Este texto é inspirado em nossa temporada do podcast Cybersafe, onde Paulo Baldin, Ronaldo Andrade e Calza Neto compartilham suas experiências e perspectivas únicas sobre cibersegurança. Paulo trabalha como CIO, CISO e DPO, Ronaldo é CISO no setor de seguros e Calza é advogado focado em direito digital. Juntos, eles mergulham em discussões sobre segurança digital com os entrevistados Josean Santos, CISO na Sapore S.A, Mileni Burgadon, Coordenadora de CyberSecurity; e Frederico Ornellas, especialista em Segurança da Informação, Privacidade e Investigações Corporativas.
A segurança cibernética é um dos temas mais discutidos e relevantes nas empresas modernas. Com a crescente digitalização e a dependência de sistemas online, proteger dados e evitar incidentes se tornou uma prioridade para organizações de todos os tamanhos. Neste conteúdo vamos explorar como a segurança cibernética impacta o ambiente corporativo, abordando desde a prevenção de incidentes até a gestão de crises e a importância de uma preparação adequada.
O Cenário Atual da Segurança Cibernética
O mundo digital tem facilitado muito a vida das empresas e a maneira como realizam seus negócios. No entanto, com esse avanço, surgiram novas vulnerabilidades que podem colocar toda a operação em risco. Em um contexto onde ataques cibernéticos estão cada vez mais sofisticados, as empresas precisam adotar uma postura proativa em relação à sua segurança digital.
Conforme mencionado por especialistas da área, como Paulo Baldini, CIO de uma renomada empresa de tecnologia, e Ronaldo Andrade, CISO atuante no setor financeiro, todos estamos constantemente vulneráveis a algum nível de ameaça. Baldini observa que “quem não sofreu um ataque ainda, provavelmente irá sofrer“. Essa visão reflete a realidade de muitas empresas que, embora ainda não tenham enfrentado um grande ataque, estão em constante risco.
Tipos de Ataques Cibernéticos Comuns
As ameaças no ambiente digital são variadas e podem vir de diferentes formas. Entre os ataques mais comuns, destacam-se:
- Phishing: Uma técnica amplamente utilizada para roubar informações pessoais ou corporativas. Um colaborador pode receber um e-mail falso que aparenta ser legítimo, solicitando informações confidenciais.
- Ransomware: Ataques que criptografam os dados da empresa, exigindo pagamento para liberar o acesso. O caso do WannaCry em 2017 é um exemplo emblemático, afetando empresas em todo o mundo.
- DDoS (Ataque de Negação de Serviço Distribuído): Ataca servidores e sistemas, tornando-os indisponíveis para usuários legítimos. Isso pode causar interrupções graves em operações de empresas dependentes de seus serviços online.
- Malware: Programas maliciosos que se infiltram nos sistemas corporativos, muitas vezes através de downloads ou links infectados, podendo comprometer a integridade dos dados.
Além desses ataques, muitas empresas enfrentam ameaças internas, conhecidas como insiders, que podem envolver funcionários ou terceiros mal-intencionados. Essas ameaças podem ser extremamente prejudiciais, uma vez que esses agentes têm acesso direto a informações críticas.
A Gestão de Incidentes Cibernéticos
Gerenciar incidentes cibernéticos requer um plano estruturado e a integração de diversas áreas dentro da empresa. A primeira etapa é a prevenção, que inclui o desenvolvimento de políticas de segurança claras e a implementação de medidas de proteção, como firewalls, sistemas de monitoramento e a criação de um SOC (Centro de Operações de Segurança), como mencionado por Mileni, coordenadora de segurança da informação.
Quando um incidente ocorre, a resposta deve ser rápida e eficiente, existem diferentes frameworks que podem ser seguidos, como o NIST (National Institute of Standards and Technology), que estabelece diretrizes para identificação, proteção, detecção, resposta e recuperação de incidentes. No entanto, é essencial adaptar esses frameworks à realidade e às necessidades específicas de cada empresa, como enfatizado por Josean, especialista em segurança da informação.
A gestão de incidentes cibernéticos requer um alto nível de coordenação entre diferentes áreas, como segurança da informação, jurídico, comunicação e recursos humanos. A criação de uma war room um espaço dedicado à gestão de crises é uma prática comum em grandes empresas, onde diferentes profissionais se reúnem para tomar decisões rápidas e eficazes.
O Papel da Preparação
A preparação para lidar com incidentes é fundamental. Como apontado por Frederico Ornellas, especialista em segurança da informação, a preparação deve incluir não apenas o desenvolvimento de políticas e procedimentos, mas também a simulação de incidentes. Isso garante que, quando um ataque real ocorrer, a equipe estará pronta para agir de maneira coordenada e eficaz.
Além disso, a conscientização dos colaboradores é um ponto-chave. Campanhas de phishing simuladas e treinamentos constantes ajudam a manter todos na empresa atentos aos riscos e preparados para identificar possíveis ameaças. Empresas que adotam essas práticas tendem a ter uma resposta mais rápida e eficaz em caso de ataques.
O Fator Humano
Um aspecto frequentemente negligenciado na segurança cibernética é o fator emocional, a gestão de crises pode ser desgastante, tanto fisicamente quanto emocionalmente, para as equipes responsáveis. Como ressaltado por Josean, “o fator emocional de quem detecta o incidente e quem está gerindo o incidente é crítico“. A exaustão pode comprometer a capacidade de tomar decisões racionais, especialmente em situações de alto estresse.
Para mitigar esse impacto, muitas empresas contratam consultores externos para auxiliar na gestão de crises, especialmente em incidentes de maior gravidade. Esses consultores, que não estão emocionalmente envolvidos com a empresa, podem oferecer uma visão mais objetiva e tomar decisões difíceis sem o peso emocional que muitas vezes afeta as equipes internas.
O Papel do Board e da Alta Administração
Outro ponto importante na segurança cibernética é o apoio da alta administração, em muitas empresas, ainda há uma resistência por parte dos executivos em investir em segurança digital, visto que muitas vezes esses investimentos não têm um retorno imediato. No entanto, como destacado por Causa Neto, advogado especialista em proteção de dados, “ignorar fogo não apaga incêndio“. A alta administração deve estar envolvida desde o início na criação de políticas de segurança e na resposta a incidentes.
Além disso, é fundamental que os executivos estejam preparados para lidar com crises. Isso inclui saber quando comunicar ao mercado que um incidente ocorreu, como gerenciar a comunicação com clientes e investidores, e como minimizar o impacto reputacional da empresa.
A Multidisciplinariedade na Gestão de Incidentes
A gestão de incidentes cibernéticos exige a colaboração de diversas áreas dentro da empresa. Como mencionado anteriormente, não basta que apenas a equipe de TI esteja envolvida. Em incidentes de grande escala, como vazamentos de dados, é necessário envolver áreas como jurídico, comunicação e governança corporativa. Isso garante que todas as decisões sejam tomadas com base em um entendimento completo das consequências legais, financeiras e reputacionais do incidente.

Além disso, as empresas devem estar preparadas para lidar com questões de compliance, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil, por exemplo, exige que empresas notifiquem as autoridades em caso de vazamento de dados pessoais. Não cumprir essas exigências pode resultar em multas significativas e danos à reputação.
A Importância da Conscientização na Segurança Cibernética
Um dos pontos cruciais na prevenção de incidentes cibernéticos é a conscientização dos colaboradores. O comportamento humano é frequentemente o elo mais fraco em uma cadeia de segurança bem estruturada, e muitos incidentes graves ocorrem devido a erros simples, como o clique em um link de phishing ou o uso de senhas fracas. Como mencionado por Mileni, coordenadora de Cybersecurity, “uma das maiores vulnerabilidades está no comportamento dos funcionários que, muitas vezes, sem querer, comprometem a segurança da empresa“.
Treinamentos regulares sobre práticas de segurança, como identificar ataques de phishing, são fundamentais para mitigar riscos. As empresas podem investir em campanhas internas que simulam ataques cibernéticos, como campanhas de phishing, para testar o nível de conscientização dos colaboradores e oferecer treinamentos para aqueles que caem nesses testes.
Esses treinamentos não só reduzem o risco de um incidente, mas também tornam os colaboradores parte da solução. Como Ornelas destacou, “quando os colaboradores entendem que a segurança cibernética também protege sua vida pessoal, eles se tornam agentes ativos no combate aos ataques“.
Criar uma cultura de segurança dentro da empresa significa que a segurança cibernética deixa de ser vista como responsabilidade apenas da TI e passa a ser uma prioridade de todos. Isso envolve não apenas treinamentos regulares, mas também a implementação de políticas de segurança claras, como o uso de autenticação multifator (MFA), políticas de senhas fortes e o uso de softwares de segurança que protegem dispositivos pessoais utilizados para acessar informações corporativas.
Quando a segurança se torna parte da rotina dos colaboradores, eles ficam mais vigilantes e propensos a reportar comportamentos suspeitos ou potenciais vulnerabilidades. Esse engajamento ativo ajuda a reduzir a superfície de ataque e melhora significativamente a postura de segurança da organização.
Desafios da Segurança em Ambientes Híbridos
Com o aumento do trabalho remoto e modelos híbridos, muitas empresas enfrentam novos desafios relacionados à segurança cibernética. A expansão do perímetro de segurança que antes era restrito ao ambiente físico da empresa agora inclui dispositivos pessoais e redes domésticas. Isso aumenta a vulnerabilidade da organização a ataques e exige medidas adicionais para garantir a proteção de dados e sistemas.
Em um ambiente híbrido, onde colaboradores acessam dados da empresa de diferentes locais, é essencial garantir que todos os dispositivos estejam devidamente protegidos. O uso de soluções como VPNs (Redes Privadas Virtuais), MFA, e a criptografia de dados em dispositivos móveis são apenas algumas das medidas que podem ser adotadas para garantir a segurança desses acessos remotos.
Além disso, é importante que as empresas forneçam orientações claras sobre o uso de redes públicas e dispositivos pessoais para acessar sistemas corporativos. A criação de políticas de BYOD (Bring Your Own Device), que regulam o uso de dispositivos pessoais, pode ajudar a mitigar os riscos associados ao trabalho remoto.
imagem gerada por inteligência artificial
Com o aumento do trabalho remoto, o monitoramento contínuo de redes e sistemas se torna ainda mais crucial. Isso é realizado, muitas vezes, por meio de um SOC, como mencionado anteriormente. O SOC monitora, identifica e responde a ameaças em tempo real, sendo uma peça chave na defesa cibernética de qualquer organização.
O uso de tecnologias como Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML) também está em ascensão para ajudar a identificar padrões anômalos e prever possíveis ameaças antes que elas se concretizem. Essas ferramentas permitem uma resposta mais rápida a incidentes e aumentam a eficiência das equipes de segurança.
Segurança Cibernética
Apesar dos altos custos associados à implementação de medidas robustas de segurança cibernética, essa área deve ser vista como um investimento estratégico, e não apenas como um custo operacional. Empresas que negligenciam a segurança acabam sofrendo consequências muito mais graves, incluindo a perda de dados, danos à reputação e, em alguns casos, a interrupção total das operações.
Ronaldo Andrade, CISO atuante no setor financeiro, destaca a importância do apoio da alta administração: “Sem o envolvimento dos líderes da empresa, qualquer iniciativa de segurança cibernética está fadada ao fracasso. Eles precisam entender que segurança não é opcional é essencial para a continuidade dos negócios”.
O retorno sobre investimento (ROI) em segurança cibernética pode ser difícil de quantificar, já que muitas vezes os benefícios vêm na forma de evitar perdas em vez de gerar receita direta. No entanto, estudos mostram que o custo médio de um ataque cibernético pode ser devastador para as empresas, especialmente em setores críticos, como o financeiro e o de saúde. O investimento em soluções de segurança, portanto, pode evitar prejuízos incalculáveis, tornando-se uma estratégia de proteção ao negócio.
Além disso, empresas que demonstram uma postura robusta de segurança cibernética ganham a confiança de seus clientes e parceiros de negócios. Em um mundo onde os consumidores estão cada vez mais preocupados com a privacidade e a proteção de seus dados, ter políticas de segurança claras e eficazes pode se tornar um diferencial competitivo.
Futuro da Segurança Cibernética
A transformação digital continua a avançar, e com ela surgem novos desafios de segurança. Tecnologias emergentes, como Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial e blockchain, trazem consigo novas oportunidades, mas também novas vulnerabilidades. À medida que os ataques cibernéticos se tornam mais sofisticados, as empresas precisam se antecipar, adotando abordagens inovadoras para proteger seus dados e sistemas.
A IA está se tornando uma ferramenta fundamental na segurança cibernética. Ela é capaz de analisar grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões e comportamentos anômalos que poderiam passar despercebidos pelos humanos. Isso permite uma resposta proativa a ameaças, prevenindo ataques antes que eles causem danos significativos.
Além disso, a IA pode ajudar a automatizar processos de segurança, como o bloqueio de acessos suspeitos ou a contenção de ameaças em andamento, liberando as equipes de segurança para focar em tarefas mais estratégicas.
Outro conceito emergente na segurança cibernética é o Zero Trust (Confiança Zero). Essa abordagem se baseia na ideia de que nenhuma entidade, seja interna ou externa, deve ser confiável por padrão. Isso significa que todas as solicitações de acesso a sistemas e dados devem ser verificadas e autenticadas, independentemente de sua origem.
O modelo Zero Trust está ganhando popularidade, especialmente em ambientes híbridos, onde o perímetro de segurança tradicional não existe mais. Com essa abordagem, as empresas podem reduzir o risco de ameaças internas e garantir que apenas usuários autorizados tenham acesso a informações sensíveis.
A segurança cibernética é uma questão crítica para qualquer empresa que opera no ambiente digital. Não se trata apenas de implementar as melhores tecnologias, mas de criar uma cultura de segurança que envolva todos os colaboradores, do C-level aos funcionários da linha de frente.
Como visto ao longo deste artigo, a combinação de políticas eficazes, treinamento contínuo e o uso de tecnologias avançadas pode reduzir significativamente o risco de incidentes. Além disso, o preparo emocional e o apoio da alta administração são fatores essenciais para uma resposta bem-sucedida a crises cibernéticas.
Empresas que adotam uma postura proativa em relação à segurança cibernética estão melhor posicionadas para enfrentar os desafios do futuro digital, protegendo seus dados, sua reputação e garantindo a continuidade de seus negócios.
A segurança cibernética é uma responsabilidade de todos dentro da organização. Desde a alta administração até os colaboradores de linha de frente, todos têm um papel a desempenhar na proteção dos dados da empresa. Com o aumento das ameaças digitais, é mais importante do que nunca que as empresas adotem uma postura proativa, invistam em tecnologias de segurança e, principalmente, preparem suas equipes para responder de maneira eficiente a incidentes.
A prevenção, resposta e remediação são pilares fundamentais de uma boa política de segurança cibernética. Porém, sem a devida preparação e o envolvimento de toda a organização, qualquer esforço pode ser em vão. Portanto, é essencial que as empresas não apenas implementem medidas de segurança, mas que também promovam uma cultura de conscientização e preparação contínua.