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quarta-feira, agosto 13, 2025
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Shadow AI: o novo fantasma corporativo que todo CEO deveria conhecer

Se você é daqueles CEOs que tem certeza absoluta de que seu time ainda não usa IA porque você não liberou, preciso te dar uma notícia: você está redondamente enganado.

O artigo sobre autorregulação versus regulamentação pesada gerou discussões interessantes no LinkedIn. Mas uma conversa que tive recentemente me fez refletir sobre algo que está acontecendo bem debaixo do nosso nariz, e que pode ser muito mais perigoso do que imaginamos.

Olha só o que eu ouvi: “Mauro, descobrimos que nossa equipe de desenvolvimento estava usando ChatGPT há meses para revisar código. Ninguém pediu autorização. O pior: eles estavam colando trechos do nosso sistema proprietário para ‘otimizar’.”

Sabe como ele descobriu? Por acaso. Durante uma reunião, alguém comentou casualmente sobre “aquela sugestão que a IA deu ontem.” Eles estão de cabelo em pé pois os sistemas são estratégicos e toda mudança sofre auditoria. Como explicar que “por um passe de mágica”, o erro de código foi corrigido.

Se você se lembra do Shadow IT dos anos 2000, quando departamentos compravam hardware, software e serviços sem passar pelo TI, bem-vindo ao Shadow AI. Só que agora o risco é bem maior.

A pergunta que não quer calar: enquanto você “protege” sua empresa proibindo IA, quantos dados confidenciais já vazaram para os modelos públicos?

Shadow AI: o fantasma que assombra as empresas

Depois do Shadow IT que, convenhamos, ainda existe em muitas empresas. Shadow AI é o novo fantasma que assombra as corporações.

Enquanto executivos debatem políticas internas, comitês de aprovação, frameworks de governança, e outras questões filosóficas que prefiro nem comentar, boa parte dos funcionários já está usando IA com suas contas pessoais ou em modo gratuito na internet.

A realidade é simples: seus colaboradores não conseguem mais trabalhar sem IA. Ela acelera demais os resultados, melhora a qualidade, resolve problemas complexos em segundos.

Proibir o uso corporativo não impede o uso, apenas empurra para a clandestinidade.

E aqui está o paradoxo: o excesso de proteção está criando o cenário de maior risco possível.

O que está acontecendo na sua empresa agora

Deixa eu te contar o que está rolando (e que é real, acontece todo dia):

Maria, analista financeira, precisa criar um relatório complexo. Sabe que o ChatGPT resolveria em 20 minutos o que levaria 4 horas manualmente. Como a empresa “não liberou” IA, ela:

  1. Abre o ChatGPT no celular pessoal
  2. Cola dados da planilha confidencial da empresa
  3. Pede para analisar trends e criar insights
  4. Copia o resultado e apresenta como trabalho próprio

O que Maria não sabe: esses dados agora fazem parte do treinamento da OpenAI. Informações confidenciais da sua empresa estão disponíveis para qualquer pessoa que faça a pergunta certa ao modelo.

João, desenvolvedor, está com um bug complexo. Frustrado após horas tentando resolver, ele:

  1. Acessa o Claude ou ChatGPT
  2. Cola trechos do código proprietário da empresa
  3. Explica a lógica do negócio para contextualizar
  4. Recebe a solução e implementa

Resultado: Propriedade intelectual da empresa agora está nos datasets de IA públicos.

Sandra, do RH, precisa criar uma política interna. Para “acelerar o processo”:

  1. Usa IA gratuita para estruturar o documento
  2. Compartilha informações sobre estrutura organizacional
  3. Detalha processos internos confidenciais
  4. Obtém uma política “personalizada”

Consequência: Dados estratégicos sobre sua organização vazaram para sempre.

Por que isso acontece (e vai piorar)

A produtividade com IA é viciante. Quem experimenta não consegue mais viver sem. É como tentar proibir o uso de e-mail nos anos 90, impossível de controlar.

A realidade é que a maioria dos funcionários já usa IA no trabalho, mas poucas empresas têm políticas claras sobre isso. A conta não fecha, né?

Por que acontece:

  • Pressão por produtividade crescente
  • Facilidade de acesso a ferramentas gratuitas
  • Falta de alternativas corporativas
  • Ninguém explicou os riscos

A escolha real: controlar ou liberar?

Todo CEO enfrenta isso: tentar controlar o incontrolável ou criar ambiente seguro para o inevitável.

Opção A: Bloqueio Total

  • Funcionários usam IA escondido
  • Dados vazam para modelos públicos
  • Zero controle sobre o que é compartilhado
  • Produtividade cai (ou vai para a clandestinidade)

Opção B: Liberação Sem Critério

  • Funcionários usam IA abertamente
  • Ainda sem governança adequada
  • Riscos altos mas pelo menos visíveis
  • Produtividade alta mas perigosa

Opção C: Ambiente Controlado

  • IA corporativa com dados internos protegidos
  • Políticas claras de uso responsável
  • Treinamento sobre riscos e boas práticas
  • Monitoramento e auditoria dos usos

Adivinha qual opção as empresas espertas estão escolhendo?

As contas são simples

Vamos fazer uma matemática básica:

Custo de implementar IA controlada: R$ 50.000 – R$ 200.000 (dependendo do porte)

Custo potencial de vazamento via Shadow AI:

  • Multa LGPD: até R$ 50 milhões
  • Perda de propriedade intelectual: incalculável
  • Danos reputacionais: devastadores
  • Vantagem competitiva perdida: permanente

A conta é simples: liberar controladamente sai infinitamente mais barato que tentar proibir sem sucesso.

O que as empresas espertas estão fazendo

Algumas organizações já entenderam que a questão não é “se” implementar IA, mas “como” fazer isso direito:

Microsoft implementou Copilot corporativo: Dados ficam na empresa, modelos não aprendem com conteúdo privado, controle total.

JPMorgan Chase criou LLM próprio: Desenvolveu o IndexGPT para análises internas, mantendo dados proprietários seguros.

Goldman Sachs estabeleceu políticas rigorosas: Proibiu ChatGPT público mas criou ferramentas internas aprovadas para desenvolvedores.

Resultados:

  • Aumento significativo na produtividade
  • Shadow AI controlado
  • Riscos de vazamento reduzidos
  • Compliance garantido

Roteiro prático para resolver isso

Se você quer resolver de forma inteligente:

Semana 1: Descubra a Realidade

  • Mapeie quem já usa IA (pode ser anônimo)
  • Veja quais ferramentas são mais populares
  • Entenda os casos de uso reais
  • Avalie os riscos atuais de vazamento

Semana 2-3: Monte o Ambiente Controlado

  • Implemente ferramentas corporativas (Copilot, Claude for Work)
  • Configure para não treinar em dados corporativos
  • Estabeleça controles de acesso por função
  • Defina o que pode e não pode ser compartilhado

Semana 4: Políticas e Treinamento

  • Crie diretrizes claras de uso responsável
  • Treine equipes sobre riscos e boas práticas
  • Estabeleça processo de aprovação para casos especiais
  • Coloque monitoramento básico

Semana 5+: Melhore Sempre

  • Monitore como está sendo usado
  • Ajuste políticas conforme aprende
  • Expanda para novos casos seguros
  • Meça impacto na produtividade

A verdade que ninguém fala

Seus funcionários vão usar IA. A única questão é se será de forma controlada ou escondida.

Tentar impedir é como tentar segurar água com as mãos. Melhor canalizar essa água para onde você quer.

E tem outro ponto: enquanto você debate internamente, seus concorrentes podem estar implementando IA de forma inteligente e ganhando vantagem real.

O tempo está passando

Cada dia sem uma estratégia clara de IA, mais dados podem estar vazando via Shadow AI. Cada funcionário que usa ChatGPT pessoal com dados corporativos é um risco acumulado.

A pergunta não é se você vai implementar IA na empresa. É se vai fazer isso antes ou depois de descobrir o estrago do Shadow AI.

Alguns CEOs já entenderam isso. Pararam de ver IA como ameaça e passaram a ver como ferramenta estratégica que precisa de governança, não proibição.

E você? Vai continuar tentando segurar água com as mãos ou vai construir os canais certos?

Para fechar: inovar protegendo

Inovar ou proteger não precisa ser uma escolha. O segredo está em inovar protegendo.

Shadow AI acontece quando criamos vácuo de ferramentas corporativas. A natureza odeia vácuo, funcionários vão preencher com soluções próprias, controladas ou não.

A solução não é mais controle. É controle inteligente.

Libere ambiente seguro, eduque sobre riscos, monitore o uso, melhore sempre. Simples assim.

Na próxima semana, vou mostrar algo que pode te surpreender: como identificar se sua empresa já tem “IA invisível” rodando em sistemas que você nem imagina. E por que isso pode ser ainda mais perigoso que o Shadow AI.

Spoiler: Você pode ter mais dependência de algoritmos do que imagina. E quando eles falharem, o estrago pode ser grande.

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Mauro Periquito
Mauro Periquito
Engenheiro de Telecomunicações e Consultor de Tecnologia, com o objetivo de desenvolver e gerenciar projetos de transformação digital para indústria, utilities, mineração, agronegócio e operadoras de telecomunicações. Em sua trajetória profissional, tem como propósito traduzir as necessidades dos clientes em soluções customizadas.
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