A emergência de uma economia global baseada em dados desencadeou uma infinidade de oportunidades para empresas dispostas a explorar e compartilhar seu conhecimento interno. Neste contexto, uma tendência notável é a disposição de algumas empresas em disponibilizar suas APIs, funcionalidades internas ou, até mesmo, modelos de negócios para o mercado. Esta estratégia, embora pareça contraproducente à primeira vista, tem um sólido raciocínio econômico e estratégico por trás.
Como Thoran Rodrigues, Fundador e CEO na Big Data Corp, observa, “As APIs têm um papel central na computação, não apenas no que liberamos externamente, mas também na forma como operamos internamente, onde a segurança é fundamental. Se olharmos internamente, temos as APIs que nossos clientes acessam, as interfaces que expomos para o mercado usar nossos serviços, mas internamente a forma como estamos organizados também é por meio de APIs.” Assim, é evidente que a API é mais do que uma simples interface de programação, mas uma estrutura fundamental para a operação eficiente dos negócios no mundo digital atual.
As APIs facilitam a troca e a interação de dados entre diferentes participantes do mercado. Através de seu uso estratégico, as empresas podem tornar suas funcionalidades acessíveis a uma ampla gama de usuários, criando um ecossistema mais inclusivo e competitivo
O que é um modelo de API?
API, ou Interface de Programação de Aplicações, vai além do significado literal da sigla, englobando aplicações multifuncionais que são distintas entre si. Imagine um cenário onde se está criando um contrato com uma empresa, contraindo dois tipos de serviços que necessitam de interação para um resultado positivo – essa é a funcionalidade de uma API. Essas interfaces estabelecem conexões vitais entre as aplicações, permitindo uma troca de solicitações e respostas eficiente, facilitando assim a comunicação interfuncional.
Como funciona uma API?
Compreender o conceito básico do que é API pode não parecer complexo, mas é importante entender sua aplicação prática. Uma API facilita a comunicação entre dois ou mais componentes de software. Para ilustrar sua funcionalidade, consideremos a seguinte situação: sua empresa tem uma entrega agendada para às 16h, e o time de logística planeja todo o trajeto do ponto A ao ponto B, considerando a rota e a distância.
O software de roteamento de sua empresa é capaz de consultar dados de trânsito, acidentes e outros fatores em tempo real. Com a ajuda de uma API, esse software de roteamento pode “conversar” com outros sistemas e receber atualizações praticamente em tempo real, aumentando a precisão das estimativas de tempo de entrega e permitindo avisos proativos em caso de possíveis atrasos.
De acordo com Rodrigues, “A flexibilidade das interfaces das APIs nos permite evoluir, desenvolver novas versões e criar novas funcionalidades sem quebrar o que já está funcionando. Com isso, conseguimos realizar ‘rolling deploys’, publicação gradual de novas versões das APIs com testes, entre outras estratégias”. Em outras palavras, as APIs são capazes de se adaptar às mudanças e evoluções necessárias nos sistemas, permitindo implementações e atualizações sem interrupções ou falhas.
Movimento Low-code/No-code
O movimento low-code/no-code está revolucionando o mundo da tecnologia ao empregar ferramentas fundamentadas em APIs para a construção de sistemas. Essas APIs desempenham um papel essencial ao integrar diferentes sistemas, convertendo dados brutos em formatos visuais e facilmente compreensíveis. Esta abordagem inovadora tornou o desenvolvimento de software mais acessível, democratizando-o de tal maneira que até mesmo indivíduos sem experiência prévia em programação podem participar ativamente da criação e gestão de sistemas.
“Em uma API, é possível mudar os parâmetros e até mesmo a saída sem quebrar o que está funcionando. Podemos esconder determinadas coisas dentro da estrutura de API que antes era difícil. Essas nuances precisam ser levadas em consideração quando pensamos no processo de deploy”, afirma Rodrigues. Este é um aspecto vital das APIs, já que permite ajustes e melhorias na funcionalidade sem comprometer a estabilidade geral do sistema.
Rodrigues ressalta ainda a necessidade de compreender as interdependências no uso de APIs. Ele observa: “E isso vai além, precisamos entender as interdependências – o que essa API vai chamar e quem está chamando ela, garantindo que nada seja quebrado nesse processo”. Isso destaca a importância de uma abordagem cuidadosa e holística para a implementação de APIs, garantindo que a integridade dos vários sistemas interconectados seja preservada.
APIs orientadas a eventos
Desde o surgimento dos microcomputadores e dos sistemas operacionais gráficos, a computação tem passado por uma evolução significativa. A introdução da arquitetura orientada a eventos foi um marco que transformou o design e a abordagem do desenvolvimento de software ao favorecer o processamento assíncrono. Com esse avanço, as APIs orientadas a eventos surgiram como ferramentas indispensáveis, desempenhando um papel central na facilitação da comunicação assíncrona em ambientes de sistemas distribuídos.
Assim como em um restaurante onde múltiplas tarefas são executadas de forma assíncrona – como anotar pedidos, preparar pratos e servir mesas simultaneamente – as APIs orientadas a eventos operam de maneira similar, permitindo a execução de multitarefas simultâneas. Esta capacidade de lidar com várias tarefas ao mesmo tempo se traduz em uma notável eficiência e produtividade, otimizando processos e melhorando o desempenho geral dos sistemas.
Assincronismo e ‘Callback’
Enquanto as APIs tradicionais operam em um modelo síncrono, onde há uma espera pela resposta após um pedido, as APIs orientadas a eventos adotam uma abordagem diferente. Elas permitem que as operações sejam assíncronas. Isso significa que, após fazer uma chamada de API, o usuário não precisa ficar parado esperando pela resposta. Em vez disso, pode continuar executando outras tarefas, confiando que será notificado através de uma estrutura chamada ‘callback’ quando a resposta estiver pronta. Esta abordagem não apenas economiza tempo, mas também melhora a eficiência geral dos sistemas.
Vantagens e desafios da implementação
Enquanto essas APIs introduzem uma eficiência sem precedentes no mundo da tecnologia, elas também vêm acompanhadas de complexidades inerentes. A natureza intrinsecamente assíncrona dessas interfaces desafia os programadores a adaptarem-se, exigindo uma mudança significativa em sua abordagem tradicional de codificação. Esta transição, dada a sua complexidade, é algo que muitos profissionais optam por evitar, preferindo manter-se em territórios mais familiares.
A importância das APIs no mundo B2B
As APIs desempenham um papel importante na padronização e documentação de sistemas, sendo particularmente essenciais para o eficiente funcionamento dos sistemas de inteligência artificial (IA). Além disso, proporcionam uma interação mais facilitada dos sistemas de IA com variados conjuntos de informação, otimizando assim a aplicação e eficácia desses sistemas.
O uso de APIs na democratização da IA
As empresas estão cada vez mais investindo no desenvolvimento de Inteligências Artificiais (IAs) personalizadas e, ao disponibilizá-las por meio de APIs, estão pavimentando o caminho para uma democratização da IA. Esse movimento permite que um público muito mais amplo tenha acesso a essas tecnologias avançadas, expandindo o alcance e o impacto da IA no cenário tecnológico atual.
Interação bidirecional entre API e IA
A relação entre Inteligência Artificial (IA) e APIs é bidirecional e complexa. Enquanto a IA frequentemente utiliza APIs, ela também tem a capacidade de analisar os dados gerados por estas interfaces. Especificamente, ao examinar os logs de atividades das APIs através de modelos de IA, é possível identificar padrões e tendências valiosos que podem fornecer insights significativos e aprimorar a utilização e eficiência das próprias APIs.
Vantagens de usar APIs
Mais integrações para acelerar o desenvolvimento
Quando consideramos as APIs e as oportunidades de integração que elas oferecem, os benefícios são evidentes. Como elas se conectam a softwares já existentes, permitem um aumento significativo na velocidade de desenvolvimento diário. Isso ocorre porque essas aplicações não precisam ser construídas do zero – é suficiente usar a API e aproveitar o código preexistente.
Facilidade de manutenção
Pode-se pensar erroneamente que as APIs requerem muita manutenção, mas na realidade, elas facilitam o processo. Funcionando como um intermediário entre dois sistemas, cada um pode realizar alterações internas sem afetar a API. Portanto, mesmo que alterações sejam feitas no código de um dos sistemas, o outro sistema não será afetado.
Agilidade no desenvolvimento e na implantação
É inegável que a chegada de uma nova aplicação pode ter impactos em vários departamentos internos. No entanto, as empresas devem estar preparadas para implementações rápidas e inovadoras. E como isso é possível? Através das APIs. Elas permitem mudanças sem a necessidade de reescrever todo o código. As APIs representam o futuro para aqueles que buscam agilidade e querem conquistar novos patamares no ambiente de negócios.
API pública x API privada x API multicanal
APIs Privadas
As APIs privadas, também denominadas internas, são empregadas para unir diferentes partes de um software dentro de uma organização específica, e não estão abertas para uso externo. Para ilustrar, uma plataforma de mídia social pode dispor de uma API privada que administra o processo de login, outra que controla o feed e mais uma que viabiliza a interação entre usuários. Alguns aplicativos podem possuir dezenas ou até mesmo centenas de APIs privadas.
APIs Públicas
As APIs públicas liberam o acesso aos dados, funções ou serviços de uma organização para o público, permitindo que desenvolvedores externos as incorporem em seus próprios aplicativos. Algumas dessas APIs podem ser utilizadas gratuitamente, enquanto outras são disponibilizadas como produtos pagos. Como exemplo, um app de e-commerce pode integrar uma API pública de pagamento, sem a necessidade de desenvolver essa funcionalidade a partir do zero.
API multicanal
Os benefícios da API Multicanal são vastos, oferecendo uma gama de possibilidades de automação. Com essa API, as empresas podem implementar de maneira simplificada uma comunicação multicanal efetiva. Por exemplo, se a empresa está conduzindo uma campanha destinada a alcançar uma extensa base de clientes, ela pode começar com SMS e, em seguida, recorrer ao WhatsApp para atingir os clientes que não responderam inicialmente.
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Exemplos de uso mais comuns
Integração entre sistemas internos e externos
Um dos principais motivos pelos quais os desenvolvedores utilizam APIs é para conectar diferentes sistemas entre si. Por exemplo, é possível usar uma API para sincronizar o sistema de gestão de relacionamento com o cliente (CRM) ao sistema de automação de marketing, permitindo o envio automatizado de um e-mail de marketing sempre que um novo lead é adicionado ao CRM.
Incorporação ou aperfeiçoamento de funcionalidades
As APIs possibilitam a adição de novas funcionalidades a um aplicativo, o que pode enriquecer a experiência dos usuários. Por exemplo, em um aplicativo de delivery, você pode integrar uma API de mapeamento de terceiros para permitir que os clientes acompanhem seus pedidos em tempo real.
Conexão de dispositivos IoT
As APIs são fundamentais para o funcionamento do ecossistema da Internet das Coisas (IoT), abrangendo dispositivos como smartwatches, rastreadores de fitness, campainhas inteligentes e eletrodomésticos conectados. Sem as APIs, esses dispositivos não conseguiriam se conectar à nuvem ou entre si, tornando-se inúteis.
Construção de sistemas mais escaláveis
As APIs são utilizadas na implementação de arquiteturas baseadas em microsserviços, onde os aplicativos são desenvolvidos como um conjunto de pequenos serviços que se comunicam através de APIs privadas. Os microsserviços são gerenciados, implantados e provisionados de maneira independente, permitindo um escalonamento eficiente e econômico dos sistemas.
Redução de custos
As APIs contribuem para a redução dos custos operacionais por meio da automação de tarefas que exigem tempo, como envio de e-mails, geração de relatórios e compartilhamento de dados entre sistemas. Além disso, podem diminuir os custos de desenvolvimento ao permitir a reutilização de funcionalidades já existentes, evitando reinventar a roda.
Fortalecimento da segurança e governança organizacional
As APIs suportam diversos processos críticos para a segurança organizacional. Por exemplo, o login único (SSO), que permite aos usuários acessar vários sistemas com um único login e senha, é viabilizado por APIs. Elas também são usadas para impor e automatizar regras e políticas de governança corporativa, como a aprovação de despesas antes do reembolso aos funcionários.
Tendências das APIs para o futuro das empresas
A Sensedia, uma autoridade global em APIs e integrações, juntamente com Randy Heffner, um analista de software autônomo e especialista em APIs, publicou em Abril deste ano o relatório ‘Beyond the trend – Prevendo o futuro das APIs em 2023‘. Este estudo examina as melhores estratégias para APIs e negócios digitais, e a partir desta análise, projeta as direções prováveis que a indústria adotará ao longo do ano.
O relatório revelou seis tendências principais para as APIs em 2023. A busca de resultados levou o “Open Business” além das regulamentações, tornando-o uma prática comercial comum. A gestão de APIs está adotando cenários multi-gateway para auxiliar os desenvolvedores, com soluções de gerenciamento de API que expandem suas funcionalidades para atender ambientes multi-cloud. As APIs agora são fundamentais para a arquitetura de soluções, não apenas integrando, mas também sendo um componente integral de todas as ferramentas digitais do servidor de uma corporação.
A governança também evoluiu, surgindo como uma governança adaptativa end-to-end de APIs, flexível e alinhada ao portfólio de APIs para impactar diretamente nos resultados do negócio. As APIs e suas infraestruturas estão se beneficiando da engenharia de plataforma, permitindo uma separação mais clara entre design e desenvolvimento. Com o tempo, as APIs tornaram-se um pilar da eficiência corporativa, especialmente em um cenário incerto onde as empresas procuram tecnologia para impulsionar o crescimento. Por fim, o estudo destaca a necessidade de um alinhamento cuidadoso entre a cultura de negócios e a tecnologia para que as APIs não sejam vistas apenas como um recurso técnico, mas sim como um instrumento de capacitação da agilidade dos negócios.
As APIs se revelaram ferramentas poderosas e versáteis para as empresas, facilitando a integração de sistemas, aprimorando a eficiência operacional, reduzindo custos e fortalecendo a segurança. Elas criaram um ambiente de negócios mais conectado, dinâmico e competitivo, no qual as empresas podem compartilhar suas funcionalidades e informações de maneira mais eficaz e segura.
À medida que avançamos para o futuro, é provável que vejamos uma maior utilização de APIs em diversas áreas de negócios. À medida que as organizações continuam a se digitalizar e a globalizar, a necessidade de APIs para facilitar a comunicação e a colaboração entre sistemas distintos só aumentará.
Além disso, com o advento da Internet das Coisas (IoT) e de tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial (IA) e o Machine Learning, as APIs desempenharão um papel cada vez mais crucial na conexão e coordenação desses sistemas complexos. As APIs também continuarão a ser fundamentais para a segurança e governança de dados, à medida que a proteção de informações se torna cada vez mais importante.
As APIs transformaram a maneira como as empresas operam e se comunicam, e seu papel no mundo dos negócios continuará a crescer no futuro. As empresas que souberem como aproveitar ao máximo as APIs terão uma vantagem competitiva significativa em um mundo cada vez mais digital e interconectado.