Imagine que você visite uma empresa de logística. Receita de R$ 80 milhões anuais, 300 funcionários, operação nacional. O CEO te leva para conhecer o “centro de comando” da operação. Três monitores gigantes na parede mostram dashboards em tempo real. Impressionante!
Até ele abrir o notebook e mostrar como funciona na prática:
Sistema 1: ERP principal (Oracle, implementado em 2019, ainda customizando)
Sistema 2: Módulo de fretes (desenvolvido internamente, “porque o ERP não atendia”)
Sistema 3: App mobile (terceirizado, integração “mais ou menos”)
Sistema 4: Excel + Power BI (“temporário” há 2 anos)
Sistema 5: WhatsApp Business (para clientes “mais chatos”)
Cinco sistemas. Quatro fornecedores diferentes. Duas integrações quebradas. Excel como “sistema crítico” para fechamento mensal.
E a pergunta que não sai da cabeça: “Qual ferramenta de IA vocês recomendam para otimizar nossa operação?”
Eu versus o Frankenstein que vocês construíram. Spoiler: na maioria das vezes, o monstro está ganhando.
A síndrome do Frankenstein digital
Esta cena se repete semanalmente. Empresas médias brasileiras, faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 500 milhões, acumularam uma colcha de retalhos tecnológica que nem elas mesmas conseguem explicar direito.
Chamei isso de Frankenstein Tecnológico: criatura construída com pedaços de soluções diferentes, costurados sem critério, mantida viva por gambiarras e orações. Funciona? Até funciona. Mas ninguém sabe exatamente como.
O problema não é ter vários sistemas. O problema é não saber por que tem cada um deles.
Como chegamos até aqui
A história é sempre parecida:
2015: “Precisamos de um ERP moderno!” (R$ 800K e 18 meses)
2017: “O ERP não faz relatório como queremos…” (Sistema paralelo)
2019: “Vendedores precisam de algo ágil…” (CRM isolado)
2021: “Transformação digital!” (Multiplicam-se os sistemas)
2023: “Agora é IA!” (Mais uma camada)
Cada decisão fez sentido isoladamente. O conjunto virou pesadelo de gestão, custo e produtividade.
Os sintomas do Frankenstein
A Reunião Eterna: “Vamos alinhar os números entre sistemas.” Toda segunda-feira. Há 3 anos. Mesmos participantes, mesmas discrepâncias, mesmo resultado: “próxima semana resolvemos.”
O Especialista Insubstituível: João da TI é o único que extrai o relatório de vendas real. João tirou férias? Empresa para… João quer sair? Pânico!
O Estoque Fantasma: Inventário recontado toda semana porque “nunca está certo.” Sistema diz uma coisa, estoque físico mostra outra. Vendas perdidas por produtos ou insumos “em falta” que estavam lá o tempo todo.
A Integração Fantasma: “Sistema A vai falar com Sistema B em duas semanas.” Dito há 18 meses. Hoje usam planilha compartilhada como “integração temporária.”
O Orçamento Sombra: Custo oficial TI: R$ 50K/mês. Custo real: R$ 120K/mês. Diferença? Licenças esquecidas, consultorias urgentes, horas extras.

Por que empresas médias sofrem mais
Pequenas usam ferramentas simples. Grandes têm times e orçamento para fazer direito. Médias ficam no meio do caminho.
Grandes demais para soluções simples, pequenas demais para implementações enterprise bem feitas. Resultado? Implementam soluções enterprise sem governança enterprise. Criam complexidade sem capacidade de gestão.
O preço real do Frankenstein
O desperdício é assustador:
Produtividade perdida: 15-30% do tempo útil
Retrabalho mensal: Dezenas de milhares de reais desperdiçados
Decisões erradas: Impacto imensurável
Oportunidades perdidas: Quantos negócios não fecharam por lentidão?
A falsa solução: mais tecnologia
Reação típica: “Vamos implementar ferramenta de integração!” ou o hit do momento: “Com IA vai funcionar!”
É como dar mais remédios para quem já tem overdose. O problema não é falta de tecnologia. É falta de orquestração.
Empresas médias não precisam de mais ferramentas. Precisam entender o que têm, para que serve, e como fazer trabalhar junto.
O primeiro passo
Antes de implementar qualquer novidade:
Liste todos os sistemas (inclusive aquele Excel “temporário”)
Documente o objetivo original de cada um
Mapeie o que realmente fazem hoje
Identifique sobreposições e desperdícios
Encontre as lacunas reais de integração
Aposto que você descobrirá 40% mais sistemas que imaginava e que metade serve para a mesma coisa.
A pergunta que ninguém faz
“Se pudéssemos recomeçar do zero, com o conhecimento atual, faríamos tudo igual?”
Esta pergunta precisa ser feita antes de qualquer implementação. Frankenstein não se resolve adicionando mais partes. Se resolve entendendo que criatura queremos construir.
A próxima pergunta não deveria ser “que ferramenta implementar?”
Deveria ser: “quem vai orquestrar tudo isso?”
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