E se o 5G nunca tivesse sido possível, por que o celular nunca existiu? Pausa dramática…
Antes de descartar esta pergunta como ficção científica, e por consequência esse artigo, pense comigo: vivemos num mundo onde assumimos como premissa que a conectividade móvel era um desenvolvimento tecnológico inevitável. Tudo o que projetamos de inovação tecnológica, de certa forma, leva em consideração que conectividade celular de alta disponibilidade e obviamente sem fio, estará disponível.
Mas e se não fosse assim? Este artigo não é um mero exercício de futurologia nem nostalgia do passado – é um convite à reflexão sobre um presente alternativo onde tudo existe, exceto redes celulares.
O mundo hiperconectado por fios e ondas locais
Neste presente alternativo e hipotético, considere que apenas as redes celulares não existem, portanto as necessidades de conectividade permanecem inalteradas. Cada esquina possui pontos de acesso Wi-Fi não por conveniência e offload, mas por ser a única alternativa possível. Cidades desenvolveram redes mesh municipais como infraestrutura básica – tão essencial quanto saneamento ou eletricidade.
Paris opera uma malha de 50.000 nós interconectados. Singapura tornou-se o primeiro “Estado-Mesh” do mundo. Dubai clama ter zero áreas de sombra em Business Bay e Downtown. Algo impossível de alcançar no resto do mundo! Aqueles biosites em formato de coqueiro que vi lá anos atrás não têm antenas celulares e sim access points Wi-Fi. Conectividade como serviço público, alguém já viu esse filme?

Uma pausa no exercício: se quiser saber mais sobre Redes Mesh, dê uma olhada no meu recente artigo A Sabedoria das Formigas: Como Redes Mesh Inteligentes Podem Revolucionar a Internet das Coisas?
Os cabos submarinos evoluíram para algo inimaginavelmente sofisticado. Em vez de conectar apenas data centers, eles possuem ramificações que chegam diretamente aos bairros. Emergem pelas praias rasgando as grandes metrópoles e redes DWDM estão por todos os lados. O Cabo Trans-Atlântico Norte possui 2.000 pontos de acesso físico entre Nova York e Londres. Por mais que os mares representem 70% da superfície terrestre, já existem preocupações de congestionamentos de cabos em alguns pontos de passagem. Alguém aqui se lembrou dos nossos postes urbanos e seus emaranhados de cabos de telecomunicações?

A sociedade dos pontos fixos de conexão
Internet cafés não são relíquias nostálgicas – são centros sociais modernos e sofisticados. Starbucks expandiu para “Connectivity Lounges” com cabines holográficas para reuniões remotas e os demais cafés seguem a tendência do líder. Até as LAN Houses tem o seu “lugar de fala”: são hubs de comunicação com uma sofisticação enorme e alta confiabilidade na conectividade. Cada aeroporto possui “Communication Plazas” onde você agenda slots de 15 minutos para videochamadas internacionais.
Pare e pense: Como você faria compras de supermercado sem WhatsApp para confirmar itens com sua família? Esse aqui eu me identifico demais!
Neste mundo, você agenda “janelas de conectividade” com amigos. “Encontro você às 15h no Hub do Central Park” substitui “te mando uma mensagem”. Aplicativos de dating não existem – foram substituídos por sofisticados sistemas de compatibilidade que funcionam em “matching stations” públicos. Para quem se lembra, é algo similar ao mundo regido pela comunicação baseada em telefones fixos em que vivemos até os anos 90.
Conectividade na ausência do celular
Sem a opção móvel, inovamos em outras direções. Dispositivos de comunicação por satélite pessoal tornaram-se comuns como smartphones são hoje. A Starlink evoluiu para “PersonalLink” – pequenos dispositivos vestíveis que se conectam diretamente a constelações dedicadas. Não poderia deixar de falar de Starlink nesse artigo…
Redes de drones-repetidores pessoais tornaram-se um objeto de desejo e são acessíveis somente aos mais abastados. Cada pessoa possui um “Communication Drone” pessoal que a segue, estendendo conectividade em movimento e criando redes temporárias. Imagine a poluição visual e sonora desses drones voando pelas ruas.
Os negócios que nunca existiriam
O Instagram seria impossível sem mobilidade. No lugar, temos “LifeCast” – estações fixas em locações interessantes onde você registra momentos em super alta definição para compartilhar em “Community Screens” espalhados pela cidade. Pessoas lutam por seu direito de usar, enquanto influencers e celebridades têm acessos VIPs a locações privilegiadas.
Uber não funcionaria. Em seu lugar, temos “Transport Terminals” – pontos fixos onde você solicita mobilidade através de interfaces digitais avançados. Carros autônomos circulam rotas pré-definidas, respondendo aos terminais. Será que essa densidade toda de access points e a latência permitida pelo Wi-Fi tornaria viável mesmo os carros autônomos?
E-commerce dependeria inteiramente de “Smart Collection Points” – lockers inteligentes que não apenas armazenam, mas permitem que você veja e teste produtos virtualmente antes de retirar.
Os negócios que dominariam
A “Mesh Municipal Corporation” é a nova gigante tecnológica, substituindo operadoras celulares. A Cisco, e não a Apple, é a empresa mais valiosa do mundo com a Huawei na cola.
Empresas de Personal Devices dominariam o que hoje é mercado de smartphones. Arquitetos especializados em Conectividade Wi-Fi seriam profissionais premium.
“Neural Networks Cafés” substituem coworking spaces – locais onde você pode literalmente “plugar” sua consciência em redes colaborativas para trabalho em equipe.
A geografia da desigualdade digital
Países/regiões com melhor infraestrutura fixa dominariam globalmente. Coreia do Sul seria ainda mais dominante tecnologicamente. África, sem o “leap frog” que os celulares permitiram, enfrentaria desafios digitais exponencialmente maiores.
Cidades tornar-se-iam organismos de conectividade extremamente densa, enquanto o isolamento rural seria ainda mais dramático. Conectividade no campo sequer seria cogitada! Nomadismo Digital seria geograficamente impossível.
E a transformação digital nos setores produtivos?
Neste mundo alternativo, os programas 4.0 na indústria e utilities evoluíram através de redes mesh industriais ultrassofisticadas e comunicação por fibra ótica direta entre equipamentos. Fábricas desenvolveram “Neural Industrial Networks” – redes cabeadas redundantes onde cada máquina, sensor e atuador está interconectado por múltiplos caminhos físicos, criando uma inteligência coletiva fabril impossível de ser interrompida. Imagine só a complexidade física dessa quantidade de cabos em uma fábrica!
Utilities como energia, gás e saneamento operam através de “Infrastructure Mesh Networks” – malhas físicas que seguem exatamente as rotas de dutos e cabos, onde cada medidor inteligente serve também como repetidor de dados, criando uma rede de IoT industrial extremamente resiliente e de baixíssima latência, já que não depende de torres celulares, mas da própria infraestrutura física que monitora.
Trabalho, produtividade e vida social
Imagine-se explicando “trabalho remoto” para alguém deste mundo alternativo: “Trabalhar de casa” significaria ter uma estação de trabalho fixa super sofisticada, com projeção holográfica e conexões dedicadas.
A vida social seria radicalmente diferente. Sem a possibilidade de “estar sempre conectado”, desenvolvemos rituais sociais mais intencionais. Sabáticos digitais não existem porque todo mundo já vive em intermitência conectiva natural. Aqui vejo uma vantagem…
As tecnologias de comunicação alternativas
Sistemas de comunicação baseados em luz visível (VLC) evoluíram drasticamente. Cada luminária pública transmite dados. Seus óculos captam e transmitem informações via LED invisível.
Comunicação quântica para longas distâncias tornou-se mainstream, não apenas para organizações. “Quantum Personal Communicators” seguem em um ritmo de desenvolvimento acelerado para permitir conversas instantâneas com zero latência em qualquer distância.
Quiz rápido: de quantas maneiras você usou conectividade móvel hoje?
O que isso nos ensina?
Este exercício mental revela algo profundo: assumimos que nosso caminho tecnológico atual foi o único possível. Mas cenários alternativos mostram que muitas “inevitabilidades” são apenas escolhas que fizemos.
Se redes celulares desaparecessem amanhã, praticamente interações digitais seriam afetadas. Mas também descobriríamos alternativas que nem consideramos. Talvez desenvolvêssemos tecnologias ainda mais interessantes, baseadas em proximidade física real, comunidade local e inovação espacial nesse universo paralelo.
Se redes celulares sumissem hoje, quantos negócios quebrariam em 24h?
Este mundo alternativo não é melhor nem pior – é diferente. E entender essas diferenças nos ajuda a questionar outras “obviedades” tecnológicas que talvez não sejam tão óbvias assim.
A próxima vez que sua rede celular ficar instável, em vez de frustração, sinta curiosidade: que mundo alternativo isso revela sobre possibilidades que esquecemos de explorar?
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