Um novo estudo global acende o alerta para líderes de tecnologia: mais da metade dos maiores data centers do planeta já opera sob risco elevado de impactos climáticos. Segundo análise da consultoria Maplecroft, a intensificação do aquecimento global pode colocar até 80% desses centros em risco crítico até 2080, afetando diretamente operações essenciais de nuvem, IA e armazenamento de dados — pilares da transformação digital atual.
Risco climático se torna realidade para data centers globais
A infraestrutura digital mundial, sustentada por data centers de grande porte, está cada vez mais vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas. O levantamento feito pela Maplecroft, referência em análise de riscos globais, conclui que 56% dos 100 maiores hubs de dados do mundo já estão em áreas classificadas com risco “alto” ou “muito alto”. A tendência é de agravamento: a estimativa é que 68% estejam em perigo até 2040 e 80% até 2080.
Os impactos mais imediatos são sentidos na demanda por energia e água. A necessidade crescente de resfriamento, especialmente em regiões já quentes, gera consumo intensivo de eletricidade e recursos hídricos. Isso amplia o ciclo vicioso: mais consumo, mais emissões e maior contribuição ao aquecimento global. Em outras palavras, os próprios data centers, essenciais para tecnologias como inteligência artificial, computação em nuvem e big data, tornaram-se simultaneamente vítimas e agentes do problema climático.
Regiões críticas exigem decisões estratégicas
A situação é especialmente alarmante em regiões da Ásia-Pacífico e do Oriente Médio, onde 100% dos data centers avaliados estarão sob risco climático elevado até 2040. Entre os locais mais críticos estão metrópoles como Chennai e Nova Délhi (Índia), além de Abu Dhabi e Dubai (Emirados Árabes). Na África, cidades como Lagos e Joanesburgo também se destacam no radar do risco climático. Já nos EUA, centros como Los Angeles e San Diego enfrentam desafios similares.
Essas áreas compartilham um elemento adicional de preocupação: estresse hídrico. Até 2030, mais da metade dos data centers analisados estará em zonas com alto ou altíssimo risco de escassez de água, o que pode gerar conflitos com comunidades locais e pressionar ainda mais os governos regionais.
Superaquecimento pode gerar apagões digitais
O relatório também aponta um cenário de curto prazo preocupante: interrupções operacionais por superaquecimento podem se tornar mais frequentes, como as registradas em 2022 no Reino Unido e nos Estados Unidos. Esses eventos deixaram claro que mesmo data centers situados em países desenvolvidos estão longe de estarem imunes.
“A vulnerabilidade dessas infraestruturas críticas é um sinal de alerta para o setor. É preciso olhar além da tecnologia e incluir variáveis ambientais e sociais na equação de planejamento estratégico”, explicam Capucine May, consultora de Compras Sustentáveis e Direitos Humanos, e Laura Schwartz, analista sênior da Risk Insight para a Ásia, que assinam o relatório.
Responsabilidade compartilhada e pressão regulatória
O estudo destaca que a gestão de riscos climáticos precisa ser tratada como uma responsabilidade compartilhada entre operadores, clientes e investidores. Além dos prejuízos financeiros e operacionais, há uma crescente pressão regulatória sobre empresas quanto à avaliação de riscos de terceiros, sobretudo em cadeias críticas como a digital.
“O setor de TI precisa evoluir sua abordagem de ESG (ambiental, social e governança). A simples neutralidade de carbono não será suficiente diante da realidade imposta pelas mudanças climáticas. A resiliência será o novo diferencial competitivo”, alerta a publicação.
O que isso significa para o Brasil?
Embora o relatório não destaque hubs brasileiros, o alerta é especialmente relevante para o setor de TI e telecomunicações no país. Com a crescente digitalização de serviços públicos e privados, além do avanço de tecnologias como 5G, edge computing e IA generativa, o Brasil caminha para ampliar seus investimentos em data centers. Avaliar os riscos climáticos, hídricos e de infraestrutura já é uma necessidade estratégica, não apenas ambiental.
A infraestrutura digital global está diante de um ponto de inflexão. A expansão dos data centers precisa ser acompanhada de uma revisão profunda de critérios de sustentabilidade, localização e resiliência climática. Para CIOs, CTOs e líderes de inovação, o recado é claro: adaptar-se ao clima será tão essencial quanto adaptar-se à tecnologia.
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