Na 16ª matéria da nossa série “Por Dentro da RSAC“, abordamos um tema de extrema relevância e urgência no universo da cibersegurança: o esgotamento profissional. Com a crescente dependência das organizações em tecnologias digitais, os profissionais de TI e cibersegurança estão cada vez mais vulneráveis ao burnout. Este painel na RSAC, liderado por Peter Coroneos, fundador da Cybermindz, e Kayla Williams, CISO na Devo, explorou as dimensões neurológicas do estresse e como fatores de identidade de gênero intensificam esta condição.
A Ciência por Trás do Burnout
O burnout no setor de cibersegurança transcende a mera exaustão por excesso de trabalho; ele é profundamente enraizado em desajustes neurológicos. Peter Coroneos abriu a sessão explicando como o nosso cérebro, que evoluiu para responder a ameaças físicas imediatas, muitas vezes falha em adaptar-se ao estresse constante das ameaças virtuais que definem o mundo da cibersegurança. Esta falha de adaptação resulta em uma sobrecarga crônica, manifestada por sintomas de ansiedade, depressão e insônia, como reportado por um número alarmante de profissionais do setor.
Kayla Williams apresentou dados da pesquisa recente da Devo, que mostra que 52% dos profissionais de segurança da informação reportam aumento de ansiedade ou depressão, e 46% lutam com problemas de sono devido ao estresse contínuo no trabalho. Pior ainda, 83% desses profissionais reconhecem que o burnout os levou a cometer erros críticos que resultaram em violações de segurança, ressaltando a gravidade do problema não só para os indivíduos, mas também para as organizações as quais servem.
Gênero e Esgotamento
O impacto do gênero no burnout em cibersegurança é particularmente significativo e preocupante. Durante a sessão, foi discutido como mulheres na área de cibersegurança frequentemente enfrentam níveis mais altos de burnout, especialmente em termos de exaustão emocional.
Esta situação é exacerbada pelas expectativas sociais que demandam que as mulheres mantenham uma fachada de alegria e equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e pessoais, muitas vezes sob a pressão de comentários depreciativos e passivo-agressivos dos colegas.
As mulheres, como explicado por Kayla Williams, são frequentemente esperadas para superar esses desafios sem manifestar o estresse que eles provocam. Além disso, a falta de modelos femininos em posições de liderança na cibersegurança contribui para a perpetuação deste ciclo de estresse e burnout, tornando urgente a necessidade de políticas inclusivas e de suporte que reconheçam e abordem estas disparidades de gênero.
Estratégias para um Futuro Mais Saudável
Os palestrantes não se limitaram a descrever o problema; eles também ofereceram soluções práticas. Coroneos enfatizou a importância de reconhecer os limites pessoais e instituir pausas regulares para manter a saúde mental. Ele sugeriu técnicas de “hacking” neurológico para reajustar o cérebro e reduzir o impacto do estresse, enquanto Williams destacou a necessidade de políticas organizacionais que priorizem o bem-estar dos trabalhadores, como horários flexíveis e suporte psicológico.
Além das estratégias individuais, é crucial que as lideranças das organizações implementem sistemas de suporte robustos que permitam aos funcionários expressar suas preocupações sem medo de retaliação. Ao fazer isso, as organizações não só melhoram o bem-estar de seus funcionários, mas também fortalecem sua postura de segurança ao minimizar os erros humanos que podem levar a violações de segurança.
As discussões neste painel revelaram que o burnout na cibersegurança é um complexo interseccional de desafios neurológicos e de gênero que exigem uma abordagem multifacetada para sua resolução. A construção de um ambiente de trabalho mais saudável e inclusivo não é apenas benéfica para o bem-estar dos profissionais de cibersegurança, mas é também uma estratégia crítica para manter a integridade e a eficácia das defesas cibernéticas das organizações.
Como tal, é imperativo que continuemos a explorar e implementar soluções que enderecem tanto as causas quanto os sintomas do burnout neste setor vital. Além disso, a conscientização e a educação contínuas sobre as questões de gênero dentro deste campo podem fomentar uma maior equidade e compreensão, o que é essencial para construir equipes resilientes e capazes de enfrentar os desafios de segurança de nossa era digital.