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sábado, julho 26, 2025
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Compartilhamento de dados e interoperabilidade: o desafio invisível da transformação digital

A transformação digital se consolidou como pilar estratégico nas organizações que buscam inovação, eficiência e vantagem competitiva. Mas, por trás de toda iniciativa voltada à automação de processos, ao uso de inteligência artificial ou à integração de plataformas, existe um fator silencioso que ainda trava o avanço de muitos projetos: a dificuldade em garantir compartilhamento de dados e interoperabilidade entre sistemas, plataformas e departamentos.

A promessa de um ecossistema digital conectado, onde informações fluem de forma segura, padronizada e em tempo real, ainda está longe de se concretizar plenamente na maioria das empresas. Sistemas legados, silos de dados, padrões incompatíveis e estruturas organizacionais fragmentadas tornam esse processo lento, caro e, muitas vezes, ineficaz.

Quem enfrenta os maiores desafios com integração e troca de dados?

O problema da interoperabilidade não atinge apenas grandes corporações ou setores altamente regulados. Ele está presente em empresas de todos os portes, em diferentes níveis de maturidade digital, e se manifesta de formas variadas. Ainda assim, alguns contextos apresentam maior sensibilidade e impacto direto.

Organizações com presença multicanal, como bancos, redes varejistas e operadoras de telecomunicações, enfrentam grandes dificuldades em unificar dados de clientes espalhados entre diferentes plataformas. Os sistemas de CRM, ERP, atendimento e logística, muitas vezes, operam com estruturas distintas, o que impede uma visão integrada do relacionamento e prejudica a personalização de ofertas e serviços.

No setor público e na saúde, os efeitos do problema são ainda mais críticos. Hospitais, clínicas e laboratórios, por exemplo, utilizam diferentes softwares para registros médicos, exames, agendamentos e faturamento. A ausência de padrões nacionais consolidados e a baixa integração entre sistemas prejudicam não só a gestão interna, mas a própria experiência do paciente. O mesmo se aplica a órgãos públicos que não compartilham dados entre si, gerando redundância, atrasos e ineficiência no atendimento à população.

Empresas que operam fusões ou aquisições também sofrem. A unificação de dados corporativos após a incorporação de sistemas distintos se torna um gargalo operacional. O mesmo ocorre em cadeias de suprimentos, onde fornecedores, distribuidores e parceiros trabalham com modelos e formatos diferentes, dificultando o rastreamento e a eficiência logística.

Em resumo, qualquer organização que dependa de múltiplos sistemas para operar, e hoje isso inclui praticamente todas, está exposta aos riscos da baixa interoperabilidade. Os impactos vão além do departamento de TI e afetam diretamente áreas de negócio, compliance, experiência do cliente e tomada de decisão.

Quando a interoperabilidade se torna um problema visível?

O desafio de integrar dados entre sistemas muitas vezes permanece invisível até que a organização precise dar um passo adiante em sua jornada digital. A urgência aparece, por exemplo, quando se decide adotar uma nova ferramenta de inteligência analítica e percebe-se que os dados estão fragmentados em diferentes bases, com formatos incompatíveis e estruturas redundantes.

Outro momento em que o problema ganha destaque é durante a automatização de processos interdepartamentais. Ao tentar conectar sistemas de RH com plataformas de gestão de benefícios ou vincular o financeiro ao CRM para melhorar previsões de receita, muitas empresas descobrem que os dados não são comunicáveis sem intervenção manual ou adaptações complexas.

No setor da saúde, a pandemia da COVID-19 escancarou essa fragilidade. A necessidade de cruzar dados clínicos, administrativos e epidemiológicos entre hospitais, operadoras de saúde, prefeituras e laboratórios esbarrou na falta de interoperabilidade. O resultado foram sistemas sobrecarregados, decisões mal embasadas e atraso em políticas públicas baseadas em evidência.

De forma geral, quanto mais a empresa amadurece digitalmente, maior é o impacto da ausência de integração eficiente entre dados e sistemas. A interoperabilidade deixa de ser um diferencial técnico e passa a ser um requisito fundamental para escalar operações, gerar valor em tempo real e manter a competitividade em ambientes complexos.

O que realmente significa interoperabilidade na prática?

Muitas vezes confundido com simples integração de sistemas, o conceito de interoperabilidade vai além da conexão entre plataformas. Ele envolve a capacidade de diferentes aplicações, bases de dados e estruturas tecnológicas compartilharem informações de forma eficiente, compreensível, segura e acionável, mesmo que tenham sido desenvolvidas por fornecedores distintos ou adotem padrões técnicos diversos.

O compartilhamento de dados, por sua vez, implica na disposição de abrir acesso controlado e estruturado a conjuntos de informações, respeitando regras de negócio, políticas de segurança, legislação vigente e o contexto de uso.

Na prática, interoperabilidade eficaz exige a adoção de padrões abertos e compatíveis, como HL7 ou FHIR na saúde, ou APIs RESTful em sistemas web. Também requer definição clara da semântica e estrutura dos dados, com metadados bem descritos e padronizados. Além disso, depende de uma governança que garanta a qualidade, atualização e integridade das informações compartilhadas. E, por fim, precisa de infraestruturas escaláveis e flexíveis, capazes de lidar com fluxos contínuos e crescentes de dados em diferentes formatos e origens.

Sem esses elementos, qualquer tentativa de conectar sistemas será limitada e frágil, gerando retrabalho, inconsistências e riscos de segurança.

Por que CIOs precisam priorizar o compartilhamento de dados agora?

Em um contexto onde modelos de negócio são cada vez mais orientados a dados, os líderes de tecnologia não podem mais tratar o tema como uma questão técnica a ser resolvida apenas pela equipe de TI. O compartilhamento de dados e a interoperabilidade passaram a ser alicerces de inovação, crescimento e resiliência.

A pressão por transformação digital em escala, impulsionada por clientes mais exigentes, cadeias de suprimento mais integradas e processos de compliance mais rigorosos, exige que as informações fluam de forma livre, segura e em tempo real.

Além disso, a crescente adesão à inteligência artificial, ao machine learning e à automação baseada em dados só produz resultados consistentes quando as informações utilizadas são confiáveis, completas e atualizadas. Isso só é possível em ambientes interoperáveis.

Outro fator importante é o avanço da legislação. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) obriga as empresas a entenderem onde estão seus dados, como são usados e com quem são compartilhados. Sem governança adequada, o risco de sanções, vazamentos e perda de credibilidade aumenta consideravelmente.

CIOs que entendem esse cenário agem de forma preventiva. Eles desenham arquiteturas mais abertas, incentivam a adoção de padrões, promovem cultura de dados entre os times e alinham TI com as necessidades reais do negócio. A interoperabilidade, nesse contexto, deixa de ser uma dor de cabeça para se tornar um motor de eficiência e diferencial competitivo.

Como começar a construir um ecossistema interoperável?

A jornada para integrar sistemas e compartilhar dados de forma eficiente não precisa começar com grandes investimentos ou projetos disruptivos. Em muitos casos, ações estruturantes e alinhamentos internos já trazem resultados significativos.

Tudo começa com um bom diagnóstico de maturidade. É essencial mapear quais sistemas se comunicam, onde há silos de dados e quais áreas mais sofrem com a falta de integração. Em seguida, a padronização gradual de formatos, protocolos e semânticas permite trocas mais consistentes de informações.

Outro passo importante é a adoção de APIs abertas e seguras. Isso transforma sistemas isolados em plataformas conectáveis, com autenticação, rastreabilidade e escalabilidade. Criar uma camada de dados unificada, com uso de data lakes ou malhas de dados, também contribui para centralizar e distribuir informações com mais agilidade.

Tudo isso deve acontecer com o engajamento de stakeholders e alinhamento com áreas de compliance e segurança. Interoperabilidade não é apenas uma decisão técnica, mas uma mudança de cultura organizacional.

Interoperabilidade como estratégia, não como exceção

Em um mundo cada vez mais digital, veloz e interdependente, o compartilhamento de dados e a interoperabilidade não podem mais ser vistos como tarefas secundárias. Eles são parte fundamental da infraestrutura invisível que permite que a inovação aconteça, que as decisões sejam precisas e que a experiência do cliente evolua.

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Natália Oliveira
Natália Oliveirahttps://www.itshow.com.br
Jornalista | Analista de SEO | Criadora de Conteúdo
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