Na era da transformação digital, a segurança de dados não é mais apenas uma atribuição da área de TI, ela se tornou um tema estratégico, transversal e inevitável. Organizações públicas e privadas, pequenas ou grandes, estão cada vez mais expostas a riscos cibernéticos, pressões regulatórias e uma crescente demanda por transparência e responsabilidade sobre o tratamento de informações.
O que mudou com a LGPD
A entrada em vigor da LGPD em 2020 estabeleceu novos parâmetros para coleta, armazenamento e compartilhamento de informações pessoais no Brasil. Embora inspirada no regulamento europeu (GDPR), a legislação brasileira apresenta nuances próprias e tem exigido das empresas uma mudança profunda de postura.
Segundo Ari Lopes, a LGPD está sendo incorporada progressivamente à dinâmica de negócio das operadoras. O que antes era uma preocupação legal agora passa a fazer parte do planejamento estratégico e da comunicação com o cliente. Foi apontado que os contratos precisam ser mais claros, os processos auditáveis e o tratamento de dados, justificável.
Essa mudança é sentida especialmente por ISPs e operadoras regionais, que muitas vezes precisam conciliar obrigações legais com limitações operacionais. “A segurança de dados exige investimentos não apenas em tecnologia, mas também em capacitação de equipes e revisão de políticas internas“, reforçaram os convidados.
O papel das operadoras e provedores de conectividade
A conversa também evidenciou o papel crescente que as operadoras de telecomunicações desempenham na cadeia de proteção de dados. Hermano do Amaral pontuou que, mesmo quando o dado pertence ao cliente, a rede tem responsabilidade sobre sua integridade: “a operadora é o canal, mas também tem que garantir segurança, disponibilidade e confiabilidade“.

Ele ressalta que isso inclui mecanismos de criptografia ponta a ponta, controle de acesso, proteção contra ataques DDoS e uma governança sólida sobre os ativos digitais. “As soluções precisam ser escaláveis e pensadas desde o desenho do serviço. Não dá mais para tratar segurança de dados como um acessório“.
Com a evolução da internet das coisas (IoT), a situação se torna ainda mais desafiadora. Milhões de dispositivos conectados aumentam a superfície de ataque e exigem políticas de segmentação, monitoramento e resposta rápida a incidentes.
Desafios regulatórios e operacionais
Para Luiz Minoru, um dos grandes desafios está na assimetria entre obrigações legais e capacidade de execução, especialmente entre pequenos provedores. “A LGPD é para todos, mas nem todos têm a mesma estrutura para cumpri-la“, argumenta. Segundo ele, muitas empresas ainda enfrentam dúvidas sobre o papel de controlador e operador, a gestão de consentimento e os processos de notificação em caso de vazamentos.
“A segurança de dados exige não apenas boas intenções, mas práticas consistentes, documentadas e passíveis de auditoria. Isso envolve jurídico, TI, marketing, RH, diretoria. Todo mundo precisa entender sua responsabilidade“, reforça André.
Ele também chamou atenção para o papel da ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados), que vem amadurecendo sua atuação e já aplica sanções em casos de descumprimento grave. “O setor precisa acompanhar de perto essas movimentações. Não se trata apenas de evitar multas, mas de preservar reputação, confiança e continuidade dos negócios.”
Segurança como diferencial competitivo
A discussão deixou claro que, mais do que obrigação legal, a segurança de dados pode ser um diferencial competitivo. Empresas que tratam o tema com seriedade ganham pontos com clientes, parceiros e investidores.
“Privacidade é um valor de marca. O consumidor quer saber o que acontece com seus dados, quem tem acesso, por quanto tempo e com qual finalidade. A clareza nessa relação pode ser um fator de escolha“, afirmou Ari Lopes durante a discussão.
Marcio complementou que isso vale especialmente em ambientes B2B, onde a exigência por conformidade é ainda maior. “Grandes empresas fazem auditorias antes de contratar parceiros. Ter uma estrutura de proteção de dados sólida pode ser o que define se você entra ou não em um contrato”.
Caminhos possíveis para os próximos anos
Entre as práticas reconhecidas como essenciais para amadurecimento em segurança de dados, estão a adoção de políticas de privacidade claras, o investimento em tecnologias de proteção integradas, a capacitação constante das equipes, a formalização de processos de resposta a incidentes e a definição de responsáveis pela governança de dados com autoridade e autonomia. A vigilância ativa sobre normas regulatórias e tendências do setor completa o cenário de avanço contínuo.
Para André, o mais importante é sair da imobilidade: “A pior resposta é não fazer nada. Mesmo que comece pequeno, o importante é construir uma jornada“.
A segurança de dados está no centro da transformação digital. Mais do que um desafio técnico ou jurídico, ela representa um novo contrato entre empresas e sociedade. Transparência, responsabilidade e confiabilidade são exigidas em todos os níveis.
Siga o Futurecom nas redes sociais e assine a News para ficar por dentro de todas as notícias dos setores de Tecnologia, Telecom, TI e Internet.