Durante a cobertura do SecOps Meetup Agrotech e Indústria, realizado nos dias 11 e 12 de junho, em Passo Fundo (RS), o portal Itshow acompanhou a palestra do Tenente-Coronel Marcelo Rovani, da Brigada Militar do Rio Grande do Sul sobre os riscos e limites da vigilância digital.
Em sua palestra, Rovani apresentou o que há de mais avançado em segurança pública digital, desde videomonitoramento com mais de 1.200 câmeras, até uso de drones, inteligência artificial, OCR e reconhecimento facial. Porém, ao contrário do otimismo tecnológico recorrente, seu discurso trouxe um alerta: a gestão pública precisa equilibrar eficiência operacional com limites legais, privacidade e responsabilidade institucional.
1.200 câmeras, drones e IA: a estrutura de vigilância digital de Passo Fundo
Rovani explicou que o sistema de monitoramento da cidade está espelhado entre a Prefeitura, Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública, formando uma malha de dados interligada, com foco em prevenção de crimes, apoio a investigações e resposta rápida a incidentes.
“Humanamente é impossível monitorar 1.200 câmeras ao vivo. A tecnologia embarcada é o que torna esse sistema viável”, destacou o oficial.
O uso de OCRs avançados também permite a leitura automática de placas e detecção de veículos clonados. Em um caso citado, um alerta emitido por divergência entre o modelo do carro e a placa levou à interceptação de uma caminhonete roubada — operação que envolveu múltiplas viaturas e inteligência integrada.
Reconhecimento facial e seus limites jurídicos
Apesar da eficácia, o Tenente-Coronel deixou claro que o uso do reconhecimento facial ainda caminha sobre uma linha tênue entre o legal e o questionável. Pela LGPD, só é permitido identificar pessoas desaparecidas.
“Trabalhar com rostos de foragidos ou suspeitos ainda é juridicamente nebuloso. A legislação não acompanha o ritmo da tecnologia”, alertou.
Rovani exemplificou como até pôsteres ou bolsas podem ser interpretados como rostos por algoritmos, evidenciando a limitação da precisão. E destacou um desafio ainda maior: como garantir que o cidadão saiba que está sendo monitorado e possa exercer o direito de negar o uso de seus dados?
Inteligência artificial forense como braço das investigações
Entre os recursos mais promissores, Rovani apresentou o uso de softwares de vídeo forense com IA, capazes de processar gravações de segurança ou até vídeos de celular e identificar padrões: tipo de roupa, placas de veículos, calçados ou trajetos suspeitos.
“Transformamos horas de vídeo em minutos de análise acionável. É eficiência pura, mas precisa ser usada com critério”, afirmou.
O fator humano: maior ameaça está dentro do sistema
Um ponto central da fala foi o risco de vazamento e uso indevido de dados por quem tem acesso legítimo ao sistema. Segundo Rovani, o funcionário insatisfeito é uma ameaça real e recorrente, especialmente quando dados sensíveis estão disponíveis sem controle rígido.
“Na gestão pública, o dano não é só de imagem. Um vazamento pode custar vidas — de agentes ou da própria população”, alertou.
Por isso, ele defende termos de confidencialidade, monitoramento interno e responsabilização legal de todos os envolvidos, inclusive fornecedores terceirizados.
Smart cities exigem governança de dados, não apenas sensores
No encerramento, o Tenente-Coronel foi direto ao ponto: tecnologia sozinha não entrega segurança pública. É preciso inteligência humana, governança legal e responsabilidade social.
“Não se trata apenas de monitorar mais. Trata-se de monitorar com responsabilidade e dentro da legalidade. A cidade inteligente precisa respeitar o cidadão.”
A fala de Rovani mostra que o avanço da transformação digital no setor público não pode prescindir de uma base sólida de ética, transparência e proteção de dados, especialmente em tempos em que a privacidade virou ativo sensível e a segurança, um dever público com impacto direto sobre vidas.
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