A presença da inteligência artificial já faz parte da rotina da maior parte da população brasileira, mas isso não significa que os cidadãos estejam utilizando todo o potencial dessa tecnologia. É o que mostra a pesquisa realizada pelo Datafolha em parceria com o Observatório da Fundação Itaú, divulgada em agosto.
O estudo revela que a IA generativa ainda está longe de ser incorporada de forma massiva no dia a dia. Embora milhões de brasileiros convivam com algoritmos de recomendação em redes sociais e plataformas de streaming, a adesão a ferramentas de criação de textos ou imagens segue limitada.
O retrato revelado pelos números
Foram entrevistadas 2.798 pessoas com 16 anos ou mais, em todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%. Os dados mostram que 93% já tiveram contato com alguma forma de inteligência artificial, mas a experiência costuma acontecer de maneira indireta, sem que o usuário perceba.
Quando a questão é o uso direto de soluções criativas, os números mudam de forma significativa. Mais da metade dos entrevistados (57%) afirmaram nunca ter utilizado geradores de texto como o ChatGPT, enquanto 69% nunca recorreram a serviços de geração de imagens, como o Midjourney.
Percepção do público e falta de clareza
Apesar da ampla exposição, muitos brasileiros ainda não compreendem bem o que está por trás do termo. Segundo o levantamento, 82% já ouviram falar em inteligência artificial, mas 46% admitem não saber ao certo do que se trata. Esse desconhecimento ajuda a explicar a baixa adesão à IA generativa, que exige interação mais ativa e intencional por parte do usuário.
A pesquisa também aponta que 75% percebem a presença da tecnologia em seu cotidiano. Para 32%, ela aparece de forma intensa, especialmente em recomendações de filmes, músicas ou conteúdos online. No entanto, esse contato costuma ser passivo, reforçando o abismo entre familiaridade prática e domínio conceitual.
Preocupações crescentes sobre riscos
Além de medir o uso, o estudo buscou entender a visão da população sobre possíveis impactos da inteligência artificial. Para 49% dos entrevistados, a tecnologia representa ameaça para os empregos, enquanto 51% acreditam que não haverá grandes consequências.
Outras inquietações também chamam atenção:
- 42% demonstram preocupação com coleta e uso de dados sem autorização;
- 36% temem manipulação ou vigilância;
- 31% mencionam risco de disseminação de notícias falsas.
De forma geral, 77% acreditam que a inteligência artificial pode ser perigosa se não houver regulamentação. Esse dado mostra que, ao mesmo tempo em que há curiosidade pelo tema, também existe um alerta sobre o uso inadequado da tecnologia.
O impacto no mundo do trabalho
O debate sobre o futuro profissional é um dos mais intensos. Ainda que a IA generativa não esteja presente no cotidiano da maioria, o mercado já começa a sentir seus efeitos. O número de vagas que exigem algum conhecimento em inteligência artificial cresceu de forma acelerada no Brasil, indicando que a transformação está em curso.
Para muitos especialistas, a falta de contato da população com essas ferramentas pode se tornar um obstáculo competitivo no futuro. A tendência é que profissões de diferentes áreas passem a incorporar cada vez mais soluções digitais, aumentando a pressão para que os trabalhadores se familiarizem com elas.
Barreiras para a popularização
Entre os fatores que explicam a baixa adoção, pesquisadores destacam a falta de conhecimento técnico, as limitações de acesso a dispositivos e conexões de qualidade e os receios em relação à privacidade. Esses pontos formam um conjunto de barreiras que impede a expansão do uso, mesmo em um contexto de grande visibilidade.
Outro aspecto relevante é a percepção de que a IA generativa ainda parece distante da realidade prática da maioria. Enquanto parte dos usuários já explora esses recursos para estudos, trabalhos criativos ou soluções corporativas, grande parcela da população enxerga a tecnologia como algo complexo ou restrito a especialistas.
Caminhos para inclusão digital
Apesar do cenário atual, a expectativa é de que o uso da inteligência artificial criativa cresça nos próximos anos. A ampliação da conectividade, os investimentos em educação tecnológica e a pressão do mercado de trabalho devem estimular mais brasileiros a explorarem essas ferramentas.
Iniciativas públicas e privadas já começam a integrar soluções digitais em escolas, universidades e empresas. A médio prazo, esse movimento pode reduzir as barreiras e tornar a tecnologia mais acessível para diferentes perfis sociais.
Os números do Datafolha mostram que a inteligência artificial já faz parte da vida de quase todos os brasileiros, mas de maneira indireta. A maioria ainda não utiliza recursos de criação de texto e imagem, o que reforça a distância entre o interesse crescente pelo tema e a prática efetiva.
A pesquisa evidencia um país dividido entre curiosidade, receios e limitações de acesso. Para que a IA generativa se torne um recurso comum, será necessário investir em educação digital, garantir acesso tecnológico e estabelecer regras claras de uso. Só assim a sociedade poderá transformar o contato passivo em engajamento ativo, participando de forma mais ampla da revolução digital em andamento.

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