um chatbot público, cada upload feito para uma IA de análise de texto não homologada, pode representar uma exposição desnecessária e perigosa. 

A perda de governança também é crítica. Empresas deixam de saber onde seus dados estão sendo processados, como estão sendo armazenados e quais terceiros estão tendo acesso a essas informações.

Por que bloquear não resolve 

Diante desse cenário, a reação mais comum de muitas empresas é bloquear o acesso a todas as ferramentas de IA não autorizadas. 

Essa decisão, embora compreensível, geralmente não resolve o problema. Ao contrário, empurra a Shadow AI ainda mais para as sombras, tornando-a menos visível e ainda mais difícil de controlar. 

A Shadow AI não nasce de má-fé. Ela nasce da necessidade. Da urgência dos times em buscar soluções rápidas para problemas reais. E da falta de alternativas seguras e aprovadas dentro do ambiente corporativo. 

Empresas que apenas bloqueiam, mas não oferecem opções concretas e acessíveis, acabam criando um ciclo de proibições ineficazes e riscos crescentes. 

Onde essa visão começa a se aplicar 

Na prática, o caminho mais eficaz passa por algumas ações estratégicas: 

● Educação: os colaboradores precisam entender os riscos legais, de segurança e de reputação envolvidos no uso de IA fora dos canais oficiais. Mais do que proibir, é preciso criar consciência. 

● Políticas claras: as organizações devem definir, de forma objetiva, quais ferramentas de IA são autorizadas, quais casos de uso são permitidos e quais critérios devem ser seguidos para o tratamento de dados. 

● Alternativas seguras: oferecer soluções corporativas modernas e eficientes. Se a TI não entrega boas ferramentas de IA, os usuários de negócio continuarão buscando por conta própria. 

● Monitoramento ético: criar mecanismos de visibilidade e controle, sem adotar posturas punitivas, mas com foco na proteção da empresa e dos próprios colaboradores. 

Essas medidas não são conceitos teóricos. São práticas já implementadas por empresas que entenderam a urgência do tema e decidiram antecipar os riscos antes que um incidente maior aconteça. 

Por que isso importa agora 

A discussão sobre Shadow AI tem sido, até agora, tratada de forma superficial por muitas empresas. Mas o cenário atual exige uma abordagem mais estratégica e integrada. 

Estamos falando de um tema que afeta cultura organizacional, segurança da informação, governança de dados e, principalmente, a relação da empresa com clientes e parceiros.

Não se trata apenas de criar barreiras. Trata-se de desenvolver uma cultura de inovação responsável, onde a adoção de IA seja feita com segurança, alinhamento estratégico e foco na criação de valor real para o negócio. 

A Shadow AI é um sintoma de uma organização que ainda não amadureceu sua governança de IA. Ignorar o tema ou tratá-lo apenas como uma falha operacional é um erro estratégico. 

O desafio agora é construir um ambiente onde a inteligência artificial possa ser utilizada com responsabilidade, onde inovação e segurança caminhem juntas, e onde os times de negócio tenham liberdade para inovar dentro de limites claros e bem definidos. 

Essa é uma mudança de postura que precisa envolver todas as áreas: liderança, TI, jurídico, compliance e, principalmente, as equipes de negócio que estão na linha de frente das operações diárias. 

O futuro pertence às organizações que souberem transformar esse desafio em uma oportunidade para fortalecer sua cultura digital, sua governança de dados e sua capacidade de inovação. 

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Mozart Marin
Mozart Marin
Professor Mozart Marin é Engenheiro de Dados e Inteligência Artificial, autor do livro "O Executivo Empreendedor", caminhos para o sucesso em um mercado digital e disruptivo, e referência em tecnologia e inovação no Brasil. Com mais de 20 anos de experiência no mercado B2B, liderou áreas técnicas, operacionais e executivas em empresas como Datasul (Totvs), Oracle, SAP e Neogrid.
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